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sábado, 6 de junho de 2020

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (235) - Ano - 1975


A Marca da Crueldade



Sem dúvidas, o futebol é um recorte da sociedade. Em seu universo transitam emoções idênticas à vida fora dos estádios. São várias: alegria, tristeza, paixão, ódio, solidariedade, ganância, amor, etc...

Tem também, a crueldade. Ela existe em menor escala, é verdade, porém, quando emerge à vista de todos, traz um sentimento de revolta profundo. Geralmente, ele está associado a covardia ou omissão, quando não juntas. 

Há casos de condenação coletiva à jornadas pessoais infelizes, onde a responsabilidade é de quem contrata ou escala. São atletas de condição inferior às necessidades do clube e numa hora, a insuficiência vai ser desvelada e eles serão jogados aos leões com se estivessem num coliseu, numa arena faminta, onde o desfecho de uma infeliz participação no evento será o pior possível.

Paciência! Não se trata de injustiça plena, mas de más escolhas de quem dirige ou aposta na empreitada.  São peões num jogo de xadrez.

Mas existem situações em que a crítica e especialmente, a execração definitiva se constituem (aí, sim) numa crueldade, o veredito implacável e irrecorrível, a sentença súbita sem um julgamento antes de os ânimos serenarem.

Ouvi de meu pai o estigma que o goleiro Barbosa carregou a existência inteira pelo "Maracanaço" em 1950 e eu presenciei o episódio que vitimou o bom lateral Cláudio Radar. Um Grenal devastador para a sua carreira.

Cláudio (na foto, o segundo em pé) era da base gremista, jogava nas duas laterais; não era um guri, quando atuou naquele 13 de Julho de 1975, mesmo assim, foi "emboscado" pelo esquema vermelho de três contra um; onde ele, na minha visão de torcedor adolescente, foi pego numa tocaia armada pelo estrategista Rubens Minelli com suas peças, Vacaria, Paulo César (Carpegianni) e Lula. Eles tomaram de assalto o lado direito da defesa gremista e em 13 minutos aprontavam um 2 a 0, gols de Flávio que reestreava depois de oito anos longe do Rio Grande e Paulo César. Isso, dentro do Olímpico. Era demais para a massa azul.

De nada valeram como justificativas, a ausência do principal defensor gremista naquela tarde, Ancheta e a reação encetada pelo Tricolor com a grande jogada de Zequinha que culminou no gol contra de Falcão, 5 minutos após o segundo revés; nem a pressão forte da etapa final, quando o Imortal encaixotou o tradicional rival, sendo merecedor de um resultado mais razoável. O público já tinha o veredito.

51 mil pessoas assistiram e muitas delas elegeram Cláudio Radar pela derrota e perda do turno. 

O lateral foi afastado do time e no ano vindouro, seguiu a vida noutro clube.

Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro




9 comentários:

  1. Lembro bem desse clássico. Estava tudo se programando para uma avalanche sobre o time gremista, já no 1º tempo.
    Mas o futebol sempre está nos provando que não existem jogos fáceis. O velho Enio Andrade soube ajustar o time para o segundo tempo.

    O peso da atuação no GRENAL tirou Claudio Radar do time. No jogo seguinte, frente ao Santa Cruz, Beto Fuscão foi improvisado como lateral direito.
    Dez dia depois, no "GRENAL do ZEQUINHA", Enio Andrade teve a volta de Ancheta e colocou Vílson na lateral direita.
    No Beira-Rio, o Grêmio quebrava uma série invicta de 17 clássicos do time colorado.
    Parece pouco, mas não foi: a última vitória tricolor em clássicos, havia sido um idêntido 3x1, dentro do mesmo Beira-Rio, em 1971.
    Mais: o GRENAL dos 3x1 serviu para quebrar uma invencibilidade de 38 jogos do Internacional, naquele ano de 1975.

    Nos anos 60 e 70, o GRENAL foi uma espécie de triturador de carreiras de bons jogadores.

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    1. Alvirubro
      Esse Grenal do Zequinha foi muito especial para os gremistas, justamente pelos 3 anos e meio sem vitórias em clássicos.
      Grenal noturno e no Beira-Rio.

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  2. Eu lembro! No dia seguinte ao clássico, tudo parecia meio um sonho, eheheheh...Um time acostumado a ganhar tinha tomado três e além disso viu o Grêmio desfilar em campo. Eu estudava à tarde e a corneta dentro da aula pegou até o final do dia.

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  3. Fomos, eu, pai e o meu irmão, até o final das programações esportivas; acho que foi até às 2 da manhã e a minha aula começava às 7 e 25 h.

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  4. Bah, essa de entrar madrugada a dentro ouvindo o pós-jornada...acompanhando de um vinho ou cerveja, muito o fiz...ou por raiva em alguma derrota, ou por regozijo em alguma vitória.

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  5. Glaucio
    Este lembro bem, porque foi uma das primeiras vezes que tomei vinho com meu pai.

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  6. Vocês são muito velhos mesmo, eu nem tinha nascido em 1975.....kkkkkkkkkk

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  7. André
    A vantagem é que dá para mentir um pouco; imagina você com mais de 50 anos, contando histórias e os vídeos te desmentindo, kkkk

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