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domingo, 30 de dezembro de 2018

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (206) - Ano - 1920


Nasce uma Lenda

Fonte: Correio do Povo
Com a iminente saída de Marcelo Grohe, o Grêmio perde seu goleiro titular de longos anos, mas o vê ingressar no panteão dos arqueiros que fizeram história no clube por associar seus nomes a grandes fases da instituição:  Germinaro, Alberto, Danrlei são exemplos de goleiros que iniciavam as escalações vitoriosas das grandes eras de conquistas tricolores.

No entanto, em que pese a passagem dos anos, ninguém consegue superar a trajetória de Eurico Lara por vários motivos: Longa permanência, pela qualidade de seu jogo, pelos títulos e, principalmente, pela forma como ocorreu o encerramento de sua carreira: Uma conquista fantástica num Grenal, seu último contato com as quatro linhas e a morte prematura em 06 de Novembro de 1935 (a foto acima é do dia seguinte, registrando o seu passamento no Correio do Povo), dezesseis dias após o clássico vencido por 2 a 0. Lara não pode dar a volta olímpica.

Ele começou a escrever sua bela carreira no Grêmio no dia 15 de Junho de 1920, uma Terça-feira à tarde na Baixada contra o Juventude de Caxias do Sul.

Lara teve como parceiros os backs Assumpção e Jorge Py, os halfs Dorival, Costinha e Moreno, os forwards Gertum, Máximo, Lagarto, Ramãozinho e Bruno. O Grêmio entrou com uniforme branco.

O Juventude com: Nicolau; Bado e Bertegaray; Muratori, Luisê e Menegato; Edemor, Gregollo, Martinez, Zanella e Gregio.

Os capitães Martinez e Lagarto decidiram o "toss", o gremista escolheu o lado do campo, a saída coube aos serranos.

O Tricolor foi forte ao ataque e por três vezes quase abriu o marcador; por Máximo, duas e Ramãozinho.

Dois minutos após o primeiro corner tricolor, o "mignon" atacante Ramãozinho marcou com um chute cruzado. 1 a 0.

Assim que a bola saiu do centro, o Juventude avançou e Martinez mandou um torpedo que obrigou a primeira grande defesa de Lara com a camisa gremista, mandando para escanteio.

Logo no primeiro lance importante, após o escanteio, Lara pratica sua segunda defesa difícil.

O terceiro momento importante ofensivo dos visitantes, o arqueiro gremista afasta com um soco  a ação de Gregollo.

O primeiro tempo encerrou 1 a 0 para o Imortal.

Gregollo tentou novamente com um arremate bem defendido pelo estreante azul.

O Grêmio reagiu e por duas vezes, Lagarto e Máximo quase marcaram, o goal-keeper Nicolau fez ótimas intervenções que mantiveram o placar da etapa inicial.

Bruno arrematou forte e Bado defendeu com a mão; penalidade assinalada que Gertum converteu. 2 a 0.

A seguir, uma cena impossível de se ver hoje. O árbitro marcou uma segunda penalidade para os locatários, que foi prontamente contestada pelos atletas do Juventude. Bastante irritados, seguiram reclamando. Lagarto, o capitão, combina que o arremate será nas mãos do arqueiro juventudino. Ele atrasou o chute até os braços de Nicolau, porém, o goleiro irritado pela "gentileza" (queria a anulação da penalidade), saiu do lance e deixou a pelota entrar mansamente em seu arco. 3 a 0.

Após esse expediente, o jogo caiu bastante de qualidade e ambos os times trataram de evitar as jogadas mais ríspidas.

Assim foi a estreia do maior goleiro de todos os tempos, nome de rua, máscara mortuária no museu e o único atleta de um grande clube brasileiro a ser homenageado na letra do hino.

Fonte:  jornal "A Federação"










21 comentários:

  1. Excelente história, Bruxo!

    No Grêmio, Lara atuou de 1920 a 1935, com a interrupção do ano de 1928, quando jogou pelo Foot Ball Club Porto Alegre.
    Eurico Lara foi além dos limites do velho Fortim da Baixada. Tornou-se personagem do futebol gaúcho e brasileiro.
    Não há como contar a história do futebol no Brasil, sem abrir um capítulo para tratar do goleiro Lara.
    Há passagens intrigantes sobre o "goalkeeper" gremista, publicadas nos jornais da época, pelo Brasil afora.

