UMA PARTIDA MEMORÁVEL – BRASIL 1 x 0 INGLATERRA
7 de junho de 1970 - México
A seriedade com que os atletas
enfrentaram o adversário e a organização tática perfeita levaram a Seleção
Brasileira à vitória diante da grande Inglaterra, naquele 7 de junho de 1970.
Talvez a partida esteja dentre
aquelas consideradas como um enfrentamento acima da média, tamanha era a
qualidade das duas seleções. Sem dúvidas que, taticamente, foi um dos jogos
mais perfeitos já disputados em copas do mundo. Um jogo cuja intensidade dramática
reduziu ao silêncio atento a multidão de torcedores que ocupou todos os espaços
disponíveis do Estádio Jalisco, em Guadalajara, no México.
A Inglaterra perdeu de pé.
Postou-se como um grande time. Lutando até o apito final. Perdeu como uma
legítima campeã mundial. Ela, a Inglaterra, que havia conquistado a taça, em
1966, quatro anos antes, foi derrotada por uma seleção monumental, perfeita,
imbatível.
Mas, mesmo os craques brasileiros
não teriam conseguido dobrar o time de Ramsey se não tivessem se aplicado com
todas as suas forças ao esquema traçado por Zagallo. Nada foi deixado ao acaso.
Sob o sol do meio-dia, em Guadalajara, as duas seleções estudaram-se muito.
Os atletas movimentavam-se
lentamente, com a bola sendo tocada calmamente, evitando o desgaste
desnecessário, naquele forte verão mexicano. Por certo, teria sido diferente em
Wembley. Por certo, teria sido diferente no Maracanã, à noite.
Os ingleses tinham preparado um
esquema, preocupados com o sistema defensivo, para anular Pelé e Gérson. Alan
Ball iria exercer forte marcação todo o tempo possível. Os ingleses acreditavam
que Gérson jogaria (Ele machucou-se contra a Tchecoslováquia). Não contavam com
a ausência do “Canhotinha de Ouro”. Não contavam, também, com a grande atuação
de Paulo Cézar Lima, o futuro “Cajú”.
Pois Paulo Cézar foi um dos
grandes nomes da partida, junto com Bobby Moore, o capitão do time inglês.
Paulo Cézar, taticamente, esteve perfeito: ajudou o meio de campo e teve forças
para atuar pela lateral, oferecendo mais espaço para o ataque brasileiro e
evitando que o lateral Wright avançasse sobre a defesa brasileira.
Aos 11 minutos, houve uma jogada
de grande qualidade e beleza. A jogada que ficou gravada na memória de milhões
de torcedores pelo mundo afora. Jairzinho avançou em velocidade pela direita,
cruzou da linha de fundo e numa cabeçada fulminante de Pelé, de cima para
baixo, na risca da pequena área, a bola bateu no gramado, dirigindo-se para o
gol, e o extraordinário goleiro Gordon Banks salvou num milagroso mergulho. A
torcida já tinha se levantado para comemorar o gol e até hoje a emblemática
defesa é lembrada como uma das mais bonitas da história do futebol.
Definitivamente, Brasil e
Inglaterra entravam para a história dos mundiais.
Justiça seja feita a Félix,
também! Ainda no 1º tempo, num ataque inglês, Wright vai à linha de fundo e
cruza para a área. Bola alta, que passa por Piazza e Hurst, e Lee, de cabeça,
quase na pequena área, à “queima-roupa”, finaliza. Félix faz a defesa, salvando
o Brasil, e a seguir Lee comete falta sobre o goleiro. Jogo magnífico!
O Brasil passou a forçar o jogo.
Jairzinho, marcado por Cooper, levava vantagem. Cooper tinha ótimo desempenho
com a bola nos pés, no apoio. Defendendo, não tinha o mesmo rendimento. Começou
a apelar, batendo no ponteiro brasileiro. Mullery marcava Pelé em todos os
cantos possíveis. Sem tréguas. Pelé buscava o mínimo de espaço, pois tinha
poucas chances de fazer algo ou de mudar o quadro do jogo.
A marcação era tão ferrenha que,
num lance dentro da área, Pelé foi derrubado por Mullery, quando se preparava
para chutar. Pênalti! Pênalti! O juiz não deu! Putz...Talvez Pelé tenha
exagerado na cena, atirando-se ao chão. Segue o jogo.
Aos 14 minutos do 2º tempo,
Tostão, que até então pouco fizera, devido à dura marcação inglesa, decidiu a
partida numa jogada de grande categoria. Na intermediária, Tostão viu Roberto
Miranda no aquecimento e percebeu que o atacante do Botafogo tomaria seu lugar.
