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sábado, 12 de agosto de 2017

Pequenas Histórias



Pequenas Histórias (169) - Ano - 1972


Batendo o Furacão da Copa


Quem foi piá entre a década de 60 e início dos 70, tinha o mesmo sentimento de idolatria pelos craques dos times do eixo Rio-São Paulo; éramos gremistas ou  colorados, mas tínhamos os olhos vidrados nos craques do centro do país, coração do futebol brasileiro.

Havia dois clubes que chamavam mais a atenção pelo "acervo" de ídolos, Santos e Botafogo. Pelé luzia tanto, que ofuscava os demais e olha que nas eliminatórias em 69, o clube da Vila Belmiro cedeu 9 atletas para compor os 22 selecionados; já no Botafogo havia homogeneidade "por cima": Manga, Gérson, Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César Lima, o Caju. Nem vou reverenciar os de antes, que viraram mitos no imaginário do torcedor: Carvalho Leite, Heleno de Freitas, Didi, Nilton Santos, Quarentinha, Amarildo e Mané Garrincha.

Pois bem, cada vez que o meu Grêmio ia encarar o clube de General Severiano (sua antiga sede), eu imaginava uma epopeia, um duelo desigual, porém, o Tricolor começava a dar sinais que superar o Glorioso já era possível. Foi assim que quebrou a escrita de não vencê-lo, em 1968, 1 a 0, gol de Alcindo com Alberto pegando pênalti cobrado por Gérson no Maracanã e em 70 com dois gols de Paraguaio, outro centroavante, Vide Pequenas Histórias 75. Aliás, os centroavantes gremistas costumam se dar bem contra o Alvinegro carioca, além dos citados, houve um triunfo em 76, gol de Alcino, a Estrela de Belém, outro em 81, com três gols de Baltazar, todos esses no Rio de Janeiro e para reforçar, segue o relato de mais uma vitória com gol de camisa 9, neste caso, dois de Laírton.

Num Domingo, 17 de Setembro de 1972, Estádio do Maracanã, Daltro Menezes, técnico do Imortal, utilizou: Jair; Espinosa, Ancheta, Beto Bacamarte e Everaldo; Jadir e Negreiros (Paulo Sérgio); Carlinhos, Oberti (Carlos Alberto Rodrigues) e Loivo.

Elba de Pádua Lima, o Tim, mítico atacante dos anos 30, agora treinador, usou: Cao; Luiz Cláudio, Brito, Valtencir e Marinho Chagas; Carlos Roberto, Nei Conceição e Dorinho; Zequinha (Tuca Ferreti), Jairzinho (Ferreti) e Rodolfo Fischer. Sem a força de antes, mas ainda com seis jogadores de Seleções Nacionais, destacando-se Marinho Chagas, o argentino "El Lobo" Fischer e principalmente, Jairzinho (na foto com Everaldo), vice-goleador da Copa do Mundo de 70, fazendo gols em todos os jogos e há dois meses, um que decidiu a Mini-Copa chamada de Taça do Sesquicentenário da Independência do Brasil, naquele 1 a 0 sobre Portugal. Jairzinho era o "cara". Camisa 10 da Estrela Solitária. Ele, mais Tostão e Rivellino, esse trio passou a ser o topo da Canarinho desde que Pelé se despedira em 71.

O Botafogo sofreu um revés logo aos dois minutos, quando Negreiros fez lançamento para o meio, a pelota bateu em Brito, o improvisado zagueiro Valtencir e Marinho Chagas vacilaram, dando a chance ao camisa 9 gremista, Laírton fuzilar o goleiro Cao, colocando no canto esquerdo do arco. 1 a 0 na arrancada do jogo.

A sorte havia abraçado o Tricolor dos Pampas; Zequinha, logo aos 15 minutos teve que sair, justamente ele, que estava levando ampla vantagem sobre Everaldo. Tuca não repetiu o desempenho do titular.

O meio de campo carioca atuou de forma frouxa, expondo a zaga, que se ressentia pela falta de entrosamento, ainda assim, o primeiro tempo permaneceu em 1 a 0.

Reiniciado o confronto, logo a 1 minuto, Fischer arrancou do meio de campo, tabelou com Jairzinho, recebeu dentro da área e de perna esquerda assinalou o gol de empate. 1 a 1.

O Botafogo tomou conta das ações, mas seus ataques pararam em Beto Bacamarte e especialmente em Ancheta de grande atuação, considerado o melhor em campo por alguns jornais. 

Aos 16 minutos um fato alterou o curso da partida: Jairzinho sentiu uma contusão e teve que sair, dando lugar ao gigante Ferreti, irmão de Tuca. Arrefeceu o ímpeto botafoguense.

