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sábado, 7 de junho de 2014

Pequenas Histórias



Prosseguem as postagens das Pequenas Histórias:



26 - A Um Passo da Eternidade - Ano 1977


Setembro é o mês de aniversário do Tricolor. Mês de muitas alegrias; a maior, imagino; seja o título do Gauchão de 1977 no inesquecível dia 25. Tudo bem! Tem o Grenal Farroupilha em 22 de Setembro de 1935. 


Parada dura para escolher qual o maior evento deste período. Voltando a 77, o ano inteiro o Grêmio nos presenteou com grandes vitórias, goleadas como a de 10 a 0 sobre o Pelotas, goleadas em Grenais, 3 a 0, 4 a 0, que valeram duas "Pequenas Histórias";  quem está por trás destes eventos mágicos? Telê Santana; ele merece uma estátua na Arena pelo que fez no Olímpico. Mestre. 

Pois uma semana antes do título, no 18, houve um Grenal decidindo o último turno, antes da final ou finais,pois se o Imortal ganhasse o primeiro, a peleia estaria definida. Foi no Beira-Rio lotado e o Grêmio ganhou por dois a zero e encaminhou o quase outrora, intangível título de campeão gaúcho. O Tricolor formou com Corbo;Eurico, Cassiá,Oberdan e Ladinho;Vitor Hugo,Tadeu e Iúra;Tarciso,André e Éder. O técnico ainda fez entrar Vilson Cereja, o Cavalo no lugar de Iúra e Alcindo no de André, centro-avante que enlouqueceu a zaga vermelha. A defecção de última hora do capitão Anchetta não se fez sentir porque seu reserva, o atual político Cassiá, era um índio macanudo da fronteira e não se assustava por "poca côsa". Junto com Oberdan, compôs uma zaga impenetrável.

 O Inter alterado, mesmo assim, contava com Manga,Marinho,Vacaria,Caçapava,Falcão,Escurinho,Valdomiro,Dario; bicampeões brasileiros 75/76. Com um gol em cada tempo, a supremacia tricolor foi incontestável. Aos 32 minutos do primeiro tempo, Tadeu Ricci cobrou uma falta na entrada da área, na verdade, um pênalti que o famoso juiz Carlos Martins viu fora da área para desespero de Iúra que ajoelhado, batia com a mão no gramado, indicando onde ocorrera o toque de mão. Da meia-lua para Tadeu e Éder, era o mesmo que penalidade máxima. Resultado: Gol (foto). Por mais que o fantástico goleiro Manga tenha se esticado, a bola foi onde dorme a coruja; no ângulo superior direito do arco da esquerda, a do Gigantinho. Tadeu bateu com a maestria habitual. Na etapa final, mais exatamente aos 22 minutos, uma das jogadas ensaiadas de Telê; o goleiro Corbo repõe rapidamente a bola em jogo até o meio, onde Iúra domina e estica para André pelo lado esquerdo do ataque, o baiano chega à linha de fundo e cruza na marca do pênalti, encontrando Tarciso que com uma cabeçada, fuzila o lendário arqueiro pernambucano; 2 a 0. 

Pela cotação da Zero Hora; duas diferentes; uma colocava Tarciso e Tadeu, outra, Tadeu e Tarciso como os destaques do clássico. Aliás, o Flecha Negra quase fez o terceiro, mas foi acertado violentamente por um pontapé desferido pelo goleiro Manga, em lance fora da área, o que causou a expulsão do veterano arqueiro, fato que resultou no ingresso do paraguaio Benitez, recém-contratado, que iria jogar a decisão no final da semana seguinte. Aquela equipe estava só a dois pontos do título, a um passo da eternidade. Como se sabe, dia 25, à tarde, Olímpico hiper-lotado, Eurico roubou uma bola, passou para Iúra que lançou André entre os zagueiros, este avança e ...

27 - Batendo às Portas do Céu - Ano 1977




Qual será meu jogo inesquecível? Muitos. Eles vão variando de acordo com a memória, o humor, a saudade ou a descontração da ocasião; mas aquele que mais está presente é o do sagrado dia 25 de Setembro de 1977. 

