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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Pequenas Histórias

Prosseguindo, seguem as Pequenas Histórias, 13, 14 e 15

13 - 1962 - Uma Imortalidade Super Campeã - 1962

Gosto desta história de Imortalidade do nosso Grêmio. Está no hino do eterno Lupi. Claro! Também não aceito a banalização do termo e da tentativa de apropriação dele por parte de uns dirigentes; fazem mau uso, entretanto; a mística é verdadeira, tem tudo a ver com vários momentos do Tricolor e é uma grande sacada mercadológica.

 Pois bem! Vou citar 4  jornadas exemplares  da saga gremista: O Campeonato Farroupilha de 1935, ganho nos últimos 5 minutos; O gol de César em 1983, um "achado" genial de Renato, A Batalha dos Aflitos e o tema de hoje, o Supercampeonato de 1962 que está completando meio século.


 Naquele ano o Grêmio passou de 28 de Março até o final de Maio excursionando na Europa onde jogou 15 partidas, ganhando 9, empatando 2 e perdendo 2 vezes para a Seleção da Bulgária e mais 2 para a Seleção da União Soviética.Um saldo positivo, sem dúvida, porém, isso certamente desgastou o elenco e prejudicou sua campanha no Gauchão daquele ano.

 O Coirmão, afinal, não tinha nada a ver com isso, lutava pelo bi depois de amargar o penta campeonato do seu rival(56 a 60) e tudo indicava que conseguiria, pois chegava as três últimas rodadas 5 pontos à frente do Grêmio; vale lembrar que naquele tempo, cada vitória valia dois pontos e o empate, um. "Melzinho na Chupeta"; apenas um empate em três jogos, sendo os dois últimos em sua casa, o estádio dos Eucaliptos; contava também com a provável tropeçada do Imortal num dos seus jogos.

 Aí entrou o improvável! O Grêmio realmente tropeçou diante do Cruzeiro, 2 a 2, mas o Inter surpreendentemente levou 2 a 0 do Guarany em Bagé e a diferença caiu para 4 pontos.

 Na rodada seguinte, dia 09 de Dezembro, o Tricolor vai a Pelotas enfrentar o Lobão. Consegue uma grande goleada; 4 a 0 e o Aymoré de São Leopoldo com Carlos Froner, técnico muito identificado com o Grêmio, mais o gremista emprestado para o time índio do Cristo-Rei, Paulo Lumumba, aplica 3 a 1 com dois gols justamente de Lumumba que acabou se tornando o goleador do campeonato com 13 gols.

 Reduz-se para dois pontos e a rodada frustra a nação vermelha que planejara aguardar na ponte do Guaíba o ônibus tricolor que viria, provavelmente com a sua sorte selada, transformando o trajeto até ao Olímpico num cortejo fúnebre, já que até um caixão azul construíra. Mudança de planos à vista. 

Chega a última rodada e ela marca um Grenal nos Eucaliptos, dia 16 de Dezembro. O time do técnico Sérgio Moacir bate o rival em sua casa por 2 a 0 com ambos os tentos marcados por Marino. Resumo da ópera: Igualados. Há necessidade de um jogo extra, desta vez a ser realizado no Olímpico, ainda não Monumental. 

Curiosamente a decisão somente seria realizada em Fevereiro do ano seguinte. Com este time da foto (Em pé:Ortunho, Altemir, Henrique, Elton, Airton e Renato; agachados: Marino, Joãozinho, Ivo Diogo, Milton e Vieira) contra o Inter de Gainete, Zangão, Ari Hercílio, Cláudio Dani e Soligo; Bandeira (Piloto) e Osvaldinho, Sapiranga, Mauro, Flávio Bicudo e Gilberto Andrade; o Tricolor bateu por 4 a 2 com show do ex-colorado Ivo Diogo fazendo 2 gols, Joãozinho e Vieira completaram o placar. Flávio e Soligo descontaram para o Colorado. 

Um feito e tanto, porque pavimentou a estrada vencedora que levaria até ao Hepta em 1968. 

Uma jornada épica, verdadeiramente Imortal.


14 -  Houve uma vez um Gauchão - 1976


O Gauchão de 2012 está chegando ao final; mais duas ou três semanas e ele será passado. Civilizou-se, modernizou-se, há mais dinheiro, maior divulgação, ganhou até um sobrenome de multinacional. Como diria o saudosista: É o progresso!

 Pois confesso que tenho saudades daqueles tempos de piá ou adolescente, onde fui hepta, amarguei um octa e encontrei o paraíso em 1977 com Telê, André, Tadeu & cia. Tempos em que qualquer jogo no interior era parecido com La Plata, campo do Estudiantes argentino. Várias lendas.

 Conta-se que na Pedra Moura, em Bagé, o centro-médio Orcina jogava com um rebenque enroscado no braço, zelando pela  meia-lua de sua área; em São Borja, o zagueiro Cassiá, noutra lenda corrente, trazia na cintura um facão três listras, bem secundado pelo seu goleiro surdo Alcino, com sua cara de poucos amigos e em Passo Fundo; bem, aqui merece uma pausa, um longo suspiro para reverenciar a dupla mais assustadora do futebol gaúcho: os irmãos Pontes, João e Daison, neste caso, a lenda era mais criativa.

