Essa crônica, eu comecei a escrever na Terça-feira, 27; busquei material com o Alvirubro e também, com o Arquivo Histórico de minha cidade: o primeiro jogo contra o Grêmio, um desconhecido Pelé (ou seria Bilé?) em 1957 e o outro no auge, 1970, depois do Tri.
Mantinha a esperança que o Rei iria dar um drible no destino. Não deu. De qualquer forma, manterei o texto, porque é um instantâneo do que sentia diante do inevitável. Fica apenas a do segundo momento.
Pequenas Histórias (278) - Ano - 1970
Sua Majestade
Fonte: Jornal Correio do Povo |
Este final de ano está sendo muito difícil para a família Arantes do Nascimento; aliás, para todos que gostam de futebol, porque o Rei sofre com uma doença implacável e ele é a maior expressão deste esporte em todos os tempos.
Dos meus ídolos da primeira infância, o único que está vivo, que para mim é um ser irrepreensível. Verdade que nos anos 90, descobri que ele recebeu reprovação de parte do público por problemas pessoais, mas que não os teve? Charles Chaplin e Mahatma Gandhi também os tiveram. Como consolo, a frase de Nélson Rodrigues: - Toda a unanimidade é burra! além disso, existem o Édson e o Pelé. Não vou atirar pedra, não!
Minha idolatria por ele, não sofreu um “arranhão” sequer, por isso, ando apreensivo, quanto à saúde do craque que passa dos 82 anos. Tudo o que se comentou dele é infinitamente menor do que sua arte. É cidadão do Mundo com muita justiça.
Pela memória, consigo retornar ao final dos anos 60; lembro de ter ouvido com meu pai a narração daquele Vasco da Gama versus Santos, onde ele marcou o milésimo gol, estádio do Maracanã. Uma Quinta-feira à noite. Depois veio a campanha do Tri no México, onde esbanjou talento, criatividade e liderança.
Já era uma celebridade mundial há mais de uma década. Sua imagem era mais conhecida do que seu país. E foi assim que em Setembro de 70, mais exatamente, dia 02, o Santos, “o clube cigano” como passou a ser reconhecido, esteve em Erechim, interior do Rio Grande para inaugurar o maior estádio fora de Porto Alegre, o Colosso da Lagoa; à época, com capacidade para receber toda a população da sua cidade.
Para o festival abertura, o Grêmio ia encarar as feras do Santos e o Inter, as do Botafogo, simplesmente, as maiores agremiações esportivas daquele período. No aeroporto da pequena cidade, 2.500 pessoas se aglomeraram para ver a majestade e seu séquito.
Lá estava o Peixe com Pelé e seus cunhados, Lima, Davi e Abel; além de vários craques. Faltaram os tri campeões Joel Camargo e Clodoaldo mais o ponta direita Manuel Maria. Então foi a campo com: Edvar; Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Djalma Dias e Rildo; Léo e Lima; Davi, Douglas, Pelé e Abel. O técnico Antoninho lançou mão também de Paulo, Turcão, Nenê e Picolé. De uma delegação de 17 atletas, não atuaram o goleiro Aguinaldo e Edu, outro tri campeão mundial, poupado.
Carlos Froner utilizou: Breno; Espinosa, Ari Hercílio, Beto Bacamarte e Jamir; Jadir e Everaldo; Flecha, Caio, Alcindo e Loivo. Entraram também: Ivo Wortmann, Di, Paíca, Bebeto e Paraguaio. Não contou com Wolmir e Joãozinho (João Severiano), lesionados.
O Tricolor atacou mais e a primeira chance real de balançar as redes, o ponta esquerda Loivo perdeu, quando arrematou para fora o passe recebido de Flecha, já com Edvar vencido; isso, aos 35 minutos.
Aos 44, o Tricolor errou a saída de bola, o ataque santista foi rápido e Pelé frente à frente com Breno, não vacilou: bateu forte, marcando o primeiro tento do novo estádio. Imediatamente, a partida foi interrompida, porque aquele foi o gol de 1.040 do Rei, exatamente o prefixo da Rádio Tupi de São Paulo, que aproveitou o evento para fazer o seu marketing, entregando para o Ypiranga, uma placa de bronze, perpetuando o fato coincidente.
Na segunda etapa, os clubes processaram várias alterações, o que resultou na falta de entrosamento e consequente queda na qualidade da partida. Quem se importava? todos queriam ver Pelé e ele foi até o apito derradeiro do confronto.
Com o espetáculo chegando ao seu final, o centro médio Léo Oliveira, aos 37 minutos, acertou bonito chute de fora da área com a pelota batendo na trave, antes de chegar ao fundo das redes. 2 a 0.
O árbitro foi Roque José Gallas, 20 mil pessoas assistiram ao vivo a mais uma façanha do Rei Pelé, autor do gol inaugural do Colosso da Lagoa.
Aquele Grêmio versus Santos foi o primeiro compromisso dos paulistas dentro das quatro linhas em Setembro; que teve 10 confrontos com 7 vitórias e 3 empates em quatro países: Brasil, Venezuela, Estados Unidos e Colômbia, sempre com a exigência da presença de Pelé.
O Rei, além do talento natural para o futebol, igualmente, era uma fortaleza física.
Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
Arquivo Histórico de Santa Maria