Pequenas Histórias (264) - Ano - 1971-72
O Grêmio queria a Glória de Oto
Fonte: Arquivo pessoal amigo Alvirubro |
Com as desconfianças que boa
parte da torcida está com o atual treinador gremista, eu resolvi fazer uma
pesquisa diferente, provocando a memória, isto é, matar a minha curiosidade quanto aos técnicos com
passagens por seleções nacionais com participação exitosa em Copas do Mundo
que tiveram o privilégio de comandar o Tricolor gaúcho. Me perguntava. É uma
senhora referência, sem dúvida.
Cheguei a três nomes, já que
Sebastião Lazzaroni e Tite não deixaram uma boa lembrança no torneio mundial. O segundo terá nova
chance este ano. Quais são os três nomes? Luiz Felipe e Telê Santana, qualquer
um irá lembrar de imediato. O gaúcho é o comandante do quinto título mundial do Brasil e o mineiro, o magnífico arquiteto da melhor seleção brasileira dos últimos 50
anos (1971 até 2021) desclassificada precocemente em 82 e 86. Qual o terceiro nome? É o carioca Oto Glória, nascido Otaviano
Martins Glória, descendente de negros e portugueses, que treinou o Imortal
pouco mais de 18 meses, Janeiro de 71 a Julho de 72.
Ele foi assistente do grande
treinador Flávio Costa (Copa do Mundo de 50), antes tentou ser jogador, mais tarde enveredou para o
basquete, esporte que lhe deu ferramentas para ser um revolucionário no
futebol.
Oto com trânsito óbvio na
comunidade portuguesa, comandou o Vasco da Gama antes de se aventurar por
Portugal, onde atingiu o ápice da carreira, treinando os quatro maiores clubes
lusos: Sporting, Porto, Belenenses e Benfica, este, que até então era a terceira
força sem muita expressão. Oto com seus métodos baseados nos ensinamentos das
quadras de basquete, transformou o clube de Lisboa numa força europeia, introduzindo craques das colônias africanas portuguesas.
Dos clubes para a seleção nacional foi um pulo e em 1966, Copa da Inglaterra, Portugal atingiu o ponto mais alto de sua história, quando ficou em terceiro, parando apenas na anfitriã Inglaterra, que levou a Copa do Mundo Jules Rimet de forma inédita. Portugal desbancou o Brasil na fase de grupos, ganhando por 3 a 1 com show de Eusébio, o Pantera Negra.
Oto também passou pelo Olympique de Marselha, Atlético de Madrid e Paris St. German de Paris. Em 1971, desembarcou em Porto Alegre num lance arrojado do então jovem presidente Flávio Obino.
Não ganhou títulos é verdade,
mas enriqueceu o futebol do Rio Grande com os seus ensinamentos, métodos e frases que
fazem sucesso até hoje como "o treinador quando perde é besta, quando ganha é bestial", “ cada jogador deve conhecer a rotina do seu lugar”, essa, que
foi adotada pelos principais comentaristas da terrinha.
Estreou em Janeiro de 71 num
amistoso (0 a 0) com o Novo Hamburgo e saiu em Julho de 72, coincidentemente,
contra o mesmo adversário que lhe impôs a única derrota daquele ano, 1 a 0, gol de
Xameguinha, o eterno camisa 10 anilado.
Ao todo foram 106 jogos com 59
vitórias, 34 empates e 13 derrotas. Grenais, disputou 9, perdeu 1, 1 a 0, gol de pênalti cobrado por Sérgio
Galocha.
Encerrou-se assim, a passagem
do extraordinário treinador luso-brasileiro pelo Rio Grande. No ano seguinte,
73, Oto sagrou-se campeão paulista com a Portuguesa de Desportos, dividindo o
título com o Santos, fato ocasionado pela trapalhada do árbitro que encerrou as
cobranças de tiros livres, depois dos 90 minutos e prorrogação, ainda com (remotas) chances para o clube do bairro
do Canindé. O juiz interrompeu as cobranças faltando duas para cada clube,
dando o título ao Santos. Oto Gloria espertamente fez seus jogadores
descerem para o vestiário, tomarem banho, não dando chance para a retomada dos
tiros livres, quando do alerta do erro. Resumindo, houve dois campeões paulistas naquela edição.
Seis anos depois, Oto dirigindo
o Vasco da Gama, com um time bem inferior, conquistou o vice campeonato, pois decidiu o Brasileiro de 79, vencido
pelo Internacional que tinha Benitez, Mauro Galvão, Batista, Jair, Falcão,
Valdomiro e Mário Sérgio, entre seus craques.