Havia uma frustração armazenada no peito desde 1969, quando o Coirmão se mudou para o Pinheiro Borda e emendou uma sequência (interminável) de humilhações, gozações e sentimento de inferioridade. Pudera! Minha turma era de 10, talvez 15 amigos, onde apenas 2, eu disse dois, eram colorados e a flauta corria solta. Naquela época, o Grêmio já era o time de maior torcida nos pagos e em 1976, o título bateu na trave, o apito maldito tirou nossa possibilidade de gritar: É Campeão! Porém, 1977 tínhamos Telê Santana e isso não era pouco; ele já era o grande estrategista e visionário que formou várias academias ao longo dos anos. 


Como um grande arquiteto foi montando aquele time dos sonhos, onde a zaga simplesmente fez 20 gols, Eurico e Anchetta, cinco cada, Oberdan, seis e Ladinho, quatro; apenas para citar a defesa titular. Um centro-médio das antigas no seu posicionamento, mas um líder, o jornalista Vitor Hugo; seguindo, Iúra, o guerreiro e o mago da bola, Tadeu Ricci; na frente; três matadores: Tarciso, André e Éder. No gol, o "tupamaro" Walter Corbo. Ithon Fritzen comandava a preparação física e não dá para esquecer do massagista Banha, do presidente Hélio Dourado e o diretor Nelson Olmedo, autor da fantástica frase: "A Taça tá no armário, o bicho tá no bolso, a faixa tá no peito e a torcida está comemorando", quando o Coirmão quis "melar" o campeonato no Tapetão.


 O Imortal chegou neste jogo precisando vencer para evitar mais um jogo, que seria na casa do adversário. O Olímpico estava superlotado e a confiança azul era a maior dos últimos anos. Mesmo a defecção do capitão Anchetta, não preocupava. No domingo anterior, Cassiá, o substituto fez uma bela dupla com Oberdan no 2 a 0 do Beira-Rio (Pequenas Histórias 26). O Inter ficou sem Cláudio, Beliato e Falcão à última hora, mas tinha Benitez, Vacaria, Marinho, Batista, Caçapava, Valdomiro, Jair, Escurinho, Dario, Luisinho, entre outros. Logo aos 8 minutos, o atacante Santos derruba André na área; penalti sonegado pela arbitragem. O Grêmio segue pressionando, Eurico perde gol num cruzamento de Tadeu, desta forma, o gol sairia logo (era o que se imaginava). Aos 25 minutos, o zagueiro Gardel impede a conclusão de André, botando a mão na bola. Não tinha como não assinalar. Penalidade Máxima. Tarciso, o que nunca errara uma cobrança, se encarrega de bater. Bate forte ...Para fora! Lado direito de ataque. Meu mundo parecia desmoronar. Tarciso ficou tão abalado que na quarta-feira, jogo das faixas contra o Palmeiras, fez cobrança idêntica e no domingo seguinte, início do Brasileirão, mais uma vez errou; no caso, contra o Joinville em Santa Catarina. Tadeu virou o cobrador oficial. 


Aos 42 minutos, Eurico rouba a bola, passa para Iúra que mete entre o lateral direito e o beque central para André Catimba, o baiano avança e a lógica indicava bater de pé esquerdo, forte, rasteiro, cruzado no canto oposto do goleiro. André "inventou": chutou de pé direito, colocado, no ângulo superior, linha reta, portanto, no mesmo canto do goleiro. Voou para a cambalhota (foto) e se machucou. Saiu e entrou o predestinado Alcindo Martha de Freitas, maior goleador do Imortal em todos os tempos. André, incrivelmente, estava marcando apenas o seu terceiro gol no campeonato. Para que mais? O segundo tempo foi de alternâncias de ataques.


 Aos 42 minutos a torcida invadiu o campo. Loucura Total. O juiz esperou o tempo regulamentar e deu por encerrado. Grêmio Campeão. Oberdan comandou a volta olímpica de um jogo que teve muitas histórias subterrâneas como por exemplo a de Vilson Cavalo, reserva que sempre entrava, que ficou atento, ouvindo o vestiário colorado, descobrindo a escalação que era um mistério; a de Cassiá que jogou a maior parte do tempo com o nariz quebrado ou a de Dario, o Peito-de-Aço que fugiu do exame anti-doping no final da partida. A Folha da Manhã, jornal da Caldas Junior escolheu, para variar, Tadeu, o melhor em campo. Reproduzo parte do que está à página 30 (Central):"Mesmo sofrendo forte marcação de Batista durante quase toda a partida, Tadeu Ricci foi o melhor jogador do Grenal de ontem, principalmente pela sua aplicação tática... mostrou muita personalidade e uma experiência muito grande que colaborou para esta vitória..." Zero Hora, também escolheu o camisa 8 tricolor o craque do clássico. 


