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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (68) - Ano 1971-1972/73-2013/14


Os Delanteros


Esta "Pequenas Histórias" estava rascunhada há mais de 15 dias, mas os acontecimentos de Grêmio x Santos tornaram meio sem sentido postá-la naquele momento. Agora, as nuvens parecem que se dissipam e o céu azul do Imortal, indica que ele vai superar mais esta prova,  esta provação.

Com o êxito de Hernán Barcos, que no momento que alinho estas frases, lidera a Chuteira de Ouro no Brasil, somando 23 gols no ano e parece que não vai parar por aí. Bem, este número somado ao 14 do ano anterior, (eles) atingem 37, com isso, superando uma marca que perdurou por mais de 40 anos, isto é, o de maior artilheiro estrangeiro da história Tricolor, feito que era de Alfredo Obberti (o da direita).

Barcos me recorda Obberti, que me lembra Néstor Scotta (o da esquerda). Los Delanteros, os camisas 9 de fala espanhola, que muitas alegrias me deram, apesar de coincidentemente nenhum deles ganhar títulos relevantes pelo Imortal. Períodos de vacas magras. Outra coincidência; todos estrearam marcando gols.

Mais um fator comum ao trio: os três sofreram contestações. Scotta revezava com um decadente Alcindo a titularidade, Obberti travava com Tarciso o lugar de parceria com Mazinho no comando do ataque e Barcos, nem se fala; apesar dos gols, ainda é muito cobrado.

Como uma da formas de análise da história é o tempo, ou seja, (i)mediata, conjuntural e estrutural, a interpretação dos fatos sofre variações. Com esses argentinos, esse processo é plenamente comprovado. Tanto Scotta, quanto Obberti, hoje são considerados grandes atacantes e suas passagens pelo Grêmio, 40 anos passados, são consideradas exitosas dentro das condições dos times em que jogaram. Certamente, com Barcos não será diferente, as próximas gerações olharão com admiração a sua passagem pelo Tricolor. Talvez, a sua marca não seja superada neste século.

Com a imprescindível e inestimável ajuda dos arquivos do Alvirubro, verifiquei que Scotta, que veio e voltou para o River Plate, onde ainda hoje é ídolo, apesar de morto, jogou 34 partidas e fez 10 gols. Acontece que para mim, desta dezena, 6 são inesquecíveis, pois 2 eu vi ao vivo (vide Pequenas Histórias 1) na Baixada Melancólica, outro foi na sua estreia contra o Nacional de Montevidéu, no Grenal no Beira-Rio, vencido por 3 a 1, fez de pênalti, que rendeu outra Pequenas Histórias, a do Caio Cabeça e os mais significantes, os dois primeiros tentos da história dos Campeonatos Brasileiros, contra o São Paulo de Gérson, no Morumbi, num 3 a 0 fantástico, mais um evento que mereceu nossa crônica.

Obberti veio para substituir Scotta; jogou 2 anos. Era mais habilidoso, pé esquerdo sinuoso e cheio de malícia, assim como o seu antecessor, fez gol em Grenal, mas o mais importante  ele marcou contra o Santos numa partida heróica em que Picasso pegou um pênalti cobrado pelo capitão do tri, Carlos Alberto e com Pelé em campo. Rendeu também, outra "Pequenas Histórias", pois foi a primeira vez que o Grêmio ganhou no Pacaembu. 1 a 0 marcado na goleira do Tobogã, para quem não sabe, a da direita das cabines de rádio e televisão.

Oscilava muito, quando arrebentava, os narradores diziam que "El Mono", seu apelido, "estava com a Macaca"; para muitos, era uma senha nunca bem explicada.

Assim como Scotta, Obberti saiu contrariado, porque queria ficar; seu destino, também foi o clube que o vendeu para o Grêmio, Newell's Old Boys, onde seguiu fazendo seus gols e conquistando a condição de ídolo eterno. 

Em 105 jogos pelo Tricolor, marcou 35 vezes, só sendo superado recentemente pelo Pirata.

Barcos ainda está escrevendo sua história em nosso clube, seguirá contestado, mas, tenho certeza, assim como seus conterrâneos, colocará seu nome na galeria dos grandes ídolos da Nação Tricolor. 






8 comentários:

  1. Leonardo

    Bruxo: Estupenda resenha dos três noves estrangeiros. O Nestor Scotta tem um lugar especial na minha memória afetiva. Minhas primeiras lembranças como torcedor do Grêmio incluem Scotta, Chamaco, Loivo, Caio, Torino e Flexa (que recordo fez um penalti - mão na bola - em um Gre-nal nesse ano de 1971, certo?). Escutei pelo rádio o jogo Grêmio do Scotta contra o São Paulo (em Campo Grande-MS) pela Guaíba no rádio AM do Corcel branco do meu pai em 49 metros (ou era 25 m?). Me lembro de escutar também em 1971 um 0x0 no Mineirão com o América-MG do Jair Bala.

    ****
    Anos depois (em maio de 1981 - ano que entrei na faculdade de Agronomia da UnB) fui ao mesmo Morumbi ver o gol de outro 9 (esse brasileiro). Acho que vale a frase do Baltazar para a atual situação do Grêmio: "Deus deve estar reservando algo melhor para nós"

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  2. Putz, Leonardo!
    Achei que tu tinhas uns 20 anos. Sorte a nossa de ter visto estes 3 gringos no Imortal.
    Jair Bala!! Bons tempos do América; Pedro Omar, Juca Show, goleiro Neneca, etc...

