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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Opinião

(Quase) Irreversível – primeira parte

Vou dividir esta crônica em duas partes, pois é um texto misto de apreensão e de uma tênue esperança sobre os desdobramentos dos acontecimentos tenebrosos e recentes do nosso clube.

Pobre presidente Fábio Koff, multicampeão, homem de sucesso em tudo que se envolveu, no entanto, agora, com mais de 80 anos, lhe é apresentado o mais espinhoso de seus “trabalhos” (escrevi este termo, porque lembrei das missões do grego Hércules);qual seja, a recuperação da imagem do Grêmio Porto-alegrense.

Não bastava o presente, igualmente de grego, embrulhado, enrolado, que foi a Arena-OAS, obra dos gestores anteriores, também, estes lhe agraciaram com a criação de uma aberração que detonou com um dos maiores bens que o clube possuía; juntamente com a torcida, a imagem do Grêmio, os dois itens,  são os grandes trunfos, as causas do sucesso centenário da instituição.

Era, até há pouco tempo, comum gremistas postarem fotos nos mais diversos cantos do planeta, vestir orgulhoso o manto, eu mesmo, no início deste ano, no centro do país, fui abordado por cariocas querendo “fazer um brique” com a minha camiseta retrô de 1962. Noutra ocasião, em Campinas e Valinhos, igualmente,  o pessoal “botou o olho” na camiseta.

Pois, não é que um bando inconsequente, detonou, manchou de forma quase irreversível um dos maiores patrimônios do Grêmio? Vai ser difícil, quase impossível reverter essa marca injusta que, nós, os verdadeiros torcedores estamos/estaremos submetidos.

Gostaria de ver os fomentadores dessa situação darem a cara, aqueles que patrocinavam a farra com dinheiro do próprio clube, abraçarem os causadores, mas o que ocorre? Espertamente, procuram “descolar” a sua imagem, o seu vínculo com “os meninos”. Estão mudos; sonham em ser invisíveis no processo. Onde anda o padrinho deles?

Leio que o consulado do Rio, orienta para que os torcedores não façam o papel que lhes cabe, ou seja, de torcedores, porque correm risco de vida. E se isso virar prática em qualquer outra praça, daqui para frente? Quem vai apoiar o clube? Quem vai comprar camisetas e outros artigos com a marca Grêmio? Quem vai querer vincular sua marca com a do Imortal, fora do Rio Grande? O name rights da Arena tem alguma chance?

Infelizmente, não foi por falta de aviso.


Encerro esta primeira parte, que é a do desalento, do desencanto. Na próxima, tratarei da esperança, do que poderá ser feito.

Mesmo sabendo que essa parcela ínfima da Nação Azul errou feio, não deixo de questionar: O que o linchamento de um clube ou de pessoas pode contribuir para acabar com o preconceito?

10 comentários:

  1. Desculpa Bruxo, mas está havendo uma grande confusão da tua parte, na minha opinião.

    Estás atribuindo uma culpa à Geral que não é dela. Ela nada tem a ver com o ocorrido contra o Santos, está mais do que comprovado que foram fatos isolados.

    Até concordo que erraram em cantar músicas com o termo macaco no domingo, mas a punição não passa por isto, apesar de ter sido citado no julgamento. Nossa "caveira" seria feita de qualquer forma. Aliás, a própria Geral acredito que tenha reconhecido o equívoco e decidiu abolir canções com esta menção, conforme anunciaram durante esta semana.

    O país inteiro está aproveitando um fato isolado e generalizando, atribuindo a pecha de racismo a torcida tricolor. Não podemos fazer o mesmo "dentro da nossa casa". A Geral tem seus problemas, precisa rever sua postura em algumas situações e precisa de (re)adequar a atual realidade, isto é inegável. Mas não vamos nós partir para o "caça as bruxas" de forma indevida.

    Repito, é sabido que os atos isolados de quinta não tem relação alguma com a Geral. Tanto é que já citei outros exemplos que problemas parecidos não partiram daquela torcida e sim da parte mais "nobre" do estádio (caso Paulão).

    É hora dos gremistas de bem se unirem, lutarem do mesmo lado. Não vamos buscar culpados onde não há, até porque daí se perde o foco do problema. Vamos sim lutar pra combater individualmente aqueles que desrespeitam leis e o clube, seja lá em que "setores" frequentam.

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    1. Guilherme!
      Desta vez, temos opiniões divergentes. É um conjunto de coisas que não ocorriam antes e que passaram a ser corriqueiras e bem localizadas "geograficamente" no estádio. Fato isolado é as ofensas , as brigas ocorrerem em outros setores do estádio. As sociais causarem transtornos, isso é fato isolado.
      Se tem ameaças no CD, sabemos quem são, se tem atritos no deslocamento no Grenal, sabemos também, se tem cânticos ofensivos à memoria do Fernandão, igualmente os autores são conhecidos, se o líder da Geral vem à público se justificar, dizendo que não tem controle sobre o canto dos componentes da Geral, isso é um indicativo, se depois de todos os rolos contra o Santos, no jogo seguinte, a Geral entoa a mesma palavra causadora de todo o problema; sinceramente, não dá para tapar os olhos.
      Em toda a solução, o primeiro passo é detectar o problema.

