Pequenas Histórias (52) - Ano 1974
Perdendo para o Formulismo
Como todos os gremistas sabem, nossos títulos no Brasileiro aconteceram com as regras do "formulismo", 81 e 96, mesmo assim, gosto dos pontos corridos por ser mais justo, ainda que, às vezes fique desinteressante para a maioria dos concorrentes.
No meu caso, um fator menos determinante, é verdade, mas que me marcou muito, reforça esta opinião. O Brasileirão começou em 1971 com a regra do "formulismo", havia fases de pontos corridos, depois outras e por fim o confronto em triangulares ou finais. Atlético Mineiro (71) e Palmeiras (72 e 73) foram as melhores equipes, pontuando mais do que os outros, o que por linhas tortas, resultou em justiça. Porém em 1974, o melhor time, maior pontuação, maior número de vitórias e o segundo com menos derrotas, o Grêmio, acabou ficando num modesto 5º lugar, obscurecendo o excelente trabalho do time do técnico Sérgio Moacir Torres Nunes, que dava continuidade a Carlos Froner, este que no ano anterior seria o vice-campeão, se valessem os pontos corridos.
Com forte esquema defensivo, ganhando seus jogos, geralmente pelo escore mínimo, o Imortal ganhou sua chave, a 1, com 30 pontos em possíveis 38 (as vitórias valiam 2 pontos cada), 14 vitórias, 2 empates e 3 derrotas, numa chave de 20 clubes. Havia dois grupos; ninguém atingiu tal pontuação.
Na sequência, os clubes classificados foram divididos em 4 chaves de 6 equipes, onde apenas 1 se classificaria para o quadrangular final.
O Tricolor perdeu apenas 1 partida, justamente no Olímpico, num sábado, véspera da final da Copa do Mundo, ganha pela Alemanha que surpreendeu a favorita Holanda. Pois bem, o Santos ganhou com gol de Cláudio Adão, um centro-avante, ainda guri que seria o último parceiro de Pelé no time da Vila Belmiro.
Aquela derrota me marcou muito; tinha 15 anos e o time tricolor era um relógio, tremenda a previsibilidade de suas boas atenções, um grande senso coletivo, onde não havia um craque como veremos abaixo, mas um trabalho "comunitário" como poucas vezes vi.
A base era: Picasso, Everaldo, Beto Bacarmate, Beto Fuscão e Jorge Tabajara, Carlos Alberto, Iúra e Humberto Ramos; Zequinha, Tarciso e Loivo. Além deles, Anchetta, Cláudio Radar, Orcina, Torino (foto), falecido recentemente, Luiz Freire, Carlinhos, Luis Carlos, Mazinho, Ivanir e Bolivar.
Como dá para observar, o forte era o coletivo; o calendário mais racional, permitia a utilização de poucos jogadores e realçava o entrosamento do grupo.
Algumas curiosidades: Everaldo foi lateral direito em sua derradeira temporada, morreria num acidente de carro naquele ano. Anchetta passou um bom tempo lesionado, justamente na sua melhor fase; no ano anterior havia ganho a Bola de Ouro como o melhor jogador de 1973. Zequinha revezou a ponta-direita com Carlinhos que fazia muitos gols. Bolívar, o pai, estava iniciando carreira nos profissionais.
O campeão, Vasco em 28 jogos fez 36 pontos, o vice, Cruzeiro, 38 nos mesmos 28 jogos e o Imortal, 38 pontos em apenas 24 partidas. Grêmio x Vasco foi 1 a 0 no Olímpico, gol de Tarciso aos 44 minutos do segundo tempo.
Num campeonato em que perdeu apenas 4 confrontos, obteve 18 vitórias contra 12 do campeão, 14 do vice, 13 do terceiro lugar e 12 do quarto lugar, com quatro jogos a menos; viu escapar o título num sábado, véspera de final de Copa do Mundo.
Enfim, as regras foram postas antecipadamente, mas que aquela perda foi difícil de digerir, isso eu não tenho dúvidas.