 Conta-se que a marcação das linhas da grande e pequena áreas era feita com as esporas de rosetas chilenas que eles ajustavam nas suas chuteiras. Homero, o grego, se vivo fosse, escreveria a continuação da Ilíada e Odisséia, apenas com os feitos destes gaudérios.

 Havia Bebeto, o centro-avante que tinha um canhão em cada pé.  Pois, para ilustrar uma dessas jornadas, busquei um épico jogo realizado em junho de 1976. Enquanto o Inter sofria para empatar com o São Borja lá nas Missões, o Imortal ia até o estádio Wolmar Salton na temida Passo Fundo, enfrentar o Gaúcho. 

O Tricolor estava fortíssimo pela ação do presidente Hélio Dourado. Trouxera Cejas, um goleiro argentino fantástico, Alexandre Bueno, apelidado Tubarão porque era um líder com a camisa 10, já havia Zequinha, o ponta direita mágico, além deles; Alcino, um centro-avante com 1,98 m, uma fortaleza de músculos e malvadeza, mais Oscar Ortiz, fantástico ponta-esquerda que dois anos depois seria campeão do mundo pela Argentina.

 O primeiro turno o tricolor conseguira batendo o tradicional rival por 2 x 0, gols de Alexandre e Anchetta; se ganhasse o segundo praticamente seria o Campeão depois de sete longos anos. 

Pois nesse 25 de junho, o estádio estava lotado, o campo embarrado e os Pontes haviam cedido os seus postos para dois herdeiros da mesma linhagem; Mário Tito e Gringo que batiam até na sombra. Com Iúra no lugar de Alexandre, suspenso, e Chico Spina no de Zequinha, o Tricolor vinha quase completo: Cejas, Eurico, Anchetta, Beto Fuscão e Bolívar, Jerônimo, Neca e Iúra, Chico, Alcino e Ortiz. Durante o decorrer entrariam Tarciso e Luis Carlos, um meia-esquerda canhoto.

 No Gaúcho, um ataque temível com a dupla Pedro e Bebeto. Como era de se esperar, o jogo foi guerreado e a disputa, palmo a palmo.  Touceira a Touceira.

Termina o primeiro tempo com o placar fechado. No recomeço, logo aos três minutos, aproveitando um rebote na entrada da área, Anchetta driblou um zagueiro e com calma "tirou" o bolo que estava à sua frente e colocou no canto. 1 a 0.

 Aos 10 minutos Bebeto passa pela zaga, lança para Pedro, este dribla Cejas e só não "entrou com bola e tudo, porque teve humildade". Seguia a peleia sem uma definição.

 Aos 34, o artilheiro do interior se fez presente; Bebeto roubou a bola de Jerônimo, passou para Pedro que devolveu de cabeça, o centro-avante sequer deixou a pelota cair no solo, antes, acertou um petardo no ângulo esquerdo de Cejas.  Como de hábito, o canhão funcionou. 

Parecia o fim. Parecia, eu disse! Aos 38 minutos, Tarciso que entrara na ponta-direita, cobrou escanteio, Anchetta (considerado o melhor da partida) cabeceou no meio da zaga e a bola sobrou para Eurico. O lateral chutou forte, a bola bate na trave e na volta, nas costas do goleiro Ronaldo. Gol. 2 a 2. Os gremistas já estavam satisfeitos, pois com os dois grandes empatando, a diferença permaneceria em 1 ponto. 

Aos 44 minutos, um chuveirinho da direita, encontrou Alcino, a Estrela de Belém, apelido lhe dado por Paulo Santana, porque sua origem era o Remo da capital paraense, de costas para o gol, cabeceou e decretou o 3 a 2 final.

 Na foto, Alcino está encoberto  por Tarciso, Beto Fuscão, Jerônimo e Cejas; Neca está próximo (na comemoração). Vitória da garra, da raça, do fardamento embarrado. Em sua coluna no jornal, o colorado Ibsen Pinheiro decretava: "Pintou Azul", dedicando a crônica a inevitável reconquista da hegemonia gremista que se vislumbrava ali em frente.

 Infelizmente, o Grenal do segundo turno teve uma atuação infeliz do árbitro José Luiz Barreto que validou um gol ilegal e o sonho ficou adiado para o ano seguinte.

 Este Grêmio e Gaúcho foi um típico jogo de Gauchão. Agora são novos tempos, o resto é passado. É lenda.




15 - Cenas de uma Imortalidade - 1981



Hoje, 03 de Maio marca mais um aniversário do primeiro título brasileiro do Grêmio. Jogo inesquecível no distante ano de 1981; Morumbi lotado, São Paulo, uma máquina e o Tricolor do Seu Ênio ganhando com golaço do Baltazar. Mas, olhem! A verdadeira decisão veio três dias antes, quinta-feira, 30 de Abril (o melhor presente de aniversário que ganhei do meu clube). 

