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sábado, 8 de outubro de 2016

Pequenas Histórias


Entre hoje e o dia da partida do Imortal contra o Atlético Paranaense, postaremos duas Pequenas Histórias sobre entre confronto. Segue a primeira:



Pequenas Histórias (136) - Ano - 1974


O Passado do Torturador




Em 1978, o Brasil dava indícios claros que a ditadura militar deflagrada em 64, não resistiria muito. Havia uma campanha pela anistia "ampla, geral e irrestrita", que se concretizou no ano seguinte, 1979.

No entanto, a Guerra Fria ainda movimentava muitos peões no xadrez mundial, especialmente nas Américas. A nossa, a do Sul, ainda estava minada de ditadores. 

Por aqueles dias, em Porto Alegre, a repressão uruguaia em conluio com agentes policiais brasileiros, sequestrou na rua Botafogo, bairro Menino Deus, dois uruguaios refugiados. A operação só não foi perfeita, porque repórteres da revista Veja, o jornalista Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo J.B. Scalco foram avisados e chegando ao local, se depararam com os inspetores João da Rosa, codinome Irno, e Orandir Portassi Lucas, que pertenciam ao quadro do delegado Pedro Seelig, o principal torturador no RS e assíduo frequentador do Beira-Rio, inclusive do vestiário colorado, onde tinha muitas amizades entre os craques vermelhos. Maiores detalhes, vide Ditadura e FutebolReconhecimento do Torturador e Pedro Seelig

Apesar do flagrante dos jornalistas, os uruguaios foram sequestrados, depois de torturados; conduzidos até o seu país, mas a história, apesar de sofrida e longa, teria um final feliz. J.B. Scalco era fotógrafo da revista Placar e reconheceu o homem que lhe apontou uma arma no apartamento de Lilian e Universindo, os uruguaios; reconhecia em Orandir, o ex-atacante colorado Didi Pedalada.

 Provavelmente, pela ligação do delegado Pedro Seelig com os jogadores do Inter, Didi tornou-se inspetor de polícia, depois de encerrar a carreira. Pela memória de Scalco, o novelo do sequestro começou a ser desembaraçado, os torturadores julgados e condenados num processo longo e cansativo.

Didi Pedalada começou no Guarani de Bagé e teve passagens pelo Inter e Atlético Paranaense, onde no mês de Março de 1974, desembarcou no Salgado Filho (na foto, ele está ao centro) para enfrentar o Grêmio no Olímpico pelo Brasileiro.

O Grêmio treinado por Sérgio Moacir faria um campeonato exemplar e se fosse o método de pontos corridos, teria posto a faixa no peito. Pois bem, o técnico utilizou naquele dia: Picasso; Everaldo, Ancheta, Beto Fuscão e Jorge Tabajara; Carlos Alberto, Humberto Ramos e Torino; Carlinhos, Tarciso e Bolívar (Loivo).

O Atlético Paranaense treinado pelo ex-zagueiro Waldemar Carabina, foi de: Altevir; Cláudio Deodato, Almeida, Alfredo e Ladinho; Toquinho, Caio Cabeça e Sicupira (Taquito); Nílton Batata, Liminha (Nilson) e Didi Pedalada.

O Tricolor começou pressionando, não dando chances ao visitante e o gol chegaria com muita naturalidade. Aos 9 minutos, após jogada de Jorge Tabajara e Tarciso, Bolívar arrematou sem chances para o arqueiro paranaense. O jovem ponta-esquerda gremista fazia grande partida nesses momentos iniciais, quase marcando logo aos 2 minutos num cruzamento de Carlinhos, porém, na metade do primeiro tempo, lesionou-se, dando lugar a Loivo. Antes, ainda serviria Tarciso que acertou um petardo na trave e, ele, mesmo, quase faria o seu segundo gol na partida num lance acrobático.

O Imortal ainda perdeu chances com Torino, Humberto Ramos e Loivo. Final de primeira fase: 1 a 0.

Logo a 1 minuto de segundo tempo veio o 2 a 0. Carlinhos arrematou, Altevir defendeu parcialmente, Tarciso chutou na trave e, finalmente, Carlos Alberto Rodrigues concluiu para as redes.

O Atlético teve uma única chance, mas Ancheta evitou o chute final. O Tricolor limitou-se a garantir o resultado, ficando o placar final em 2 a 0.

Didi Pedalada tem uma atuação apagada, sem uma única menção de seu nome na cobertura do jornal pesquisado. Apareceu apenas na escalação do clube paranaense.

Fontes: Textos e foto do Correio do Povo, além dos sites informados na crônica

  

4 comentários:

  1. Daison Sant Anna10/10/2016, 00:14

    GRÊMIO 2 X 2 BOTAFOGO
    Competição: IV Campeonato Nacional de Clubes - 1ª Fase - Turno Único - Grupo A - 19º jogo
    Data: domingo, 16/junho/1974

    Local: Estádio Olímpico, Porto Alegre
    Árbitro: Eraldo Palmerini (PR)

    Grêmio: Picasso; Everaldo, Beto, Beto Fuscão e Jorge Tabajara; Carlos Alberto, Humberto Ramos e Yura (Luíz Freire - 23 do 2ºT); Zequinha, Tarciso e Bolívar; Técnico: Sérgio Moacir Torres Nunes
    *Obs.: Grêmio atuou com camisas brancas.
    Botafogo: Jair Bragança; Edmílson (Nei Dias - 2ºT), Mauro Cruz, Osmar Guarnelli e Valtencir; Carlos Roberto e Ademir; Nílson Dias, Fischer, Puruca (Roberto Carlos - intervalo) e Parazinho; Técnico: Paulistinha
    Gols: Fischer 7 e Bolívar 35 do 1º tempo; Fischer 11 e Tarciso 22 do 2º tempo

    **Capa do Jornal Zero Hora: "GRÊMIO, CAMPEÃO DA FASE INICIAL" - EMPATE DE ONTEM A TARDE, NO OLÍMPICO, COM O BOTAFOGO, E A DERROTA DO FLAMENGO NA BAHIA TORNARAM O GRÊMIO CAMPEÃO DA FASE CLASSIFICATÓRIA DO NACIONAL. CAMPEONATO SÓ RECOMEÇA DENTRO DE DUAS SEMANAS.

    **Jornal Zero Hora - páginas 44/45: "O TIME DE SÉRGIO É CAMPEÃO, APESAR DOS GOLS DE FISCHER"

    **Jornal Zero Hora - página 47: "GRÊMIO, O MELHOR TIME DO NACIONAL"

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  2. Daison
    Mesmo trocando o treinador de 73 para 74, Froner por Sérgio Moacir, a "filosofia de jogo", cujo maior herdeiro foi Luiz Felipe, foi mantida. Defesas sólidas e times pegados.

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  3. Um bom exemplo disso, Glaucio, é a Seleção Brasileira que mudou com quase os mesmos nomes da Era Dunga.
    Tite conhece.

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