Sem se abalar, ele tabelou com Paulo Cézar e aplicou uma sucessão de dribles,
enfiou a bola entre as pernas de Bobby Moore, girou e lançou-a para Pelé,
dentro da área. O “Rei” dominou a “pelota”, dando um toque rápido para
Jairzinho, que chutou à meia altura, sobre o ótimo Banks, de forma
indefensável. Gol do Brasil. 1x0! Que jogo!
Alf Ramsey deu a resposta rápida
e substituiu Charlton e Lee, por Bell e Astle, partindo com toda a força para o
ataque.
Quem conhecia o estilo de
Zagallo, adotado no Botafogo desde sempre, sabia que nada era mais conveniente
para a Seleção Brasileira. Taticamente, o Brasil seguiu jogando com toda a
seriedade possível. Solidamente fechado, tocando a bola, o Brasil esperou uma
nova oportunidade, com as arrancadas de Jairzinho ou de Roberto Miranda, que
substituiu a Tostão. E as oportunidades surgiram: uma com Jairzinho e outra com
Pelé, já no último minuto de jogo, numa tentativa de encobrir o goleiro Gordon
Banks.
Já os ingleses, perderam chances!
Uma delas, numa falha de marcação, Astle, na marca do pênalti, recebeu livre e
chutou para fora. Depois, Ball, de dentro da área, no lado esquerdo, chutou de
pé direito e Félix tirou com a ponta dos dedos. A bola ainda raspou o travessão
brasileiro. A Inglaterra mostrou-se um grande time. O Brasil mostrou-se pronto
para o título. Um jogo para não esquecer.
7 de junho de 1970 – Brasil 1 x 0
Inglaterra
Local: Estádio Jalisco, em
Guadalajara (México)
Público: 66.843
Árbitro: Arturo Yamasaki
Maldonado (México)
Cartão amarelo: Francis Lee
Gol: Jairzinho 14 do 2º tempo
BRASIL: Félix, Carlos Alberto,
Brito, Piazza, Everaldo, Clodoaldo, Paulo Cézar Lima, Jairzinho, Tostão
(Roberto Miranda), Pelé, Rivelino. Técnico: Mário Jorge Lobo Zagallo
INGLATERRA: Gordon Banks, Tommy Wright, Brian
Labone, Bobby Moore, Terry Cooper, Alan Mullery, Bobby Charlton (Jeff Astle),
Francis Lee (Colin Bell), Alan Ball, Geoff Hurst, Martin Peters. Técnico:
Alfred Ernest Ramsey
por Alvirubro
O gol é simplesmente, maravilhoso.
ResponderExcluirPena Tostão ter jogado toda a Copa fora de forma.
Talvez tenha sido a partida mais tensa, mais equilibrada, qual jogo de xadrez, daquela Copa. Mesmo considerando as extraordinarias partidas da Alemanha contra a mesma Inglaterra e contra a Italia. Fiquei colado na imagem televisiva do inicio ao fim, sem saber se sairiamos vencedores. O gol foi um detalhe que determinou o vencedor. Mas so no apito final e que foi possivel comemorar. Uma das maiores/melhores partidas de futebol que ja assisti.
ResponderExcluirCom certeza, Arih.
ExcluirJogo tenso, jogo de xadrez. Este e contra o Uruguai na semifinal, ambas foram sensacionais.
Há torcedores que não tiveram a oportunidade de vivenciar essa época. Se analisarmos jogo a jogo, somente as partidas da Seleção Brasileira, em todas houve algo de grande plástica.
ResponderExcluirLembremos da Tchecoslováquia...aquele lance do Pelé, batendo a bola do meio de campo, tentando encobrir o Viktor é algo maravilhoso. Depois, os 3 gols no 2º tempo são fenomenais. Contra a Inglaterra, a defesa do Banks e o gol de Jairzinho, somado à jogada de Tostão, é algo inesquecível. Depois veio a Romênia, com lances magistrais de lado a lado. O 3º gol, de Pelê, foi inesquecível. Contra o Uruguai, os lances de Pelé e de Mazurkiewicz são rememorados a cada partida entre as duas seleções. Dizer o que dessa Seleção de '70? Foi o maior time que eu tenho lembrança de ter visto jogar. Para um garoto de 9 anos, à época, que apenas iniciava o contato com o futebol, foi uma vitrine e tanto. A final contra a Azzurra não há qualificações para definir. Definitivamente, o futebol tinha romantismo.
A defesa do Félix na cabeçada do Lee, também foi decisiva. Os ingleses saindo na frente, não sei não.
ExcluirOutro detalhe dessa Copa do Mundo foi a adoção dos cartões amarelos e vermelhos.
ResponderExcluir