Em 1980, Oto Glória aos 63 anos, se joga a mais um desafio; vai treinar a Nigéria na Copa Africana das Nações, competição criada em 1957, jamais ganha pelos nigerianos e donos de um futebol incipiente, para não dizer ingênuo e rudimentar.
Parecendo narrativas tipo "Desafio de Campeões", a campanha exitosa (Nigéria campeã) apresenta cenas de cinema como demonstra o relato que segue, vide O Brasileiro que fez História na África.
Oto Glória, ainda que sem títulos, passou pelo Grêmio com muito profissionalismo e carisma. É um dos gigantes da casamata que infelizmente, não botou faixa no peito, mas deixou uma bela imagem junto aos torcedores.
Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
https://esportes.yahoo.com
Em 1971, o Internacional manteve como técnico "o gordo" Daltro Menezes, como era chamado carinhosamente pelos cronistas da época.
ResponderExcluirO Grêmio foi atrás do renomado Oto Glória. Oto, assim que assumiu o futebol do Grêmio foi inspecionar as instalações do Departamento de Futebol, no Olímpico.
Viu, tirou suas conclusões e em seu primeiro pedido disse que cada jogador teria a sua própria bola para praticar individualmente exercícios e treinamentos. Queria que seus atletas tivessem contato permanente com a bola.
De trato sincero, Oto explicou que daria todas as chances possíveis aos jogadores: "Eu gosto de trabalhar com a prata da casa e só depois de muitas observações é que poderei decidir se pedirei ou não por novos reforços". afirmara.
Uma característica marcante nele: não gostava de futebol defensivo. Porque, o futebol defensivo ficava bem para as equipes pequenas, dizia. "O Grêmio tem bons atacantes e por isso vai jogar ofensivamente, mas é claro, sem descuidar da parte defensiva".
A amizade com os seus comandados lhe valeu desde a chegada ao clube a simpatia dos atletas. A franqueza ao falar não deixava dúvidas, até para quem gostava de deturpar declarações.
Atletas da época, referindo-se à forma de Oto Glória lidar com futebol do clube, diziam: "Esse homem deveria ficar aqui, pelo menos uns cinco anos, pois é um profissional amigo, um comandante que tanto sabe ganhar como perder batalhas, mas que também sabe se impor diante de qualquer problema".
Oto Glória gostava de treinamentos em dois turnos, pela manhã e à tarde. Explicava que somente com uma boa dose de treinamentos os jogadores poderiam evoluir tecnicamente e taticamente.
Alvirubro
ExcluirAlguém que lê pode dizer, se era tudo isso, porque foi embora? Bom, a sua trajetória comprova isso. Em Portugal, Oto foi mais do que Jorge Jesus foi para o Flamengo. Foram muitos anos de competência.
Bruxo,
Excluiro torcedor analisa sempre um lado da relação técnico x grupo de jogadores ou dirigentes.
Muitas vezes, a saída de um profissional desse nível é necessária.
Embora a qualidade do trabalho seja evidente, a fadiga nos relacionamentos faz com que o convívio diário se torne pesado.
Como bem lembraste, "se era tudo isso, porque foi embora?". O fato da saída não se resume exatamente na escolha do clube ou do técnico.
Clubes dispensam bons profissionais por diversos motivos.
E o torcedor não sabe a fundo quais motivos levam dirigentes a ter essas decisões, que parecem estranhas.
Tu deves lembrar que a solução do clube da Azenha foi trocar Oto Glória por Daltro Menezes, que em 1971 durou até o mês de Abril no Internacional.
Ou seja, o técnico que era bicampeão gaúcho, no Internacional, foi demitido no primeiro semestre, para dar lugar a Dino Sani.
E Daltro, embora o seu conhecimento, tem um recorde triste no Grêmio, 5 derrotas consecutivas no Brasileirão.
ExcluirUma curiosidade sobre a estreia de Oto Glória, como técnico do Grêmio: no dia 18 de Janeiro de 1971, houve dois jogos do Grêmio.
ResponderExcluirO técnico decidiu comandar as duas equipes (reservas e titulares) para ter uma melhor ideia dos jogadores que poderia contar.
Na preliminar, os reservas do Grêmio venceram o Barroso-São José, por 1 a 0, gol de Bebeto, o "Canhão da Serra".
No jogo principal, o time titular empatou em 0 a 0 com o Novo Hamburgo.
O Grêmio tinha em seu elenco 46 atletas e por isso o técnico decidiu observar naquela noite o maior número de jogadores possível. Para isso, mandou a campo, nos dois amistosos, 34 jogadores.
São preceitos que hoje, a gente sonha para um treinador de nossas equipes.
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