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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Opinião




Saber Parar 

Há dias que eu queria postar algo sobre este assunto bem delicado; a hora de "pendurar as chuteiras".

Admiro Pelé, porque dentro de campo ele fez tudo certo na hora certa. Soube parar. Parou na Seleção em 1971, parou no Santos em 1974, indo desbravar o inóspito território da bola nos Estados Unidos, onde pode prosseguir sem cobranças ou decepções.

Quando eu dava aula de História e Sociologia, batia muito na tecla da análise dos fatos e comportamentos, sempre considerando o contexto. Sem isso, o risco do erro, da injustiça seria grande e muitas vezes, fatal. A chance de ser irresponsável, equivocado e soar anacrônico na interpretação do estudo era imensa. Para exemplificar eu utilizava o verbo traficar que significa  comercializar. Traficante (de escravos) era a atividade dos senhores mais ricos do Império brasileiro, a profissão mais comum entre os senadores. Hoje, traficante leva à memória, atividades ilícitas e perigosas. o orgulho com que os senadores se apresentavam nos Séculos XVIII e XIX, atualmente seria motivo de recriminação pela origem desumana da natureza do comércio, embora a legalidade do ato naquele período.

Na final da década de 60, o maior ídolo do Flamengo era Fio, o camisa 10, que antes de ser consagrado como Fio Maravilha na música de Jorge Ben(jor) era chamado pelo meio esportivo de "Crioulo Doido". Na mesma época, Paulo Borges, ponta direita do Bangu, campeão carioca em 66, foi vendido para o Corinthians, maior transação do futebol brasileiro. Pois ele viu seu apelido Risadinha ser substituído por "a Gazela do Parque São Jorge", reduto corintiano, antes de Itaquera. Era o contexto.

Hoje, apelidos assim são ofensivos, até passíveis de execração pública de quem ousar utilizá-los. O mundo mudou. Imagino que para melhor nestes aspectos.

Onde eu quero chegar? Há profissionais que por necessidade financeira, talvez medo de dar o passo para a aposentadoria ou da solidão, quem sabe, teimosia, insistem em se manter na ativa, sem perceber que o mundo está girando, que ele é dinâmico e suas condutas, antes aceitas sem restrições, atualmente são integralmente desatualizadas, algumas até sem consequências maiores, outras definitivamente arrasadoras para os novos tempos, manchando a biografia tão bonita por uma ação derradeira e absolutamente nociva. O chamado "sem noção".

O risco de repetir o caso de Dercy Gonçalves, um ícone do cinema, teatro e televisão, esta última que ajudou a dar forma e êxito, mas que ficou na história para os mais jovens como a "a anciã desbocada" é potencialmente alto.

Algumas biografias cinquentenárias, por falta de um fim no momento exato, podem ganhar um carimbo, uma tatuagem definitiva por um escorregão causado pela imprevidência de prosseguir na mídia, quando tudo indicava para o acionamento do "Stop" em suas carreiras.

Uma pena!



4 comentários:

  1. Boa postagem, Bruxo. Um assunto bastante discutível. O mundo sempre está em constante metamorfose. Mas muitos costumes dos nossos antepassados ainda nos seguem. Uns bons, outros nem tanto.

    Quero comentar apenas num ponto específico do teu texto. Os apelidos, ou alcunhas. Eu tinha apelido e até hoje alguns convivas mais antigos me chamam pelo tal. Não via problema, pois eu muito apelidei gente também. Mas hoje, qualquer meia palavra mal dita, é motivo de execração pública.

    Imagine só hoje em dia, aparecer um jogador com nome de Escurinho (Inter, anos 70). Ou ainda, Alemão (Botafogo, anos 80). Eu não vi nenhum deles jogar, mas não é o caso. Falo somente das alcunhas. Hoje, isto é visto como preconceito. Muita coisa que estes lacradores de twitter (modernismo) fazem hoje é apenas para chamar a atenção, penso eu. É claro, que depende muito do contexto. Tenho um conhecido que seu apelido é Preto. E um outro que o apelido é Branco. Simples assim. Tem a ver com o tom das suas peles? Tem, mas e daí? E nem por isso, um ou outro saiu por aí pregando ou levantando bandeiras. Não morreram por isso. Volto a dizer: depende muito do contexto. Aonde quero chegar, com tudo isso? As pessoas por mais modernas e atualizadas que sejam, não conseguem separar as coisas. Ou é oito ou oitenta; penso eu que não é por aí.

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    Respostas
    1. Exatamente, Rodrigo
      A forma como é utilizada a expressão é mais relevante do que qualquer outra coisa.

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  2. Esqueci de mencionar que o meu apelido era Biriba. Originou-se porque havia semelhanças entre eu e um palhaço que tinha um teatro aqui na cidade. hahaha

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