Naquela noite o Brasil testemunhou cenas de uma Imortalidade que já estava no seu "dna", mas ainda imperceptível para o grande público brasileiro.

 O Grêmio vinha ansioso para a decisão, porque o eterno rival já havia conquistado três títulos  nacionais e ele sabia que não poderia deixar escapar aquela oportunidade; essa ansiedade era também consequência do terrível jogo da semifinal, pois após vencer a Ponte Preta em Campinas por 3 a 2, perdera por 1 a 0 no Olímpico hiper-lotado com gol do nosso futuro ponta-de-lança Osvaldo, campeão mundial em 1983.

Pois bem, o Tricolor paulista possuía nove jogadores de Seleção, por isso, mesmo jogando em casa, poucos acreditavam no Grêmio. 

O jogo foi eletrizante, aos 15 minutos, Tarciso sofreu pênalti que Baltazar bateu e pela primeira vez errou. Jogou pelo lado da trave direita de Waldir Peres, dando indícios que seria uma jornada dramática, pois jogava melhor, mas a bola teimava em não entrar. 

Desgraça pouca é bobagem! Aos 39 minutos, o artilheiro do Brasil, Serginho fez o seu e o primeiro tempo encerrou com o placar desfavorável, 0 a 1. 

Ênio Andrade inova, tirando no intervalo o centro-médio China (na foto, à esquerda do goleiro Leão) e coloca um meia que mais parece atacante, Renato Sá (o último agachado). 

No primeiro minuto do período final, o ponta-direita Paulo César acerta a cabeça do capitão Émerson Leão. O goleiro desmaia e sai de ambulância para o hospital. Entra Remi, um dos piores goleiros da história tricolor. Ali, naquele momento, eu joguei a toalha. Só por milagre. 

Tudo conspirava contra. Porém, o Grêmio tinha o craque do campeonato, a "Bola de Ouro" da revista Placar seria dele após estes jogos finais: Paulo Isidoro (o segundo agachado). Ele e Renato Sá empurraram o São Paulo para a defesa e que defesa! Waldir Peres, Getúlio, Oscar, Dario Pereyra e Marinho Chagas. Deu certo! Paulo Isidoro, o Tiziu, virou o placar, fazendo aos 19 e 31 minutos os tentos numa partida verdadeiramente épica. 

Havia no estádio mais de 53.000 pessoas. O Grêmio jogou com Leão, depois Remi, Uchoa(o quinto em pé), Newmar, De Leon e Casemiro;China, mais tarde Renato Sá, Vilson Tadei e Paulo Isidoro; Tarciso, Baltazar e Odair. Por essas armadilhas da História, ficou para a memória, o jogo da volta em São Paulo, mas lá dava até para empatar. A verdadeira decisão, repito, com cenas da nossa Imortalidade, ocorreu naquela inesquecível noite de quinta-feira, dia 30 de Abril. Um senhor presente de aniversário.

4 comentários:

  1. Baita histórias, Bruxo! É lógico que na de 62 eu não encaixo, mas nas outras duas, lembro bem dos detalhes e por isso, a medida que vou lendo, crio o filme que rememora os fatos. Poderia ilustrar cada detalhe com fichas e estatísticas, porém, acredito que os textos consigam mostrar bem como era o futebol naquela época em que saíamos da adolescência para a fase adulta. Sensacional! Quando ouço ou vejo a "gurizada" moderna falar de alguns boleiros da atualidade, fico analisando o que não falariam se tivessem visto alguns atletas da dupla GRENAL jogar futebol. Ortíz e Lula; Cejas e Manga; Ancheta e Figueroa; Carpegiani e Alexandre Bueno; Falcão e Yúra; Dario e Alcino; Valdomiro e Zequinha, para ficar só em alguns nomes. E toda essa gente estava em POA, na nossa dupla. Excelente! Grande memória e ótimas imagens na descrição dos fatos.

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  2. Pois é, Alvirubro!
    O fato é que este pessoal considera isto outra época, que Pelé não seria Pelé hoje, que o Figueroa era inferior ao Índio.
    Não os condeno, porque quando o meu pai falava do Lara, Danilo Alvim, Leônidas, Heleno de Freitas e outros, sabe o que eu dizia? Que eram outros tempos. Só mais tarde passei a valorizar estas feras.

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  3. Neste jogo do dia 30 de abril eu fui no Olimpico...um jogaço
    Quando voltei pra casa no Partenon la pela 1h da manhã...ouvi muito choro na minha rua.
    Meu vizinho tinha morrido nas cadeiras quando o Baltazar errou o penalty...
    Depois o filho dele virou coloradaço...muito chato...kkk
    Mas não tiro a razão...ficou órfão ainda criança...mas é a vida
    O jogo do Morumbi eu não consegui ver pela TV...muito nervoso
    Tomei um porre de vinho e dormi...acordei nos acréscimos com o foguetório...
    Porto Alegre veio abaixo...muita festa
    Abraços

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  4. 52 Fenix
    Cada um tem a sua lembrança. Eu fiz 22 anos nesse dia, o melhor presente do Imortal.Essa tua é meio macabra, infelizmente. É a vida.

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