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  2. Senso sincero, não fosse Koff não sei se teria forças pra resistir e mesmo pra ele, já alquebrado pelo tempo, temo ser fardo por demais pesado. Estou triste pois já começo a sentir as consequências. Neste fds 8 em cada dez torcedores desta cidade se vestirao de preto e vermelho e irão para o mesmo bar. Neste mesmo dia eu, de azul, preto e branco estarei lá, como estive nos últimos tempos. Até ontem tudo fora harmonioso...

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  3. Boa Sorte, PJ!
    Gostaria que esta mobilização nacional ocorresse também contra os corruptos.os estupradores, os pedófilos ..., mas é mais fácil atacar pessoas de bem, que inclusive, lutam para consertar o que está errado.

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  4. Leonardo

    Bruxo: em anexo um texto do Léo Gerchmann publicado na Folha de São Paulo on line de hoje (6/9)

    REPÚDIO AO RACISMO E DESAGRAVO AO GRÊMIO
    LÉO GERCHMANN

    Este artigo é assumidamente um desagravo. Antes, porém, uma ressalva: episódios abjetos, como o ocorrido na Arena do Grêmio, em que bandidos e tolos vomitaram ofensas raciais contra o goleiro do Santos, devem ser coibidos com firmeza, assim como a homofobia e outras abominações recorrentes nos estádios de futebol. Trata-se de crime tipificado no artigo 140 do Código Penal, o da injúria racial. Feita a ressalva, sigamos com o desagravo.

    A Justiça Desportiva, ao excluir o Grêmio da Copa do Brasil, desprezou princípio basilar do direito penal, o da pessoalidade da pena (a pena não é transmissível a outrem). Claro, a alegação é a de que os clubes devem adotar estratégias eficazes contra agressões verbais e físicas que até já levaram a mortes dentro e fora de estádios.

    O Grêmio, em 2013, elaborou a campanha antirracismo "Somos azuis, pretos e brancos". Na semana passada, enfim, suspendeu a torcida organizada onde havia o foco do comportamento ultrajante.

    Todos os clubes devem coibir essas condutas, e talvez o Grêmio tenha servido de exemplo para aumentar o controle sobre a bandidagem inevitável em agremiações de massa. Isso, em tese, é salutar. Mas é cruel e injusto com o clube. A esmagadora maioria dos gremistas, que rejeita essas aberrações, viu-se duplamente punida: primeiro, por bandidos que vestem a camiseta do clube para emporcalhar sua história. Depois, pelo STJD, que condenou milhões pelo barbarismo de meia dúzia. Aliás, um dos auditores que julgaram o Grêmio foi flagrado com posts racistas no Facebook, envolvendo uma criança negra. Hipocrisia asquerosa!

    A punição recai sobre um clube cuja diversidade faz parte de sua história. Nada pode ser mais plural que o advento da Coligay. O Grêmio não só acolheu os homossexuais que se juntaram para torcer pelo clube do coração. O clube deu à primeira organizada gay do país espaço para guardar bandeiras, faixas e instrumentos da charanga. A torcida existiu de 1977 a 1983, quando o líder, Volmar Santos, retornou para sua Passo Fundo. De 1977 a 1983? Sim, no tempo em que a ditadura mantinha uma delegacia de costumes e os torcedores gritavam "vadia" para a mulher que se arriscasse a ir aos estádios.

    O Grêmio é o clube com o qual Gilberto Gil simpatiza por ostentar o azul do céu, o branco da paz e o preto da sua pele. Ao contrário do que se diz, foi no Grêmio que jogou o primeiro negro dos grandes clubes gaúchos, Adão Lima, entre 1925 e 1935, época de segregacionismo entranhado na sociedade. Porto Alegre tinha a Liga da Canela Preta, separada dos brancos de Grêmio e Internacional. Desses dois grandes clubes, o primeiro a aceitar a "liga" foi o Grêmio – o Inter teve, mais tarde, o mérito de ser o primeiro a aceitar oficialmente os negros.

    Quem conta isso é Lupicínio Rodrigues, na sua coluna do jornal "Última Hora", em abril de 1963. Em "Por que sou gremista", Lupicínio explica um dos motivos: porque ele era negro, como Everaldo, lateral-esquerdo da seleção brasileira de 1970 que se tornou a estrela dourada na bandeira tricolor.

    O hino composto por Lupicínio diz "Até a pé nós iremos para o que der e vier" e "imortal tricolor". Raros são os clubes cujo hino traduz tão bem o espírito pelo qual é reconhecido. Fala de humildade, perseverança e superação. São as características que fazem do Grêmio uma instituição amada por milhões e detestada por outros tantos. Indiferença? Em relação ao Grêmio, jamais.