Leonardo
ResponderExcluirBruxo: Excelentes lembranças desse time valoroso do Grêmio! Eu tive a oportunidade de entrar no campo do Estádio Morenão como "mascotinho" dessa equipe em um jogo do Grêmio contra o Comercial em 1973 em Campo Grande-MS. O Comercial estava fazendo um grande campanha e tirava pontos de grande clubes, incluindo uma vitória contra o Santos do Pelé (que levou um chapéu do meia Ivo Sodré). O jogo foi pegado e o Grêmio, infelizmente, foi derrotado 1X0, com um gol do atacante Gil (que mais tarde foi jogar com o Rivelino no Fluminense e foi convocado para a seleção brasileira). Meu pai me deixou no Hotel e eu fui e voltei no onibus junto com delegação. O Bolivar era o mais brincalhão do grupo. Recordo o aquecimento no vestiário com o Loivo fazendo uma sequencia de embaixadinhas de "trivela". Na volta todo mundo triste e o ônibus selencioso, com se eles tivessem perdido uma Copa do Mundo. Acho que o Everaldo e o Iúra estavam machucados e não viajaram para o Mato Grosso. O time daquela noite foi: Picasso, Jorge Tabajara (improvisado na direita), Beto Bacarmate, Beto Fuscão e Bolivar, Carlos Alberto, Mazinho e Humberto Ramos; Carlinhos, Tarciso e Loivo.
Leonardo!
ResponderExcluirSensacional esta tua história. Uma remete a outra. Esse Ivo Sodré, eu era piá e ouvia campeonato carioca (Guanabara) e ele jogava no São Cristóvão. O Gil, se não me engano começou de centro-avante no Vila Nova de MG. Virou ponta aí.
Aliás, sobre o Gil tem uma historinha interessante que eu não sei se é verdade:
O Flecha, ex-ponta do Grêmio, jogava no América RJ e fora convocado para a Seleção nos anos 76,77. A Copa seguinte, 78, seria na Argentina. E o Flecha consultou uma cigana para saber o seu futuro; a cigana disse que o ponteiro da Seleção na Copa se chamava Gilberto Alves, nome dele; o que o deixou mais confiante. Veio a Copa e ele ficou de fora. Quem foi? O Gil, cujo nome também é Gilberto Alves.
Bruxo
ExcluirExatamente! O Ivo Sodré era um meia a moda antiga que jogava no São Cristóvão do Rio. Ele se destacou no campeonato de 1972. Eu também ouvia o campenato carioca (Taça Guanabara) pela Radio Globo (um tempo com o Valdir Amaral e um tempo com o Jorge Curi/Khoury). Conta a lenda que o Ivo Sodré só aceitou ir para o Comercial-MS se incluissem um carro modelo Galaxie (zero km) nas luvas. O time tinha ainda o zagueiro Moraes (que foi mais tarde para o Cruzeiro) e o Copeu (ex-Palmeiras). A grande revelação foi realmente o Gil que jogava muito e tinha muita força fisica e explosão. O Grêmio deveria ter contrado ele depois daquele jogo! Eu não sabia dessa história do Flecha. Mas, eu virei Americano 'adotivo' naquela época por causa do time com vários ex-gremistas incluindo o Flecha, Alex (zagueiro) e o Ivo, e o América-RJ contava também com o Orlando Lelé, Braulio (ex-colorado) e Luizinho Tombo.
Além do grande zagueiro Alex, alemão naturalizado que veio pequenino para São Leopoldo, jogou no Aimoré e foi pro "Mecão". Grandes lembranças.
ExcluirSempre lembro dos versos da música do Francis Hime com o Cacaso:
"...Sou pequeno feito conta,
bem menor que grão de areia,
minha terra é minha infância,
onde estou é meu exílio..."
Sigo exilado.
me entusiasmei: ... bem menor que Grão de Milho..."
ExcluirÉ o Alzheimer!!!
ResponderExcluirTu lembraste do Alex, of course, mas tinha o Djair que aqui chamavam de Bejeja (Guarani de Bagé),goleiro Alberto, Sarão, além do Taquito, paulista que passou pelo Grêmio. Time do Tadeu Ricci.
O Jorge Cury/Waldir Amaral foram os melhores narradores esportivos que ouvi. Davam apelidos carinhosos como "Paletó Velho" pro Zanata, "Dr. Jivago" pro Nei Conceição e acho que também foi um deles: Dinamite para o Roberto do Vasco.