Pequenas Histórias

Pequenas Histórias (239) - Ano - 1972

Oriundo ou Nativo?

Fonte: Correio do Povo

Grêmio e Caxias decidem o campeonato gaúcho deste ano e eu tenho muitas lembranças do clube da Serra, desde quando ele se chamava Flamengo e o seu estádio era a Baixada Rubra, mais tarde, transformado em Centenário.

Uma dessas recordações remete ao distante ano de 1972, mês de Fevereiro, dia 20, um Domingo, quando a Festa da Uva, tradicional evento de Caxias do Sul, à época, só perdendo em importância para o Carnaval carioca no turismo brasileiro, foi escolhida não por acaso por Higino Corsetti, ministro de telecomunicações, um caxiense, para ser a primeira transmissão em cores da televisão brasileira.

Dentro deste evento, um jogo; Grêmio versus Associação Caxias, esta, uma fusão entre o Flamengo e Juventude que durou alguns anos. Como se sabe, após a dissolução, um voltou a ser Juventude, o outro, Flamengo virou Caxias. Assim, esta partida tornou-se a pioneira em jogos coloridos via tevê no país. Um zero a zero muito chato. 

Naquele início de ano, o Tricolor andava em busca de mais sangue platino para o time que tinha o uruguaio Anchetta desde Outubro do ano anterior, então, veio o argentino  Alfredo Oberti, mas ele queria mais. Acontece que a legislação só permitia dois estrangeiros nos clubes. Pensa daqui, pensa dali, o Grêmio descobriu um "hermano" nascido no Rio de Janeiro: o volante Dacunto (vide a foto, o da esquerda), filho de um craque argentino, também com o nome de guerra de Dacunto que brilhou no Vasco da Gama, Palmeiras e Santos, isso, nos anos 40.

A proposta, hoje, soa jocosa, isto é, ele teria 20 dias para demonstrar suas qualidades; na prática, dois ou três jogos, no máximo. A primeira, um 3 a 1 contra o Newell's Old Boys (estreia dele mais Oberti e Mazinho, desconfio que de Deca, também, os da foto acima), ele saiu jogando. A segunda seria essa da Festa da Uva, quando iniciou no banco de reservas.

Otto Glória, mítico treinador luso mandou a campo: Deca; Espinosa, Anchetta, Beto Bacamarte e Everaldo; Jadir e Torino; Flecha, Oberti, Mazinho e Loivo. Entraram Dacunto e Caio (Cabeça).

Pedro Ário Figueiró utilizou:Nadir; Luis Alberto, Roberto, Antônio Carlos e Paulinho; Zangão e Ênio Chaves; Sídnei, Osmar, Fernando e Tecchio.

Como disse; foi uma partida sonolenta que não agradou a ninguém que gosta de bom futebol. Pior para Dacunto que entrou numa roubada. Verdade que não jogava nada.

Mesmo assim, esse episódio me rendeu algo positivo, porque, lá em casa, a gente comprava toda a semana a revista Placar que fez uma reportagem sobre a vinda de Dacunto, onde "mancheteava": Dacunto: oriundo ou nativo? Olhei a manchete e eu, um guri de 12 para 13 anos, não sabia o que era "oriundo", nem o porquê da sua confrontação com o significado "nativo". Lógico, recorri ao dicionário e aprendi. 

Na reportagem, Dacunto se explicava: - Yo soy carioca. Nací en la Zona Sur. Estoy emocionado por jugar por la primera vez en mi tierra.

No primeiro treino, ele foi péssimo, dizia a reportagem assinada pelo jornalista Divino Fonseca. Seu clube, o Los Andes, pedia Cem mil cruzeiros, um valor considerável, portanto, suas chances de atuar no Brasil eram remotas.

Não ficou. Acrescentou seu nome à extensa lista de platinos e sul-americanos em geral, que não vingaram no Grêmio.

Fonte: Correio do Povo

            Revista Placar

            Arquivo pessoal do amigo Alvirubro

PS: Pois, o amigo Alvirubro localizou a reportagem da Placar; note o erro da nacionalidade de Anchetta (ele é uruguaio)