    Alguns exemplos:

    Em 10.07.1927, Grêmio x Cruzeiro empatavam em 1x1, pelo Campeonato Citadino de Porto Alegre.
    O árbitro João Barcellos, criticado durante o decorrer do 1º tempo, e por sofrer várias reclamações, principalmente de Lara, recusou-se a apitar o 2º tempo.
    No intervalo, rapidamente, os dirigentes da Associação Porto Alegrense de Desportos (APAD) procuraram um novo árbitro para dar sequência ao jogo.
    Nesse espaço de tempo, João Barcellos aproximou-se de Lara e Nestor (capitão do Cruzeiro), que comentavam a sua atuação, durante o 1º tempo.
    Uma discussão tem início e Lara, irritado, agride a Barcellos com dois socos. O árbitro corre para o meio do campo, sendo perseguido por Lara e por outros atletas do Grêmio.
    Resultado do incidente: o 2º tempo foi cancelado por decisão dos dirigentes da APAD.
    Em 12.07.1927, a APAD suspendeu Lara por 8 jogos. O 2º tempo do jogo foi remarcado e seria disputado em 31.07.1927. Acabou nem sendo jogado, pois o campeonato estava decidido.
    Logo depois, a APAD cancelou a punição de Lara, que restringiu-se a 2 jogos.
    ............................................

    Em 01.11.1930
    "MORREU EURICO LARA, O GRANDE KEERPER GAÚCHO
    Do Rio Grande nos vem a triste notícia da morte de grande keeeper riograndense Eurico Lara, figura destacada no futebol brasileiro e elemento de positivo valor nos seleccionados gaúchos disputantes dos campeonatos nacionaes.
    Lara morreu em combate, servindo a causa da revolução."
    Notícia publicada em 1º de Novembro de 1930, na Seção do Correio Sportivo, do Correio da Manhã.
    De fato, Lara não morreu. O falecimento só se daria vários anos mais tarde. Mas a notícia foi dada como definitiva.
    Teria sofrido algum ferimento, durante a campanha?
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    Em 29 de Outubro de 1935, o Correio da Manhã, da Capital do Brasil, publicava que a 27 de outubro, Eurico Lara havia falecido, "victimado por uma doença de coração".
    A causa da morte e a data do falecimento são diferentes daquelas publicadas.
    ............................................

    Veja que várias histórias se formaram, tendo como destaque o goleiro, que por certo reforçam cada vez mais a figura de liderança de Eurico Lara, no time do Grêmio e na Seleção Gaúcha.

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  2. Excelente, Alvirubro
    O cara extrapolou os fatos dentro das quatro linhas. Um fenômeno. Uma Lenda.

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    1. Grande lembrança Bruxo. Meu avô viu jogar o grande "Calavera" (como era chamado por alguns conhecidos), em especial era amigo de batalha em 1930. Sobre o fato de ferir-se, não sei, mas meu velho avô (vivo com 107 anos) disse que nunca viu alguem lutar dentro e fora do campo como Lara. Uma lenda não só como jogador, mas como pessoa. Correto, leal, destemido. Meu avô o comparava com Giuseppe Garibaldi.

      Sobre os fatos em campo, exímio pegador de pênaltis (talvez o Alvirubro possa trazer os números), defensor de bolas quase indefensáveis e muito ágil nas intervenções. Morava na velha Baixada, cuidava do campo (da pouca grama que existia lá), do material esportivo do tricolor e treinava os filhotes tricolores. Uma verdadeira lenda mundial....

      Alvirubro, tens dados dele?

      Rafael-SC

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    2. Pra ele agredir o árbitro, o cara devia tá fazendo besteira em campo.

      Rafael-SC

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    3. Grande, Rafael!
      O meu pai nascido em 1910, assistiu vários jogos dele e o derradeiro, o Grenal Farroupilha de Setembro de 1935. Falava muito bem dele.

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  3. Sobre Marcelo Grohe, está entre os cinco goleiros que mais atuaram com a camiseta tricolor. Já é uma história e tanto:

    DANRLEI - 588 jogos; 272 vitórias; 154 empates e 162 derrotas.
    MAZAROPI - 425 jogos; 218 vitórias; 132 empates e 75 derrotas.
    MARCELO GROHE - 408 jogos; 212 vitórias; 105 empates e 91 derrotas.
    SÉRGIO MOACYR - 293 jogos; 166 vitórias; 62 empates e 65 derrotas,
    VICTOR - 263 jogos; 146 vitórias; 52 empates e 65 derrotas.
    ..................

