Pequenas Histórias (58) - Ano 1920
O Craque Imortal
Os versos de Lupicínio Rodrigues criados em 1953 definiram para sempre a dimensão que tem Eurico Lara Fonseca, um uruguaianense nascido em 24 de Fevereiro de 1897 na história do Grêmio Porto-alegrense. Defendeu o arco tricolor por 16 temporadas, 15 anos.
Depois de atuar por Militar e Uruguaiana, ambos da cidade fronteiriça, o gigante de 1,87 cm e 77 Kg veio ainda que contrariado, residir na capital dos gaúchos, transferido dentro do Exército. Dizem que a direção do clube da Baixada provocou sua remoção, conseguindo assim reforçar o time com o melhor goal-keeper da época.
Lara (foto) fez sua estreia em 15 de Junho de 1920 com 23 anos, na Baixada contra o Juventude de Caxias do Sul com uma vitória de 3 a 0. Era o início de uma carreira exitosa de grandes títulos.
O jornal A Federação do dia seguinte, à página 2 fez detalhada reportagem sobre o prélio, que aproveito para, às vezes, reproduzir fielmente (com a grafia da época) passagens do confronto.
A partida começou rigorosamente às 16:00 h e as equipes formaram assim: o Grêmio de Lara; Assumpção e Jorge Py; Rodolpho Costa, conhecido como Costinha, Dorival Fonseca e Moreno; Oscar Gertum, Bruno Cossi, Lagarto, Máximo Laviaguerre e Ramão, também chamado de Ramãozinho ( nove deles estão na segunda foto). O Juventude de Nicolau; Bortogaray e Bado; Muratore, Luise e Menegatto; Gregollo, Edmor, Martinez, Zanella e Grégio. Os diretores técnicos eram Lagarto e Bortogaray.
Lara foi bastante destacado no texto; enumero os trechos das principais intervenções suas e da expectativa que gerou: " ... os caxienses na primeira phase da pugna estiveram mais felizes, atacando com energia o posto de Lara, que hontem se estreou no team do Grêmio, demonstrando ser um excellente arqueiro, fazendo defesas magistraes, defesas essas que empolgaram a assistência."
Prosseguindo, "... na saída de gol, após o primeiro tento, ... outra carga, shootando Martinez violentamente, dando ensejo a que Lara pratique optima defesa..." Mais adiante, " ... Lara fez outra bôa defesa que a assistência applaude freneticamente ..."
O Grêmio que jogou com camisetas brancas abriu o marcador aos 12 minutos da etapa inicial com Ramãozinho, num chute enviesado. 1 a 0. Assim terminou este período.
No segundo tempo, o placar seria ampliado através de dois penaltis; o primeiro, o back Bado defende com a mão, o "referee" Paulo Grauberger assinalou e Gertum aumentou para 2 a 0.
O terceiro tento foi muito curioso, pois o jornal descreve assim: "... o terceiro goal mais uma vez, com toda a razão pune o Juventude com um penalty . Essa decisão foi mal acatada pelos visitantes. Lagarto então gentilmente vae shootar a penalidade, entregando a esphera ao keeper visitante com um shoot fraco. Nicolau não mostrou boa educação sportiva, fingindo não compreender a delicadeza do distincto captain local, virando-lhe as costas e deixando a esphera entrar de mansinho no goal, sob a sua guarda..."
Esta foi a primeira participação de Eurico Lara. A última sabemos, o Grenal Farroupilha em 22 de Setembro de 1935; Tricolor campeão, 2 a 0. Lara, tuberculoso, aguentou o primeiro tempo. Após comemorar o título, saiu de ambulância para o Hospital Beneficência Portuguesa, onde faleceria aos 38 anos, inaugurando uma tradição gremista de goleiros de grande longevidade como Picasso, 36 (1975). Manga, 42 (1979), Mazaropi, 37 (1990) e agora Dida, 40 (2013).
Encerrando, gostaria de agradecer ao amigo de infância, Alvirubro que me alcançou este precioso material; sem a sua generosidade, eu jamais poderia ter criado esta crônica. Gracias.
Maravilhosa história, Bruxo!
ResponderExcluirExistiram dois grandes goleiros no Grêmio. Lara e Danrlei.
Não citei Mazaropi, Alberto, Germinaro, todos grandes goleiros, mas...
Danrlei eu vi jogar e não tenho dúvidas sobre ele.
Lara, é evidente, não vi jogar. A história encarregou-se de torná-lo ídolo.
Vitor foi e é imensamente superior a Danrlei. Imensamente e em todos quesitos. Um novo Eurico Lara que o gremio botou fora. Por pura soberba e autoritarismo da direção.
ExcluirCom certeza; Victor foi o melhor goleiro deste século no Grêmio. Para mim, o melhor depois de Alberto e Manga.
ExcluirAlguém sabe mais informações sobre o Jorge Py?
