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sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (208) - Ano - 1974


A Façanha do Encantado

Fonte: Correio do Povo

Este final de semana aponta para o início de mais um Gauchão. Sinceramente, alguém lembra de alguma estreia do Imortal? Difícil, não é? Salvo um fato peculiar, uma experiência pessoal ligada ao primeiro jogo, de resto, ninguém recorda. Eu mesmo, nem daquele inesquecível campeonato de 1977, não lembro contra quem começou a epopeia que culminou com o título em 25 de Setembro daquele ano. Viram? Sei até a data daquela cambalhota de André Catimba, após balançar as redes de Benitez; já da primeira rodada...

Pois, por incrível que possa parecer, eu lembro de uma estreia; foi na edição de 1974, mais exatamente, Agosto, primeira semana; aliás, período em que o mundo inteiro tinha os olhos voltados para Washington DC, pois Richard Nixon já admitia renunciar diante do escândalo Watergate, fato que se concretizou no dia 9.

No 4, o Regional marcava na primeira rodada, uma aparente barbada para o Tricolor; pegar o estreante em primeira divisão, E. C. Encantado da cidade de mesmo nome,  pequeno município que hoje, passado quase meio século, está com pouco mais de 22 mil habitantes. Aliás, esta foi a sua única participação na série principal do futebol gaúcho.

O Grêmio vinha de um excelente Brasileirão, onde perdera apenas 4 partidas em 24 disputas, infelizmente, a fórmula do certame o derrubou: Perdeu uma que não poderia, a partida em casa contra o Santos no mesmo final de semana em que se decidiu a Copa do Mundo lá na Alemanha.

O Brasileirão se encerrou num jogo extra, polêmico, três dias antes de Grêmio versus Encantado, o Vasco derrubou o favorito Cruzeiro no Maracanã, apesar da melhor campanha do clube mineiro. 

Para a estreia, o treinador Sérgio Moacir viu seu setor defensivo desfalcado de dois craques: Ancheta e Everaldo, o que, à princípio não era problema, afinal, todos estavam preocupados com a melhor forma de "furar a retranca" do pequeno time do interior do Vale do Taquari.

Naquela tarde, o Grêmio entrou em campo com: Picasso; Cláudio Radar, Beto Bacamarte, Beto Fuscão e Jorge Tabajara; Carlos Alberto, Yúra e Torino; Carlinhos, Tarciso e Loivo. Entrariam ainda, o ponta de lança Luiz Freire no lugar do lateral Cláudio e Humberto Ramos, um armador no lugar do volante Carlos Alberto Rodrigues, deixando o time muito ofensivo.

O Encantado do técnico Marcos Garcia mandou a campo: Franck; Coti, Valdir, Ronaldo e Betinho; Rui Bandeira, Nana e Clóvis; Malomar, Ênio Fontana e Soares. Celso entrou no lugar de Nana e João Ferri no de Malomar., substituições notadamente para reforçar a defesa.

Este time era recheado de juvenis do Inter (Nana, Clóvis, irmão de Cláudio Duarte, Soares), também por Rui Bandeira, ex-Esportivo, Celso que jogaria depois no Caxias com Luiz Felipe, repetindo o meio de campo, Clóvis, Celso e Nana.

José Luiz Barreto, juiz com histórico infeliz em jogos do Grêmio, no início da partida deixou de marcar penalidade máxima sobre Loivo. Na segunda etapa acabou expulsando dois atletas dos visitantes mais Humberto Ramos. Gerou reclamações de ambos os lados.

O Encantado surpreendeu o Tricolor fazendo 3 a 0, gol de Nana aos 31 minutos, Soares cobrando falta numa falha do arqueiro Picasso, ampliou para 2 a 0 e o placar da primeira etapa foi fechado aos 47, quando o ponta Malomar entrou pelo meio, batendo os Betos (Bacamarte e Fuscão) e colocando tranquilamente para as redes gremistas,  definindo a goleada. 3 a 0.

Sérgio Moacir que em toda a sua longa carreira pelo Grêmio tomara três ou mais gols em apenas 8 vezes, ficou possesso e o vestiário azul foi sacudido.

Voltando, o Tricolor descontou com Tarciso aos 13 minutos, já com uma desorganização tática bem visível como na foto acima onde aparecem na área adversária, o zagueiro Beto Bacamarte tentando o cabeceio e o volante Carlos Alberto observando; Tarciso está encoberto; o juiz aparece ao fundo.

Por volta dos 20 minutos ocorrem as expulsões. O Encantado se fechou por cansaço e inferioridade numérica.

A expressão "aluga-se meio campo" foi materializada no último quartel da partida. Só o Tricolor atacava.

Aos 37 minutos com muito desespero, Yúra num cabeceio, descontou. 3 a 2.

O vexame maior foi evitado nos minutos adicionais, mais exatamente, aos 46, quando Loivo acertou um petardo com seu poderoso pé esquerdo. 3 a 3 e uma comemoração semelhante a conquista de um título.

Esse confronto eletrizante é o único que tenho na memória, assim, de pronto, das muitas estreias do Imortal nos Gauchões da vida.

Fonte:  Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
             Jornal Correio do Povo
             https://timesdors.blogspot.com/






18 comentários:

  1. Belo resgate do confronto, Bruxo!
    Tempo do Gauchão "pegado".
    Era uma epopéia ganhar no Olímpico e no Beira-Rio.
    Os times vinham fechadinhos e arriscavam o mínimo possível.