A Nação Azul passou meses comemorando; lembro que fui a um show dos Almôndegas que lançava o LP "Alhos com Bugalhos", ali no ginásio do Corinthians e só puderam abrir o espetáculo, depois que resolveram acompanhar a massa que cantava o hino do Lupicínio Rodrigues. Loucura igual, só a de Tóquio. Foi o momento mais marcante da minha adolescência esportiva. Sem dúvidas, bati às portas do Céu.


28 - Lara, Foguinho e o Campeonato Farroupilha - Ano 1935

Todo o gremista já ouviu esta epopéia tricolor; o Campeonato Farroupilha de 1935. Eu ouvi de uma testemunha ocular, meu pai estava entre os milhares de torcedores que em 22 de Setembro lotaram o Fortim da Baixada, reduto do então "time do Moinhos de Vento". Não foi o campeonato gaúcho, mas ganhou mais importância porque reuniu os grandes clubes metropolitanos como o Cruzeiro, São José, Força e Luz, Nacional, Grêmio e Internacional. O Grenal ficou para a rodada final e o Imortal chegou um ponto atrás da equipe vermelha.

 Aquele campeonato se revestiu de grande interesse, porque foi em meio as comemorações do Centenário da Revolução Farroupilha, o próprio presidente da república, o gaúcho Getúlio Vargas passou a semana na capital. A programação cultural também recebera atenção como a vinda da famosa Jazz Band Academia de Pernambuco, os cinemas com clássicos como G-Men contra o Império do Crime e O Mulherengo, ambos estrelados por James Cagney; desta forma, o Campeonato Farroupilha ficou maior que o "Gauchão" de 35, vencido pelo 9º Regimento de Infantaria de Pelotas, que virou o Farroupilha de hoje, o Fantasma do Fragata. 


O prélio começou às 16:00 h com arbitragem de Francisco Azevedo. O Grêmio entrou em campo com Lara; Dario e Luiz Luz; Jorge, Mascarenhas e Sardinha II; Laci, Russinho, Artigas, Fogo e Divino. Entraram ainda, Torelly no lugar de Artigas e Chico no gol, substituindo Eurico Lara no intervalo, que morreria dias depois. O Inter com Penha; Natal e Risada; Garnizé, Andrade e Levy; Tijolada, Tupan, Mancuso, Darcy e Honório. O primeiro tempo foi de equilíbrio com destaque para o trio defensor colorado que segurou o ataque tricolor. No final do primeiro tempo, o time vermelho fez uma carga forte com a zaga salvando vários arremates e por fim, Lara (foto acima, à direita) caído praticou a defesa num chute de Honório. Foi sua última grande intervenção no gol gremista. Chico entrou nervoso e cometeu algumas falhas, mas sua equipe não se abateu.


 Precisando da vitória foi para cima, comandado por Foguinho, dono de um fôlego fantástico; já o Coirmão recuou, contando com o empate. E assim o tempo foi passando; vale lembrar que, à época, uma partida possuia 2 tempos de 40 minutos. Aos 36 minutos, Torely recebe falta de Andrade, Mascarenhas levanta  em direção a área colorada, promovendo uma "escrimage", como escreveu o Correio do Povo de 24 de Setembro, à página 14, ou seja, um duelo, a bola sobra na meia lua para Fogo e ele não perdoa, enche o pé e abre o placar. Explosão de alegria na Baixada, os torcedores se abraçam. O Inter, atordoado, dá reinício, porém, o Tricolor retoma a pelota, novo levantamento para a área, Foguinho (foto acima, à esquerda) escora de cabeça para Russinho que tira da jogada o zagueiro Risada e Laci aproveita a deixa e manda a bomba no alto, chute violento, logo abaixo do travessão. 2 a 0. 


Termina o jogo e a torcida invade o gramado. Um jogo épico, valorizado pela aplicação do adversário e pela lotação recorde de público que gerou uma renda de 26:309$00 (não me perguntem a moeda, réis ou contos???). Foi o jogo da vida de meu pai; sempre que podia, comentava. Todos os anos, o Grêmio comemora o feito com um jantar. Mais que merecido.

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