Pequenas Histórias (286) - Ano - 1993
"Onde Ele pisa, não nasce Grama"
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Goleiro, antes de tudo, deve ter resiliência. Suas falhas serão sempre as mais lembradas entre todos os atletas em campo, mesmo que a bola desvie num outro jogador ou o traiçoeiro morrinho artilheiro dê seus ares inesperadamente e como um duende zombeteiro, direcione a pelota para o fundo das redes, além, é claro, dos seus próprios erros, que são superdimensionados na comparação com aqueles cometidos pelos "da linha".
Evidente! Manga também sofreu decepções no arco, uma delas, um pecado capital: falhou em jogo de Copa do Mundo, 1966 na cidade de Liverpool, diante de Portugal. Era a sua estreia naquele torneio e o Brasil consolidou a sua pior participação nos últimos 60 anos. Caiu na fase inicial.
Moacir Barbosa, melhor arqueiro de sua geração, morreu sem ser absolvido por uma hipotética culpa na derrota no Maracanã em 1950. Um crime que teve ares de racismo, inclusive.
Vejam que estamos tratando de dois gigantes de suas épocas. Dois fenômenos.
No dia 20 de Setembro de 1970, feriado gaúcho, eu e minha turma de rua jogamos um Grenalzinho de futebol de salão, hoje, futsal, na quadra da Igreja do bairro. Havia outro Grenal, o quente, que foi vencido pelo Coirmão no Beira-Rio, 2 a 1 com uma suposta falha do arqueiro Breno em cobrança de falta do "meio da rua". Ele ficou marcado pelo lance, infelizmente. Foi uma derrota de virada.
Em 2002, após ser eleito o melhor jogador da Copa do Mundo, escolhido antes da final, Kahn, goleiro alemão, "bateu roupa", soltou nos pés ágeis de Ronaldo a bola que começou a dar ao Selecionado de Luiz Felipe a sua quinta conquista. Nenhuma imagem da biografia de Oliver Kahn é tão lembrada quanto esta.
Há 30 anos, portanto, 1993, Fábio Koff remontou o elenco gremista, o clube vinha de uma Série B, aliás, qualquer semelhança com 2023, não é mera coincidência, pois o Grêmio precisava renascer. Ele buscou vários reforços como os defensores que passaram pela Seleção, Winck, Paulão, Geraldão.
Trouxe Dener, trouxe Charles, trouxe Pingo, trouxe o ponta Fabinho. Quem mais? dois Eduardos, um goleiro, outro, lateral esquerdo do Fluminense. Desse jeito, tiveram acrescidos aos nomes iniciais, Heuser e Souza, respectivamente.
Eduardo Heuser, gaúcho de Santa Cruz do Sul, na Copa do Brasil daquele ano, vinha salvando o Tricolor, em especial, contra o Palmeiras, depois, contra o Flamengo e assim, ajudou a levar o Imortal à decisão contra o Cruzeiro.
O primeiro embate ocorreu num Olímpico sem condições de jogo, uma chuva torrencial impossibilitou a sua prática, mas o árbitro Márcio Resende de Freitas, mineiro, deu aval para o confronto se realizar. Qual o único placar que poderia ocorrer? 0 a 0.
No jogo da volta, Mineirão lotado, juiz gaúcho, Renato Marsiglia, o Cruzeiro ganhou por 2 a 1 e o grande goleiro gremista teve a sua falha histórica. Um chute que entrou pelo meio de suas pernas.
Tudo o que ele realizou anteriormente na campanha gremista desmanchou-se como um passe de mágica e Eduardo viveu o seu drama, o seu dia "não", o mesmo que viveram Manga, Barbosa, Breno, Kahn e tantos outros.
Ser goleiro é como andar no arame do circo vários metros acima do chão ou ter que confiar no trapézio como faz um equilibrista destemido.
Acima de tudo, é ser um incorrigível sonhador.
Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
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