Pequenas Histórias

Pequenas Histórias (155) - Ano - 1918

Grenal manchado de Sangue

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Em 1918 o mundo ocidental ainda sangrava com o conflito entre várias nações, que mais tarde receberia o nome definitivo de Primeira Grande Guerra. Mesmo países distantes e periféricos como o Brasil recebiam estilhaços do embate. até Edgard Booth, goleador máximo do primeiro clássico, o dos 10 a 0, chegou a ser convocado pela sua Majestade Britânica para defendê-la.

Entretando, havia uma certeza, a guerra estava chegando ao fim e a normalidade seria restabelecida e aqui no Brasil Meridional algumas práticas pouco afetadas prosseguiam o seu cotidiano, um exemplo? O futebol buscava manter as suas competições, uma delas era o campeonato de Porto Alegre, que tivera a primeira edição em 1911, falhara em 12 e 13, retomara o trem das disputas e nada do Tricolor conquistar a taça. Quase aos 15 anos de existência era um veterano se comparado com os demais contendores, portanto, passara a hora de botar o caneco no armário e a faixa no peito.

Em 04 de Agosto, estádio da Baixada (foto acima), o Grêmio precisava bater seu mais conhecido oponente, vencedor das quatro últimas edições (14 a 17).

Antecipada pela partida dos segundos quadros que iniciaram a peleia às 13:30 h, duas horas mais tarde, as agremiações entraram no estádio do Moinhos de Vento. O Imortal com: Kunz; Garibotti e Py; Pavani, Dorival e Chiquinho; Zanella, Franco, Gertrum, Scalco e Bruno.

O Inter de: Bica; Belo e Dorival; Evódio, Mário e Bitu; Crespo, Ribas, Godinho, Bento e Guimarães.

A partida se desenvolveu com uma pobreza técnica franciscana, sem lances emocionantes até chegar aos 35 minutos da primeira fase, quando a zaga colorada cometeu um toque de mão dentro da área; penalidade máxima assinalada.

Garibotti converteu. 1 a 0. O Tricolor encaminhava bem a possibilidade de ganhar seu primeiro troféu naquela competição, mas minutos depois, uma bola saída pela lateral gerou renhida discussão, troca de ofensas entre a torcida gremista e alguns atletas do Internacional, o sururu aumentou e Álvaro Ribas, avante colorado recebeu um pontaço de faca desferido por Manoel Costa, ficando seriamente ferido, assim como Otávio Telles de Freitas, que tentara evitar o pior.

Após muita resistência, o principal agressor entregou a faca ao presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Sr. Aurélio Py, logo sendo preso e salvo pela Brigada Militar de um linchamento.

Manoel foi encarcerado e Ribas operado na Casa de Saúde, pois a lâmina fez um estrago de 15 cm atingindo o osso ilíaco. Encerrava ali a carreira de Ribas.

A partida foi anulada pela Federação e determinou nova disputa, o Tricolor se julgou prejudicado; negou-se a realizar nova partida e a taça caiu no colo do E.C. Cruzeiro; desta forma era quebrada a hegemonia do S.C. Internacional e mantida a abstinência de títulos do Tricolor.

O jeito era mirar 1919 e com a chegada dele, um desfecho diferente.

Para a história ficou assim:

O clássico que levou o número onze como identidade foi o mais violento dos primeiros anos.

Fonte:  Correio do Povo

             A Federação

             A História dos Grenais - Mário Marcos de Souza et alii

             Arquivo Pessoal do amigo Alvirubro com material de Edson Pires