Pequenas
Histórias (45)- Ano 1950
A Estréia do Imortal no Maracanã
A
Copa do Mundo está se aproximando; falta pouco mais de um ano e a final já tem
endereço certo: Estádio Mário Filho, o Maracanã, Rio de Janeiro. Ele que foi
inaugurado em 1950, tornou-se palco de um dos capítulos mais trágicos do
futebol brasileiro: o “Maracanazzo” protagonizado por Brasil e Uruguai em 16 de
Julho daquele ano. O franco favorito afundou diante do quadro Cisplatino e sua
legendária camiseta azul celeste. Mas a vida continuou e no 15 de Novembro, dia de seu aniversário, o Flamengo recebeu o Tricolor gaúcho para uma
partida histórica, isto é, pela primeira vez, um clube de fora do Rio de
Janeiro pisaria o gramado do “Colosso de Cimento” como era chamado o novo
estádio. Com arbitragem inglesa de Mister Dykes, os times subiram as escadarias
e em seguida, uma surpresa! O Grêmio vinha sem a tradicional camiseta de
listras verticais, mas com a reserva azul celeste tal qual a recém-campeã do
Mundo, Seleção Uruguaia. No “11” rubro-negro, um grande jogador do Imortal até
o ano anterior; Hermes Nunes da Conceição, que ganhara o apelido de Jacaré pelos cariocas e está na
foto acima com a camisa do clube da Gávea entre os seus ex-companheiros
gaúchos. A partida finalizou com o placar favorável ao Imortal; 3 a 1; assim
movimentado: Aos 19 minutos, Geada abriu o marcador, aos 36, Washington
empatou, 1 minuto após, Geada colocaria o Tricolor à frente, se não fosse o
erro de arbitragem que anulou o tento legal. Não adiantou muito, pois aos 43, o
mesmo Geada desviou do arqueiro Cláudio e Juvenal salvou na linha fatal, defendendo
com a mão. Penalti. Clori, que entrara há pouco tempo, bateu e definiu o
resultado na fase inicial. Aliás, o ingresso dele ocorreu tão cedo, porque o
violento lateral Bigode, lesionou gravemente o meia-atacante Gita, que ficara
“praticamente inutilizado para o futebol”, conforme o texto do Correio do Povo
de dois dias após. O jornalista chega a acusar o lateral de ser omisso na final
do Mundial, quando se “acovardou” à frente de Obdúlio Varela, lendário capitão
da Celeste e agora com a permissividade do juiz, batia à vontade. Prossegue a
revolta do jornalista, afirmando que o
atleta Gita era de família pobre; jogava futebol profissionalmente para pagar
seus estudos e de seu irmão menor no Instituto Porto Alegre (IPA). Encerrou,
dizendo que “Bigode era um caso de polícia”. No segundo tempo, a superioridade
do time sulino foi tão grande que os atacantes chegaram a fazer a zaga
flamenguista “dançar a conga” (expressão da matéria do CP). Aos 43 minutos, o
bageense Ballejo deu “cifras definitivas”, quando recebeu de Clori, após um
“shoot” potente desferido por Pedrinho que obrigou o goleiro Garcia a soltar a
pelota. Os destaques foram Clarel e Geada, o cerebral atacante, além do jovem Sarará,
egresso do quadro dos aspirantes. Os times formaram da seguinte
maneira: Grêmio de Sérgio; Clarel e Joni; Hugo, Sarará e Heitor; Ballejo, Gita
(Clori, depois Dirceu), Geada, Pedrinho e Gorrion. O Flamengo de Cláudio
(Garcia); Gago (Osvaldo) e Juvenal; Nélio, Dequinha e Bigode; Harry, Hermes,
Washington, Hélio e Esquerdinha (Eliezer). Como curiosidades da partida, temos
a presença de dois atletas que jogaram a fatídica decisão da Copa do Mundo e se envolveram no gol
de Gighia, Juvenal e Bigode, além de Hermes enfrentando o seu clube de coração.
Hermes foi outro atleta negro a vestir a camiseta tricolor nos anos 40, bem
antes de Tesourinha, que oficialmente marcou o fim do preconceito racial anos
mais tarde. Ballejo marcou o gol de número 3.000 da história do Grêmio e por
fim, o Imortal, além de ser o primeiro clube de fora do Rio a jogar no
Maracanã, também se tornou o primeiro vitorioso.
As Pequenas Histórias (1 a 43) foram repostadas, vide Marcadores Pequena Histórias.
As Pequenas Histórias (1 a 43) foram repostadas, vide Marcadores Pequena Histórias.
Sobre o Maracanã em si, apesar de ter ficado bonito o novo estádio, acho que perdeu-se muito do perfil histórico dele, seja com relação as arquibancadas, seja com relação a nova cobertura.
ResponderExcluirMas vale a "torcida" para que o novo estádio tenha sido, de fato, bem planejado e dure por décadas, atendendo o futebol nacional e outros esportes.
Verdade, Guilherme!
ResponderExcluirVocê sabe que além de professor de História, sou acima disto, historiador. Tenho vários livros sobre o futebol brasileiro e tenho esta mesma impressão; ou seja, perdeu-se muito da "aura" de "Colosso de Cimento, Templo Máximo do Futebol"; mas é o famoso "trem da vida".
"Ignora-se que a base gremista tem sido depredada ano após ano, que um trabalho sério só renderá frutos a longo prazo e que a promoção de forma açodada de garotos, muito longe de resolver os problemas, serão a justa causa da manutenção deste estado de coisas."
ResponderExcluirCalma, PJ. Lembra quem escreveu isso?