Pequenas Histórias
(88) – Ano – 1973
Enfrentando o prezado
amigo Afonsinho
Loivo - Afonsinho |
Alcei voo próprio lá
pela metade dos anos 80, quando saí de casa; antes, vivi as várias etapas da minha vida na
Bento, entre livros, muitas aulas, reuniões dançantes, bolas, jogos de botão e o carinho da
minha família.
Nos times de
botão, neles, havia o Botafogo, entre os onze, o goleiro Cao e os meios-de-campo
Carlos Roberto e Nei (Conceição). Esses botões vinham com a cara de cada jogador.
A Bento começa na
Benjamin e nela, justamente na “boca” da minha rua, morava o Ernani, que também
tinha o Botafogo, mas com o goleiro Manga e os meios-de-campo Gérson e
Afonsinho. Os demais eram os mesmos da minha versão.
Essa pequena diferença
era colossal; Manga, o melhor arqueiro do mundo, não é à toa que a sua data de aniversário, 26 de Abril, virou o dia do goleiro, Gérson era gênio, maior nome da
final da Copa de 70 e Afonsinho. Este último, uma das mais importantes
personalidades da história do futebol brasileiro, talvez do mundo. Atuou também,
ao lado de Garrincha, Pelé, Zico, Jairzinho e Roberto Dinamite, entre tantas
outras estrelas.
Afonsinho, paulista,
chegou para o Botafogo na metade dos 60, jogando, iniciou e concluiu o curso de
Medicina. Tinha um futebol refinado de grande técnica, um craque, no entanto,
por ser um atleta com uma consciência social acima da média, um socialista na
prática, por usar barbas e cabelos longos, entrou em choque com a direção alvinegra,
cuja cartilha rezava pelos mesmos preceitos dos ditadores da Nação. Foi
encostado, proibido de atuar. A justificativa era a barba e os cabelos, que o
atleta se negava a aparar.
Afonsinho lutou e
ganhou. Tornou-se o primeiro jogador de futebol a ter o passe livre concedido
pela justiça. Depois, sempre com o passe na mão, alugou para Olaria, Santos,
Flamengo, Vasco e Fluminense. Além disso, inspirou Gilberto Gil, o baiano produziu uma música que
virou um clássico; chama-se Meio de Campo, que também foi gravada por Elis
Regina e começa assim: “Prezado amigo Afonsinho, eu continuo aqui mesmo,
aperfeiçoando o imperfeito, dando um tempo, dando um jeito, desprezando a
perfeição, que a perfeição é uma meta defendida pelo goleiro, que joga na
Seleção ...”.
Atualmente, ele está
aposentado, mas segue exercendo a
Medicina voluntariamente no Rio de Janeiro e tem uma coluna na revista Carta
Capital. Herdou o posto, depois da morte de Sócrates, outro craque da medicina
e dos gramados.
Afonsinho enfrentou
várias vezes o Imortal, uma delas jogando pelo Flamengo no Maracanã pelo
Brasileiro, num Sábado, dia 27 de outubro de 73. Foi uma das maiores vitórias
do Tricolor naquele ano. 2 a 1, de virada.
Com Oscar Scolfaro no
apito, público de 31 mil pessoas, o Grêmio utilizou: Picasso, Cláudio Radar,
Ancheta, Beto Bacamarte e Everaldo (Jorge Tabajara); Carlos Alberto e Paulo
Sérgio (Yúra); Carlinhos, Mazinho, Tarciso e Loivo.
O Flamengo de Zagallo:
Ubirajara Mota; Moreira, Rondinelli, Tinho e Rodrigues Neto; Liminha, Afonsinho
e Zico; Rogério, Dario e Paulo César Lima, o Caju. Resumindo: um cano de time,
mas mal treinado, pois chegava para o confronto com quatro derrotas seguidas.
Aumentaria essa desagradável estatística naquela tarde.
Com uma atuação
comprometedora de Paulo Cesar, que discutiu muito com os colegas na segunda
fase, quando apresentou pouco empenho, o Mengo, ainda assim, esteve bem no
primeiro tempo, vencendo com gol de Dario, o Dadá Maravilha, aos 31 minutos, aparando uma cobrança de corner (escanteio). Ele empurrou com o joelho a pelota
para o fundo das redes; antes, o centroavante perdera inúmeras chances diante
de Picasso como aos 34 minutos, quando Afonsinho driblou Carlos Alberto,
Ancheta e Beto, pifando o Peito-de-Aço, que chutou sobre o arco.
No retorno do
intervalo, o Tricolor evitou a armadilha de ser pego em vários impedimentos,
seu maior erro nos primeiros 45 minutos. Aos 25, Carlos Alberto colocou Yúra
frente a frente com Ubirajara. Rondinelli e Tinho “ensanduicharam” o meia;
pênalti. Tarciso cobrou com a até então, infalível precisão e empatou. 1 a 1.
O rubro-negro carioca
se descontrolou e o Imortal tomou conta da partida. Aos 40 minutos, da
intermediária, Loivo cuja a especialidade eram o grande fôlego e cobranças de faltas precisas, num tiro longo,
decretou a vitória gremista.
Naquele ano, o time
treinado por Carlos Froner fez excelente campanha, onde obteve percentual de
pontos apenas inferior ao campeão, Palmeiras. Foram grandes jornadas. Este
Flamengo 1 x 2 Grêmio foi apenas mais uma.
Nesta crônica, contei com o habitual
apoio “logístico” do amigo Alvirubro a quem agradeço.
É uma modesta homenagem ao cidadão brasileiro, Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho.
Mais sobre ele, poderá ser visto em Prezado Amigo Afonsinho, obra de Kléber Mazziero de Souza, Método Editora, 1998 e no documentário Passe Livre de Oswaldo Caldeira, produção de 1974.
É uma modesta homenagem ao cidadão brasileiro, Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho.
Mais sobre ele, poderá ser visto em Prezado Amigo Afonsinho, obra de Kléber Mazziero de Souza, Método Editora, 1998 e no documentário Passe Livre de Oswaldo Caldeira, produção de 1974.
Eis que encontro mais um leitor da Carta!? rs
ResponderExcluirPJ
ResponderExcluirMino Carta está entre os maiores jornalistas de todos os tempos.
Desde a época da Veja.
ExcluirUm Caro Amigo, rs.