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sábado, 9 de agosto de 2014

Pequenas Histórias

Estamos fazendo as Três últimas (re)postagens; daqui para frente, apenas novas Pequenas Histórias.


41 - Um Dia na Vida do Rei - Ano 1964
Esta história é conhecida de boa parte dos brasileiros; o dia em que Pelé virou goleiro. Há várias informações nos diversos sites, mas curioso como só eu sou, desconfiei que as causas da derrota do Imortal ficaram escondidas pelo fato maior: a singular atuação do Rei. Vou expô-las abaixo. 
Foi em 19 de Janeiro de 1964. Havia um torneio chamado de Taça Brasil que reunia os campeões estaduais em partidas de ida e volta tal qual hoje é a Copa do Brasil. O time da Vila Belmiro era bicampeão mundial, título conquistado dois meses antes, em Novembro numa "negra" contra o Milan, 1 a 0, gol do zagueiro Dalmo. 
Pois bem! Naquele Janeiro, "Os Ciganos Mágicos" como eram conhecidos os craques santistas enfrentaram o Grêmio pelas semifinais. Primeira partida, dia 16, estádio Olímpico com 50.000 torcedores e os paulistas não tomaram conhecimento, aplicando 3 x 1, gols de Paulo Lumumba (Grêmio); para o Peixe marcaram Coutinho, duas vezes e Pelé.
 Três dias depois, o palco foi o Pacaembu e este clássico nacional entrou para a história do futebol mundial, porque nele, o Rei, eterno "bodoque", virou "vidraça" ao vestir a camiseta negra, número 1 do grande arqueiro Gilmar, expulso por ofensas ao juiz.
 Pela leitura dos jornais da época dá para deduzir que foi um jogaço que exigiu demais dos goleiros Alberto e Gilmar. O Santos abriu o placar aos 6 minutos com o ponta-esquerda Pepe, cobrando falta. O Tricolor com grande atuação do atacante Paulo Lumumba virou com 2 tentos dele, aos 9 e 11 minutos mais Marino aos 14. Uma virada relâmpago. Aí entra em campo um aliado do time da Baixada Santista: o árbitro Teodoro Nitti.
Os dois jornais que pesquisei classificaram de "calamitosa arbitragem", utilizando frases como "... flagrante auxílio da arbitragem...". Aos 30 minutos, ainda da primeira fase, Valério chocou-se com Pelé fora da área e incontinenti, o juiz marcou penalti. Pelé cobrou e diminuiu para 2 a 3.
 Vem a etapa final e a virada santista; Pelé aos 13 empata; faltando 5 minutos para o fim, Airton e Pelé se enfrentam dentro da área e o árbitro vê apenas a mão do "Pavilhão" sobre o ombro do Rei; resultado: nova penalidade máxima que o camisa 10 bateu com maestria; 4 a 3. 
Um minuto após, curiosamente o juiz expulsa o goleiro santista. A massa vibra ao ver Pelé trocar de camisa e se dirigir para o arco santista. Jogou pouco mais de 5 minutos e fez algumas boas defesas, entre elas este "peixinho" (estou sendo fiel ao texto) da foto acima, junto aos pés de João Severiano, o Joãozinho. 
No final, ficou a reclamação veemente do presidente gremista, Renato Souza que afirmou "que esse juiz não apita mais jogos do Grêmio", também o técnico Carlos Froner fez grandes acusações pela atuação infeliz que desequilibrou a partida. O Santos avançou, pegou o Bahia e se tornou campeão. Nesta semifinal jogou com Gilmar (Pelé); Dalmo, João Carlos (Joel), Haroldo e Geraldino; Zito e Lima; Batista, Coutinho, Pelé e Pepe. O técnico, Lula. 
O Imortal foi a campo com Alberto; Valério, Airton, Áureo e Ortunho; Cléo e Milton; Marino, Joãozinho, Paulo Lumumba e Vieira. 
Segue um vídeo deste jogaço que por coincidência (ou não) não mostra os lances de penalti, apenas as cobranças. Embora goste dos Beatles, achei que não "casou" o áudio com o vídeo, aconselho a ver sem o som.