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  3. Leonardo!
    Distração nossa; uma vez você no Ivo Sodré. Quem viu ele jogar, não pode ter só 20 e poucos (rs,rs,rs,).

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  4. Que baita resgate! Realmente, aqueles anos 70 foram únicos e inesquecíveis. Tínhamos craques "a rodo", em todas as equipes de ponta. Ou como explicar a "eternidade" da conquista de um Obberti, que por 40 anos não teve seu índice quebrado? E olha que já jogaram estrangeiros no Grêmio desde então.

    Parabéns, Bruxo!

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    1. E poucos ficaram milionários, Alvirubro.
      Quantos zagueiros de excepcional qualidade, cito 4: Anchetta, Figueroa, Perfumo (Cruzeiro) e Reyes (Flamengo), além do Luis Pereira (Palmeiras). Quantos temos hoje?

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    2. Bruxo, lembro-me que Ancheta não renovou com o Grêmio porque a Direção não quis pagar 1.500 dólares por mês, porque achava demais. Figueroa saiu do Inter em troca de 2.500 dólares por mês. Falcão saiu do Inter para ganhar 3.000 dólares por mês na Roma.

      Hoje, eu vejo um Rafael Moura ganhar 28 milhões por um contrato de 4 anos. Olha, vou repetir o que tenho dito. Esses jogadores da atualidade não deveriam ganhar mais do que 50 mil reais por mês. Isso daria 600 mil por ano. Salário que na nossa vida toda, mesmo economizando tudo o que ganhamos, jamais vamos juntar. Amigo, tem muita coisa errada nesses salários.

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  5. Bruxo, eis as estreias de "los delanteros":

    Grêmio 2x1 C Nacional
    Amistoso Internacional
    Data: 08.05.1971
    Local: Olímpico, Porto Alegre-RS
    Árbitro: Agomar Martins Rohrig
    Renda: Cr$ 66.850,00 Público: 13.205 pagantes
    Gols: Caio 40’ do 1º tempo; Scotta 44’ do 1º tempo; Montero Castillo 42’ do 2º tempo
    GFBPA: Jair, Chiquinho Pastor, Ary Ercílio, Beto Bacamarte, Everaldo, Chamaco Rodríguez (Jadir), Gaspar (Torino), Flecha, Caio, Scotta, Loivo.
    DT: Oto Martins Glória
    CN: Santos, Juan Carlos Blanco (Luís Ubiñas), Atílio Ancheta, Juan Masnik (Angel Brunel), Juan Martín Mujica, Julio Montero Castillo, Ildo Maneiro (Duarte), Rubén Bareño, Víctor Esparrago (Ignácio Prieto), Luís Artime (Juan Carlos Mamelli), Júlio César Morales.
    DT: Washington Etchamendi


    Grêmio 1x1 CA Newell's Old Boys
    Amistoso Internacional
    Data: 08.02.1972
    Local: Olímpico, Porto Alegre-RS
    Árbitro: Agomar Martins Rohrig
    Renda: Cr$ 57.026,00 – Público: 10.406 pagantes
    Gols: Caio 4’ [pênalti], Silva 37’ do 2º tempo
    GFBPA: Jair, Espinosa, Ancheta, Beto Bacamarte, Domingos, Gaspar (Jadir), Torino, Flecha, Obberti (Caio), Bira, Loivo.
    DT: Oto Martins Glória
    CANOB: Omar Bargas, Andrés Rebottaro, Víctor Jara, José Solórzano, Armando Garrido, Angel Silva, Juan Carlos Montes, Santiago Santamaría, Mário Zanabria (Roberto Volpi), Cáceres (José Berta), Mário Mendoza.
    DT: César Luís Menotti


    Grêmio 1 2 CD Huachipato
    Libertadores da América 2ª Fase_Grupo 8_1ª Rodada
    Data: 14 02 2013
    Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre-RS
    Árbitro: Diego Hernán Abal
    Renda: R$ 1.276.060,00 – Público: 28.164 pagantes
    Gols: Federico Falcone 17' do 1º tempo; Braian Rodríguez 5', Barcos [pênalti] 9' do 2º tempo
    GFBPA: Marcelo Grohe, Pará, Cris, Saimon, André Santos (Marco Antônio 26' do 2º), Adriano (Marcelo Moreno intvl.), Souza, Elano, Zé Roberto, Vargas (Wélliton 27' do 2º), Barcos
    DT: Vanderlei Luxemburgo da Silva
    CDH: Nery Veloso, José Contreras, Carlos Labrín, Claudio Muñoz, Nicolás Crovetto, Gabriel Sandoval, Maurício Yedro, Felipe Reynero (Nicolás Nuñez 15' do 2º), Francisco Arrué (Miguel Aceval 29' do 2º), Federico Falcone, Braian Rodríguez (Daniel González 39' do 2º)
    DT: Jorge Pellicer

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  6. Obrigado pela correção, Alvirubro. Havia esquecido os dois jogos do pagamento do passe contra o Newell's, no caso do Obberti, portanto, estreou sem fazer gols.

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