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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Pequenas Histórias




Pequenas Histórias (205) - Ano - 1973-1985

Tarciso, discretamente
 
Fonte:https://globoesporte.globo.com

O atleta que mais vestiu o manto gremista acaba de falecer. Uma surpresa. Ele foi discreto até nesse momento; a massa torcedora desconhecia a sua doença, com certeza. Não haverá minuto de silêncio nos estádios.
A minha relação com o ponta mineiro oriundo do América RJ é anterior a sua vinda para o Sul, como podem comprovar meus amigos de infância, o Alvirubro e o João Henrique (craques nos jogos de botão). O blog prestou em vida, uma singela homenagem ao Flecha Negra ano passado, vide Pequenas Histórias 173.
Tarciso juntamente com Atílio Ancheta e Yúra, esse Trio encarnou o protótipo da perseverança, da irresignação, do "levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima" do versos de Paulo Vanzolini. Atletas gremistas/Gremistas atletas; escolheram Porto Alegre para morar depois das chuteiras jazerem penduradas; desconfio que o amor pela instituição tem muito a ver com a decisão.
Fico com a sensação que não fomos justos com Tarciso. Adoramos Renato, De León, Dinho, agora Pedro Geromel, antes, Airton, mais remotamente, Lara, Luiz Carvalho, Telêmaco e Foguinho. Injustos com ele, Tarciso e também com Alcindo; o Flecha Negra e o Bugre Xucro. Faltou festejá-los mais em vida.
Nós, gremistas, parecemos não gostar de artilheiros. Esse duo é aquele que mais fez as redes adversárias balançarem. Um Negro e Um Índio. Eles consagram o “Somos todos Azuis, Pretos e Brancos”. 
O atacante sempre foi o mesmo: Leal, guerreiro, técnico e veloz, muito veloz! Uma Flecha.
Marcou mais de duas centenas de gols, o primeiro, lá em Fevereiro de 1973 na sua segunda participação pelo clube; o último, Abril de 1985. Fez vários em Grenais; muitos decisivos como naquele 3 a 2 diante da Ponte em Campinas em 1981, outros de muita categoria como contra o Flamengo em 1984 pela Libertadores, um 5 a 1 para Zagallo nenhum botar defeito; no entanto, o mais emblemático, o crucial, está localizado em uma confronto dramático no dia 21 de Junho de 1983, dia da estreia de outro atleta decisivo naquela conquista: Mazaropi.
O Grêmio encarou o Estudiantes de La Plata no Olímpico e precisava vencer, pois era quase uma "final" dentro do grupo. O clube argentino era campeão do seu país, possuía seis jogadores na Seleção, donos da velha catimba portenha, um time cascudo, enjoado e raçudo.
Ironicamente, ele, o atleta que mais jogara pelo Imortal naquele time, já com 32 anos, foi o último a garantir vaga entre os 11, aqueles do poster do título.
Espinosa utilizou: Mazaropi, o estreante; Paulo Roberto, Baidek, Hugo De Leon e Casemiro; China, Osvaldo e Tita; Renato, Caio e Tonho.
O Estudiantes do sucessor do mago Carlos Billardo, o treinador Eduardo Manera, usou: Bertero; Camino, Aguero, Brown e Gugnali; Russo, Ponce e Sabella; Trama, Trobiani e Gurrieri.
Logo aos  5 minutos, Osvaldo abriu o marcador. Melhor impossível, mas o adversário cresceu, não se intimidou e ainda na primeira etapa empatou com Gurrieri numa falha da defesa e de Mazaropi. Assim acabou o primeiro "round" do embate. 1 a 1.
Logo aos 12 minutos, Espinosa sacou Renato e colocou Tarciso; tomou uma vaia, ouviu os gritos de "burro", mas ele sempre teve estrela. Verdade que ela custou a aparecer naquela mexida, porém, aos 40 minutos, Caio faz jogada de "Garrincha" pelo lado esquerdo, cruzou e o Flecha Negra apareceu na primeira trave; com um movimento acrobático, bateu de chapa ainda no ar e "matou" o porteiro platense, 2 a 1. Um drama com final feliz. Ali, Tarciso ganhou a posição de Tonho. 
A vida se mostra irônica às vezes, ele que veio para ser camisa 9 em 73, virou ponteiro direito em 77, depois ponta- esquerda na Libertadores em 83 e no final do ano em Tóquio, conquistou o mundo jogando com a camisa 9, virando centro avante novamente com Renato e Mário Sérgio fazendo os lados do campo.
Tarciso se foi. Sai da vida discretamente, mas se um olhar mais detido cair sobre sua biografia, verificará que ele é o elemento que une as conquistas de André Catimba e Tadeu Ricci (1977), de Émerson Leão e Paulo Isidoro (1981), de De León e Tita (Libertadores-83) ou a de Renato e Mário Sérgio (Mundial-83). Uma trajetória de luxo construída com luta e serenidade.
Na pose definitiva , no poster de cada uma destas conquistas, agachado na ponta direita, no centro ou na ponta esquerda, está Tarciso. Discretamente.

Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
Segue compacto de Grêmio versus Estudiantes no Olímpico Monumental:



9 comentários:

  1. Homenagem mais do que justa, Bruxo!
    Lembrei-me do teu "Ameriquinha" e do caderno para anotação dos gols.
    Vão longe aqueles finais de semana!

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  2. Anos atrás, quando ainda bem criança, tive oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, estava ele presente em uma partida de algum gauchão da década de 90, no estádio Raul Oliveira, vulgo Zona Sul, casa da antiga Ser Santo Ângelo. Meu pai, que na época trabalhava como comentarista, ao final do jogo, chamou para pegar autógrafo. Uma pena que não tinha em mãos as capas dos discos de vinil, com as narrações das conquistas de 83.

    Tenho um certo remorso, já se foi Koff, agora Tarciso....todos "aqui ao lado"....e deixei passar a chance de colher suas rubricas...

    Fica a lembrança carinhosa daquele dia, e um desejo de conforto à família.

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    1. Glaucio! Eu morava em Porto Alegre na década de 80 e o Pelé estava no antigo Cinema São João, ali na Salgado Filho promovendo um filme sei. Eu fiquei há uns 10 metros do cara e ele dando autógrafo. Não tive coragem de chegar perto do meu ídolo. Abraços

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    2. CHê, o MAZAROPI! Morou quase um ano aqui.....outro que deixei passar

      Mas em 2018 vou dar um jeito de pegar a assinatura do Renato nos discos.

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    3. De preferência, antes do tetra.

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  3. Daison Sant Anna06/12/2018, 22:12

    campeão do Brasil, da América e do Mundo. Ao lado de Paulo Roberto, China, De Leon (como titulares) quem fez isso representando a dupla Gre-Nal ?

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  4. E para os mais antigos, o maior título sentimental, o de 77. Esse é tão importante, quanto o Mundial.

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