    Opinião pessoal: ainda voltará ao clube.

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    1. A média do Mazaropi é fantástica: 0,17 ou 17% de derrotas.

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  4. Rafael
    Se tu tens material com lembranças do teu avô, se quiseres colocar algo no blog. Fique à vontade.
    Como tu sabes; aqui é apenas um encontro de torcedores, não tem fins lucrativos ou algo parecido, mas pode ter repercussão na mídia. Abraços.

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  5. Mais sobre a estreia dele: PH 58
    https://bruxotricolor.blogspot.com/2013/12/pequenas-historias.html

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  6. Prepararei um material e logo postarei Bruxo. Obrigado pelo espaço.

    Rafael

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  7. Dos que vi jogar, ainda acho Geraldo Pereira de Matos Filho, conhecido como Mazaropi, o melhor de todos. O mais frio, o mais técnico, melhor posicionamento, pouquíssimos gols de falta sofridos (AlviRubro pode confirmar). Ídolo, acima de tudo. Depois dele vem Grohe, Victor e Danrlei. O nível entre estes é muito alto.
    Caco Vaccaro

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    1. Mazaropi - Média de gol por jogo: 0,79
      337 gols sofridos.
      11 gols de falta.
      23 gols de pênaltis (dentro dos 90 min de jogo).

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    2. Mazaropi, Lara, Alberto, Victor e Marcelo Grohe os grandes pegadores de pênaltis da história gremista. Alvirubro, tens em quais jogos e quais o jogadores de que eles defenderam os pênaltis?

      Rafael

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  8. Caco
    Obrigado por mencionar Mazaropi, corrigindo um erro colossal meu em não enumerá-lo na postagem acima.
    Mazaropi é um caso interessante; no Vasco passou a maior parte da carreira como reserva do grande Andrada, um argentino que chegou a ser cogitada a sua naturalização para atuar pelo Brasil e o não menos grande, Émerson Leão.
    Dos arqueiros citados pelo Alvirubro, ele tem a média menor de gols sofridos.

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    1. Daqueles cinco que mais jogaram, eis a média de gol, por jogo:

      DANRLEI - 588 jogos; 660 gols. Média de gol por jogo: 1,12
      MAZAROPI - 425 jogos; 337 gols. Média de gol por jogo: 0,79
      MARCELO GROHE - 408 jogos; 324 gols. Média de gol por jogo: 0,79
      SÉRGIO MOACYR - 293 jogos; 396 gols. Média de gol por jogo: 1,35
      VICTOR - 263 jogos; 282 gols. Média de gol por jogo: 1,07



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    2. MANGA é o goleiro com a menor média de gol sofrido, na história dos goleiros gremistas. Apesar de ter jogado pouco, em relação aos citados acima, MANGA sofria pouquíssimos gols.
      36 gols em 79 jogos. Média de 0,45 por jogo.

      É claro que o número de jogos interfere diretamente nos cálculos, uma vez que o goleiro que joga mais, pode passar por períodos ruins com o time e isso pode resultar em uma média mais alta de gols contra ele. Enfim, é sempre um dado a ser levado em conta.

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  9. Alvirubro
    Para Manga não existe má fase do time.Fenômeno.

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  10. Aliás, qual é a média dele no Inter, onde jogou vários anos?

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    1. MANGA no Internacional: 218 jogos e 116 gols - 0,53 de média.

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    2. Médias de gols sofridos, considerado os goleiros que entram em campo a partir de 79 jogos:
      MANGA - Média: 0,45
      JAIR - Média: 0,55
      LEÃO - Média: 0,58
      CORBO - Média: 0,63
      PICASSO - Média: 0,64
      REMI - Média: 0,64
      ALBERTO - Média: 0,65
      ARLINDO - Média: 0,66
      MAZAROPI - Média: 0,79
      MARCELO GROHE - Média: 0,79
      EMERSON FERRETTI - Média: 0,80
      GERMINARO - Média: 0,96
      HENRIQUE - Média: 1,00
      VICTOR - Média: 1,07
      MURILO - Média: 1,07
      LARA - Média: 1,11
      DANRLEI - Média: 1,12
      SERGIO MOACIR - Média: 1,35
      JULIO PETERSEN - Média: 1,66
      EDMUNDO - Média: 2,00

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