    Os quatro principais jogadores citados por ti, tiveram uma carreira interessante:

    Nana - Internacional, Encantado, Associação Caxias, SER Caxias, Joinville.
    Rui Bandeira - Gremio, Gloria, Palmeirense, Atletico-CAR, Avenida, Esportivo, Assoc. Santa Cruz, Encantado, Associaçao Caxias, SER Caxias.
    Clóvis - Internacional, Encantado, Colorado-PR, Ypiranga, Associaçao Caxias, SER Caxias, Joinville, Juventude, Novo Hamburgo, SER Caxias.
    Soares - Internacional, Encantado, Internacional, Juventude, 14 de Julho-PF, Sao Paulo-RG, Marcilio Dias, Novo Hamburgo, Pelotas.

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    1. O grande nome do Encantado era o centroavante Ênio Fontana.

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    2. Ótimo atacante, que andou por Encantado, Santa Cruz, Glória, Atlético-Car, Tamoyo, Ypiranga, Lajeado, Brasil-Pel e Joaçaba-SC.

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  2. Se não me engano, O goleiro passou pelo Inter,antes do Encantado e Juventude, depois.

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    1. O Franck surgiu em Santa Catarina, na segunda metade dos anos 60. Passou realmente pelo Juventude. Também pelo Esportivo. Não tenho histórico dele no Internacional.

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    2. Tu lembras de um jogador de apelido Mickey, que jogou no Encantado, em 1974? Surgiu em Santa Catarina e acabou vindo para o Internacional. Jogou na AESA, no São Borja e no Brasil-Pel. Acabou voltando para Santa Catarina, em 1978.

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    3. Não, não lembro. Era atacante? Pelo nome, acho que sim.

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    4. Era meia-atacante! Chegou atuar em 1973, pelo Internacional, época do Dino Sani. Depois jogou pelo Interior do RS.

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  3. Não parece, mas a proeza do time do Encantado, ao marcar três gols, no 1º tempo, dentro do estádio Olímpico, é algo para poucos clubes. Em mais de 1500 jogos pelo Gauchão, o Grêmio sofreu três gols ou mais, nos seus domínios, apenas 23 vezes. Descontando os cinco jogos contra o Internacional, houve 18 partidas em que os adversários conseguiram marcar três gols ou mais, na defesa gremista.
    Os 3x0 do Encantado, no 1º tempo, igualou uma marca do GA Farroupilha, em 1961. Os pelotenses fizeram 3x0. No 2º tempo, o Grêmio descontou. Em 1997, o Brasil-Pel arrancou com um 3x0, marcados no 2º tempo. O time gremista conseguiu diminuir a diferença de gols e o placar foi 2x3.
    A maior goleada sofrida foi justamente na primeira disputa, em 1919: 1x5 contra o Brasil-Pel. Em 2018, o time da SER Caxias conseguiu igualar o feito do Brasil-Pel e marcou cinco gols no time B, do Grêmio. O placar foi diverso: 3x5, na Arena. Embora em campo fosse um time totalmente diferente do Grêmio dos últimos títulos importantes, na estatística do Gauchão ficará marcado o feito dos caxienses.

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  4. Esse 3 x 5 vai apenas para a estatística, porque o time Tricolor era um arremedo.

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    1. Time B. Olha, eu sou muito crítico sobre o uso de times totalmente descaracterizados em eventos oficiais, em que os times principais participam. Em todo o caso, cada clube / dirigente sabe o que é mais importante, no momento.

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    2. Com a vitória de hoje (4 a 0 no Nóia), fica evidente que o Grêmio errou muito em situações idênticas nos anos anteriores.

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    3. Perfeito! Sem falar na exposição de bons valores, que muitas vezes sem o devido preparo psicológico, ficam pressionados a dar uma boa resposta, pois as chances se limitam a momentos como esses. Guri da base, se coloca no meio dos cascudos, para dar suporte. Mas tu conheces algumas ideias, né? Às vezes é melhor queimar logo o guri, pois assim ele não vai incomodar o bruxinho.

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  5. Alvirubro, nos 3 jogos no mesmo dia em 1994 o Danrlei defendeu 2 pênaltis, verdade?

    Rafael.

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    1. Rafael, o que eu tenho é o seguinte:
      No primeiro jogo, entre Grêmio e Aimoré, Aládio bateu pênalti e Murilo defendeu.
      No segundo jogo, entre Grêmio e Santa Cruz, Agnaldo marcou de pênalti para o Grêmio e errou outro pênalti.
      Desconheço pênalti a favor do Santa Cruz e nem defesa de Danrlei.
      No último jogo, o goleiro foi Aílton Cruz. Não consta que houve pênalti no jogo.

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  6. Tens a como postar a lista de pênaltis defendidos pelo Danrlei no tempo normal?

    Rafael.

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  7. Alvirubro tens a lista do Danrlei? Sei que defendeu 1 em 1994 e 2 em 2003. Tens a lista completa?

    Michel-SC.

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    1. Rafael e Michel, não costumo publicar listas por um motivo simples: elas estão sempre em atualização, devido a novos achados.
      Quem pesquisa futebol, sempre tem alguma novidade para complementar algum dado.
      Portanto, sempre vou evitar a publicação de listagens diversas.
      O motivo é que, assim, evito a propagação de informação pela metade ou incompleta.
      Quem futuramente achar uma lista publicada e, eventualmente, comparar com outras existentes, poderá ficar com dúvidas sobre qual a correta.
      Quanto a tua informação que Danrlei, atuando pelo Grêmio, teria defendido um pênalti em 1994 e dois pênaltis em 2003, sim, foi isso mesmo que ocorreu.
      Abraço!

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