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domingo, 28 de dezembro de 2014

Pequenas Histórias



Pequenas Histórias (75) - Ano - 1970


Um herói (quase) anônimo e efêmero




Arrisco dizer que na infância, especialmente na dos meninos, além de heróis para a vida toda, aparecem alguns que são desconhecidos e passageiros. Às vezes, temos dificuldade em lembrar seus nomes ou posicioná-los na nossa linha de tempo afetiva.

Na virada dos 60 para 70, nos degraus da frente de minha casa, à noite, visualizava os postes de iluminação de uma quadra de futebol de salão (o atual futsal). Como a vida no interior era tranquila, eu e meu irmão mais o vizinho da mesma idade, íamos assistir aos jogos que duravam 1 hora cada. Havia um time com o uniforme do Botafogo, que se chamava "Caveira". Na minha cabeça, só composto de craques. Tinha o Mancha que pegava tudo, um fixo atarracado, um verdadeiro paredão e um ala muito técnico, que era chamado de professor. 

Ídolos fugazes e sem identidade, apenas referências, apelidos. O tempo passou e descobri que o Mancha se tornou dono de uma pastelaria, que já fechou. O fixo atarracado era policial militar, aqui no Sul, brigadiano e o professor era ... professor. De escola pública.

Povoaram e enriqueceram a minha infância. Praticamente saíram de cena, já na adolescência.

Do Grêmio, eu quase ficara órfão de ídolos, situação provocada pelo desmanche do time hepta-campeão. Daquele time de 68, cujos nomes eram recitados como uma oração; dois anos passados, sobrava apenas o lado esquerdo, o lateral Everaldo e o ponta Wolmir. Craque mesmo, só Everaldo.

Assim, eu e todos os gremistas entramos na década trágica, a de 70. Não havia ídolos naquele ano. O time base era o da foto; em pé: Arlindo, Espinosa, Jadir, Ari Hercílio, Beto Bacamarte e Everaldo; agachados, Banha (massagista), Flecha, Caio Cabeça, Paraguaio, Gaspar e Wolmir.

Pois esse time foi ao Maracanã em duas quartas-feiras consecutivas, 7 e 14 de Outubro, enfrentar Fluminense e Botafogo pelo Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, isto é, o campeonato brasileiro da época. O Flu seria o campeão daquele ano.

Contra o time das Laranjeiras, o Tricolor se deu mal, 2 a 1, gols de Lula e Marco Antônio. Segundo o meu pai, com uma ajuda providencial do juiz.

Já na partida seguinte no Mário Filho, com este time da foto, mais Di, que entrara no segundo tempo, o Tricolor contou com o talento do centro-avante Paraguaio que fizera o gol solitário na derrota contra o Pó-de-Arroz, sete dias antes. Neste, marcou dois, um logo a 1 minuto e o segundo aos 44 da etapa inicial. Paulo Cesar Lima, ainda não era Caju, fez aos 44 do segundo tempo. 

Paraguaio, o que está sentado na bola (foto) era cirurgião dentista, criado na base gremista, nunca se firmou no time de cima, mas com esses três gols no Maraca, despertou o interesse do clube da Estrela Solitária e no ano seguinte estava lá no Rio, metendo seus gols ao lado de Jairzinho, Paulo Cesar Lima, Fischer e outros.

Naquele Outubro de 70, naquelas duas noites de quarta-feira, ele foi o meu maior ídolo, uma majestade de reinado curto, mas de muita alegria para, pelo menos, um de seus súditos.

Paraguaio faleceu em 29 de Agosto de 1996, vitimado por um infarto. Sequer sei seu nome verdadeiro.




2 comentários:

  1. Bela história sobre Paraguaio, Bruxo.

    Clóvis Moreira Rodrigues
    DN: 03/11/1945 - Farroupilha, RS.
    DF: 29/08/1996

    Pelo Grêmio atuou 71 vezes e marcou 28 gols.

    Jogou nos seguintes Clubes: Grêmio - RS (1966), Farroupilha - RS (1967), Pelotas - RS (1968), Cruzeiro - RS (1969), Grêmio - RS (1970), Botafogo - RJ (1971), América - RJ (1971), Náutico - PE (1972 a 1975), Central - PE (1976).

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    1. Obrigado, Alvirubro
      Tinha certeza que o amigo me atualizaria com os dados.
      Procurei o nome do Paraguaio na rede mundial e não o encontrei.
      Um abraço.

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