    Sim, esse clube, fundado por descendentes de alemães em 1903, foi segregacionista como toda a sociedade brasileira. Mas, pelos seus belos 111 anos, não merece os bandidos que lhe emporcalham a imagem nem uma decisão de tribunal que o etiqueta como racista. O Grêmio e os gremistas não merecem isso.

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    1. Leonardo!
      Show de bola! Eu, hoje estarei postando a segunda parte da crônica e ela coincide com muita coisa do texto do Gerchmann.
      Vou utilizar algumas ideias dele, inclusive.
      Abraços.

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  5. Leonardo

    Bruxo e colegas gremistas:
    Em anexo um texto interessante do Xico Sá na Folha de São Paulo para a gente refletir um pouco sobre as mudanças de postura e na maneira de torcer na Arena e em outros estádios. Se, especialmente a Geral, não encampar essa atititude (que parece que sinaliza nesse sentido) e entender essa mensagem outros incidentes infelizes vão novamente recair sobre o Grêmio.

    CARTA A LUPICÍNIO
    Xico Sá

    06/09/2014 08h44

    Amigo torcedor, amigo secador, até a pé nós iremos a qualquer botequim ou taverna do rincão gaúcho celebrar este ano o centenário do gênio gremista Lupicínio Rodrigues, o autor de um dos mais belos hinos de clubes do país. Até a pé nós iremos, mesmo com todas as dores de cotovelo do mundo, mesmo estropiado como um romeiro do amor e da sorte.

    Bem lembrou, nesta Folha, o querido Luiz Fernando Vianna que o preto Lupicínio cantaria, a essa altura, para a Geral tricolor, "esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei!" Cantaria mesmo. E bonito. Um brinde ao homem dos nervos de aço.

    Sim, caro Lupicínio, tu me ensinaste a gastar o cotovelo da espera na fórmica dos balcões dos sofredores. Aliás, a cada pé-na-bunda sempre acho que tu chegarás no boteco e me darás bons conselhos, só vingança, vingança, vingança aos deuses clamar. Mais um brinde, amigo, como te amo.

    O que tu achas, meu caro, dessa minha pobre tese crônica: para quem ainda confunde racismo – atacar alguém covardemente pela cor da sua pele– com xingamento de varejo, sugiro, à guisa de criatividade, que leve a campo o "Dicionário do Palavrão e Termos Afins", do pesquisador e folclorista pernambucano Mário Souto Maior, o Aurélio dos lexicógrafos da bela esculhambação à brasileira.
    Souto Maior, vivo fosse, faria agora um brinde conosco. Que tu procures ele aí nesse mundo do qual não tenho a menor das certezas. Caro Lupi, nesse livro, o fanático encontrará 3.500 palavrões que valem do goleiro ao ponta esquerda, do técnico ao juiz daquele Flamengo x Coritiba. Somos tão ricos em matéria de tirar onda, por que a injúria racial, minha gente? Sob qualquer aspecto, não carece. Pronto.
    Tudo bem que não somos tão criativos quanto os alemães em matéria de xingamentos. O dicionário do mesmo gênero, naquele país supostamente reservado, possui quase dez mil verbetes. Eles também nos batem de 7x1 em matéria de sacanagem. Minha fonte é boa: Gilberto Freyre, o homem do "Casa Grande & Senzala", o mesmo que sugeriu a Souto Maior, a tal pesquisa nos trópicos.
    Temos xingamentos demais, de qualquer forma. Que diversidade, incluindo os regionalismos, como "fi de rapariga", por exemplo, clássico nordestino, o meu preferido. Este vale para o juiz, sobremaneira. No sul também não deve faltar palavrões para desopilar o juízo.
    A Ponte Preta e o Inter, macaca e macaco, respectivamente, quando assumiram tais epítetos, responderam politicamente ao preconceito. Uma maneira de dizer do orgulho da torcida negra. Em nada autorizaram o ma-ca-co ou "preto fedido" e ditos malditos para humilhar quem quer que seja. Dentro ou fora do gramado, nobilíssimo Lupicínio.
    Sei que o amigo deve estar triste com os acontecimentos, mas também sei que o amigo és sábio para entender o exemplo. Até a pé nos iremos, com teu espírito, para dizer paz na terra aos homens de boa vontade.

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    1. Leonardo, o que dizer de um texto desses?
      Sublime! Em sua mensagem e na riqueza gramatical.
      Grande contribuição, amigo. Tua e do Xico Sá.

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    2. Leonardo

      Bruxo:
      Imagine que homenagem bonita seria no próximo jogo contra o Santos na Arena, o estádio lotado, todo usando mascaras do Lupicínio e cantando durante os 90 minutos apenas o "até pé nos iremos"? E sem nenhuma ofensa ao Aranha ou ao Santos? Ia ser mais lindo ainda se o Grêmio jogasse bem e aplicasse uma sonora goleada!

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    3. Leonardo!
      Sensacional!
      Tua sugestão precisa chegar ao conhecimento da Direção.

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