ResponderExcluirGrampola
ResponderExcluirCertamente, o Alvirubro tem. Vou manter contato.
De 1915 a 1925, um grande valor integrou as fileiras gremistas, sendo, por isto, muito sentida a sua ausência, em 1926, quando partiu para a cidade do Rio de Janeiro.
ResponderExcluirJorge Tavares Py, atleta exemplar, companheiro leal e afável, amigo solidário de todas as horas, que se ausentava, indo ao Rio de Janeiro, para onde o chamavam seus interesses particulares.
No Rio de Janeira vinculou-se a outro tricolor, o poderoso Fluminense, nele desempenhando relevante papel com o mesmo ecletismo que o consagrara na capital gaúcha.
Na metrópole carioca encontrou a morte em acidente de trem, quando tentava salvar a vida de uma criança.
Sobre JORGE TAVARES PY tenho o registro de 143 atuações pelo time do Grêmio, entre 1915 e 1925. Jorge Py integrou a Seleção Gaúcha, nesse período.
O ACIDENTE DE TREM:
ResponderExcluirNo dia nove de Março de 1930, um grave acidente de trem ocorrido quando o Fluminense retornava de um amistoso, onde esteve em disputa o Troféu Cidade de Theresopolis, matou o zagueiro de origem gaúcha Jorge Tavares Py.
Na volta ao Rio de Janeiro a composição se desgovernou e Py tentou acionar os freios do vagão onde se encontrava para tentar minimizar os efeitos do acidente, porém, na primeira curva o trem deu um salto chocando-se violentamente contra um barranco.
Passados os primeiros instantes de terror os jogadores do Fluminense, embora feridos e sangrando, lançaram-se na tarefa de procurar e socorrer, entre pedaços de madeira e ferragens retorcidas, as crianças e senhoras e aqueles que mais necessitavam de auxílio.
O então técnico da equipe, Luiz Vinhaes, com rapidez e energia, comandou a árdua tarefa do socorro às vitimas, demonstrando ser um comandante admirável.
Lamentavelmente, Py acabou perdendo a vida esmagado entre o barranco e o vagão. Teve morte instantânea. Enquanto os feridos retornavam, Luiz Vinhaes permaneceu ao lado do corpo de Jorge Py até o Rio de Janeiro.
Superando o abalo emocional que atingiu todos os esportistas da época, o Fluminense honrou a gloriosa camisa Tricolor, levando a termo os seus compromissos no Campeonato Carioca daquele ano, muito embora tenha tido um desempenho apenas satisfatório.
Em 13 de agosto de 1931 foi promovida uma partida entre o Fluminense e o Selecionado da Federação Gaúcha em favor da família de Jorge Py, quando o Fluminense venceu por três a dois, tendo recebido a Taça Jorge Py.
Jorge Py, atuou pelo Fluminense de 11/07/1926 a 09/03/1930, tendo disputado 67 partidas, obtendo 40 vitórias, 10 empates e 17 derrotas. Não chegou a marcar nenhum gol com a camisa Tricolor. Sua estréia se deu na partida amistosa contra a Esportiva de Guaratinguetá, atuando no interior de São Paulo no estádio Dario Rodrigues Leite.
Obrigado, Alvirubro
ExcluirDesconhecia a história dele.
Tenho o registro de 14 gols marcados pelo zagueiro Jorge Py, no Grêmio.
ResponderExcluirPelos meus registros, Jorge Py esteve presente no time do Grêmio pela última vez em 28.06.1925:
Grêmio 5x1 EC São José
Campeonato Citadino
Data: 28.06.1925
Local: Baixada (Moinhos de Vento), Porto Alegre-RS
Árbitro: Max Barth
Gols: Olivério e Luiz Carvalho no 1º tempo; Luiz Carvalho (2), Theodoro Machado e Raab no 2º tempo
GRÊMIO: Lara, Sardinha e Jorge Py; Aldo Bissaco, Theodoro Machado e Araken; Pighini, Olivério, Luiz Carvalho, Coró e Eugênio Coy. Técnico: Alvaro Soares
SÃO JOSÉ: Barcellos, Maysonave e Sparano; Astro, Rigobello e Pinho; Gatti, Vivinho, Raab, Damasceno e Prego.
Em 06.01.1922, Jorge Tavares Py recebeu o título de "Atleta Laureado" do Grêmio.
ResponderExcluirAté aquela data haviam recebido o Prêmio os seguintes jogadores:
EURYDES GUASQUE DE MESQUITA (SARDINHA I) - 15/09/1920
GUSTAVO MOHRDIECK - 15/09/1920
LUIZ CARVALHO - 15/09/1920
THEODORO SCHROEDER - 06/01/1922
DORIVAL FONSECA - 06/01/1922
SEVERINO FRANCO DA SILVA (LAGARTO) - 06/01/1922