42 - Altos da Glória - Ano 1989
Corria o ano de 1989, mais exatamente Abril, sendo mais preciso, dia 30, Domingo, uma data especial para mim, meus 30 anos. Pois aquele momento se revelou como crucial para o nosso Tricolor; uma encruzilhada na Vacaria.
 O campeonato gaúcho possuía 14 participantes e o regulamento previa num dado momento do certame, a divisão entre um octogonal que disputaria o título e um hexagonal, apelidado de “da Morte”, que definiria dois rebaixados. 
O Grêmio era um arremedo diante de sua grandeza, chegou a última rodada desta fase de definições de grupos à perigo; tropeçava fora e também em sua casa. Assim sendo, muitos profetizavam a queda para o hexagonal da Morte, podendo ser, ainda que remotamente, rebaixado no Gauchão. 
Para evitar isso, sua missão marcava uma façanha; derrotar o Glória da Vacaria, simplesmente o líder do campeonato num confronto em seus domínios, o estádio chamado Altos da Glória, onde estava há 24 jogos sem perder, isto é, quase 1 ano.
 Escrevi que era um arremedo, mas isso é uma meia-verdade; com aqueles jogadores o clube poderia disputar o título brasileiro, tal era a qualidade da maioria de seus integrantes. Faltavam pequenos ajustes que o então jovem presidente Paulo Odone ousou fazer.
 Naquela semana que antecedeu a peleja, trouxe numa tacada três reforços, o quarto-zagueiro multicampeão Edinho, capitão de Telê na Copa de 86 e o centro-médio Jandir, ambos do Fluminense mais Hélcio, um nome para resolver o problema da lateral-esquerda. 
E lá foram eles subir à Serra Gaúcha em busca do improvável; vencer o indigesto Glória, presidido por Francisco Schio, um dos maiores produtores mundiais de maçã, homem que botou grana no representante da cidade que era dirigido pela velha raposa Daltro Menezes, um lendário técnico que quebrou a hegemonia gremista em 1969, treinando o Coirmão. 
A cidade serrana passou a semana se preparando para o maior confronto da história do seu clube; mais de 8 mil pessoas superlotaram o estádio e uma eletricidade tomou conta do ar. Para o Grêmio, repito: era a encruzilhada do clube naquele ano. Ou ia ou rachava. 
Início de jogo e Cláudio Duarte, técnico do Tricolor trata de neutralizar o meio da equipe azul da Serra, assim o ataque ficou desabastecido e o ânimo da equipe locatária foi arrefecido. Os estreantes do Imortal pareciam à vontade naquele jogo truncado, de muitas faltas. O Glória parava no ferrolho tricolor. 
A estratégia funcionou tão bem que aos 30 minutos os visitantes, já arriscavam o ataque, assim chegaram ao primeiro gol. Almir, lançado por Paulo Egídio, ou seja, de ponta para ponta, dribla o lateral Francisco, entorta o zagueiro Wladimir e fuzila o experiente arqueiro Gasperin. 1 a 0. Fim do primeiro tempo.
 No retorno o Glória vem com tudo e chega às redes tricolores com Rubinho, mas estava impedido, o bandeirinha marca a irregularidade, o juiz Carlos Martins confirma a anulação e a temperatura sobe; há invasão de campo, empurra-empurra e a partida fica paralisada. 
No reinício, numa disputa entre Paulão e Kita, o centro-avante tem afundamento do malar; nova paralisação. Entra em seu lugar Marcus Vinícius, que em seguida sofre pênalti muito contestado pelo Glória. Edinho (foto) cobra com perfeição. 
O drama gremista aumenta quando o árbitro expulsa o capitão Edinho aos 33 minutos. Aos 37, o artilheiro Zé Cláudio desconta. Nos acréscimos, Cuca amplia, mas é marcado impedimento. Permanece o escore perigoso. Um empate e o Grêmio teria que encarar o indesejado hexagonal. A partida vai até os 61 minutos. O Imortal vence e comemora muito.
 À partir de Vacaria, começou uma trajetória vencedora que incluiu o título do pentacampeonato regional e a conquista invicta da primeira Copa do Brasil. O time que era muito bom, finalmente dera "liga". 
O Grêmio venceu, contando com Mazzaropi; Alfinete, Luiz Eduardo, Edinho e Hélcio; Jandir, Cristóvão e Cuca; Almir, Kita (Marcus Vinícius) e Paulo Egídio (Amaral).
 Naquele final de Abril, o nome do estádio, Altos da Glória parecia prenunciar profeticamente a ascensão de uma equipe que marcaria a história do Imortal no cenário brasileiro.

43 - Quatro Vezes Marino - Ano 1963

Dia Primeiro de Maio comemoremos o cinquentenário do Grenal 166, 4 a 1 para o Imortal. O que tem ele de especial? Verdade! Goleadas do Tricolor foram muitas, mas esse marca a última vez que um único jogador fez quatro gols no clássico maior do Sul. Esta façanha coube a Marino, Marino da Silva, um atacante que começou a sua carreira no Aymoré de São Leopoldo, jogava como ponta-direita e quebrava o galho como centro-avante quando preciso e que naquele dia estava iluminado.
 O confronto foi realizado no Olímpico e teve como juiz, Fortunato Tonelly. Com um início equilibrado, a partida não passava a impressão de terminar com um placar elástico; assim foram os primeiros 20 minutos, mesmo que aos 12, o Inter tenha aberto o marcador numa cobrança de falta perfeita do centro-médio Paulo Araújo. Alberto nada pode fazer.
Após a metade da etapa inicial, a superioridade gremista sobressaiu e a virada era questão de poucos minutos. Aos 24, Joãozinho, que viria a ser o craque ao lado de Marino, lança Vieira que ajeita de cabeça para Marino fuzilar o arco colorado. Aos 31, Beno, goleiro vermelho, vacila e larga a pelota, após um arremate e o ponta-direita empurra para as redes, determinando o 2 a 1, placar que fechou o primeiro tempo.
 A etapa final começou no mesmo ritmo, como se não houvesse intervalo e cedo o Imortal chegou ao terceiro; o lateral Renato cruzou da direita, o goleiro Beno falha e Marino, outra vez encosta para o fundo do gol. Aos 8 minutos, a infelicidade de Beno aumenta, quando erra a saída do arco, larga nos pés de Cléo que passa para Marino selar a goleada. 4 a 1.
 Os jornais destacaram, além do quase inusitado quatro gols de um único atleta, as boas jornadas de Cléo e principalmente do camisa 8, João Severiano, o Joãozinho. 
As equipes foram a campo com (Grêmio) Alberto, Renato, Airton, Altemir e Ortunho; Cléo (Gilnei) e Milton; Marino, Joãozinho, Paulo Lumunba e Vieira. Inter de Beno; Zangão, Ari Hercílio (Carlos Alberto), Osmar e Soligo; Paulo Araújo e Gaspar; Sapiranga, Cacildo, Flávio e Bedeuzinho. Entraram ainda Cará e Gilberto. 
O Grêmio caminhava para o bicampeonato, fechando 7 títulos em 8 anos. Com  essa jornada, Marino definitivamente entrou para a história dos Grenais, pois em mais de meio século, não viu o seu feito ser igualado.

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