Aos 22, novamente Negreiros encaixou um lançamento pelo meio, Valtencir hesitou, Lairton bateu fraco, mas Cao falhou, tocou de leve, movimento insuficiente para evitar o segundo e definitivo gol Tricolor. 2 a 1.

Os melhores em campo foram Ancheta, perfeito na parte defensiva; ainda cabeceou uma bola na trave, Laírton pela produtividade e Negreiros que comandou as ações de intermediária a intermediária.

Do lado Alvinegro, Marinho Chagas, Fischer e Jairzinho. Zequinha fazia excelente partida, preocupando a zaga gremista, mas cedo, saiu lesionado.

O árbitro foi Oscar Scolfaro, o público foi próximo de 22 mil pessoas.

Neste Domingo, Dia dos Pais, 13 de Agosto, ambos os times serão mistos, porque estão envolvidos nas semifinais da Copa do Brasil, mesmo assim, o peso das camisas indica que será um confronto de difícil prognóstico quanto ao resultado.

Quem sabe o Tricolor não sai vencedor com gol de um centroavante? 

Fonte: Foto e Dados do Arquivo Pessoal do amigo Alvirubro






15 comentários:

  1. Luiz Carlos Pires de Queiroz, o "Cao", gaúcho criado no Grêmio, que foi para o São Cristóvão e depois para o Botafogo, numa época em que o Tricolor tinha ótimos goleiros.
    Veio para o Grêmio, em 1971, fez meia dúzia de jogos e voltou para General Severiano.

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    1. O técnico era o Oto Glória, mas aqui não foi bem.

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    2. Lembro de Cao e Negreiros. O Zequinha foi o mesmo que depois veio jogar no tricolor.

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    3. Ele mesmo Arih; se não estou enganado foi a maior transação da história do Grêmio até aquele momento, lógico.

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    4. Realmente. Ele acabou se lesionando. Já quanto a Alberto, foi alegado um problema de contrato com o Grêmio. Quanto a Dirceu Lopes não lembro das razões.

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    5. Arih
      Havia uma forte resistência da imprensa carioca ao trabalho de João Saldanha por ter convocado poucos jogadores da Guanabara em relação ao número de paulistas. Quando Zagallo assumiu esse "problema" foi resolvido com os cortes de Zé Carlos e Dirceu Lopes, entrando Roberto, centroavante do Botafogo, Dario, por outros motivos e Félix do Fluminense para o gol da Seleção.

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    6. O comentário acima deveria estar mais abaixo. "Ele" é o Scala. Contam que se lesionou. Alberto teve problemas de contrato, algumas versões dizem que também se lesionou. Depois disso (desgostoso) foi para o América de Natal. Zé Carlos, se não me falha a memória também era do Cruzeiro. Agora, venhamos, Félix, apesar de algumas boas defesas na Copa, dos três goleiros convocados era o mais fraquinho. Naquela época o imprensa carioca tinha mais influência, por isso acabou como titular (como já falei aqui, precisou do apoio do grupo pra jogar). Aliás, até hoje, o eixo do mal continua com suas influências determinantes. Mas é aquele caso. Num time daqueles, qualquer mediano se dava bem (basta olhar o próprio Félix e o Brito). Tanto que Piazza, que era volante, foi deslocado para a zaga para dar mais confiabilidade. Aquela seleção só venceu porque o ataque fazia mais do que os gols que tomávamos. Entre eles, claro, o "Furacão" da Copa.

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    7. Zequinha entrou em litígio com os dirigentes do Glorioso de General Severiano.
      Pediu 22 mil Cruzeiros mensais, para renovar o contrato. O Botafogo ofereceu 15 mil.
      Em Abril, o Grêmio pagou Cr$ 700.000,00 pelo passe do ponteiro direito.
      O salário inicial foi de 23 mil, considerados luvas e salários. Teria direito ainda aos 15% pelo passe.
      O Grêmio teria pagado 200 mil, à vista, e os 500 mil restantes, teriam sido parcelados.
      Uma montanha de dinheiro, na época.

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    8. Tenho o registro de 189 jogos do José Márcio Pereira Silva, Zequinha", no Grêmio. 24 gols marcador.

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  2. Além desses jogadores por ti citados, no jogo, o Botafogo tinha ainda Jair Bragança, Wendell, Edmilson, Mauro Cruz, Scala, Osmar Guarnelli, Ademir Vicente, Marco Aurelio, Luisinho Amaral. Um time de respeito.

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    1. Osmar, neste jogo da crônica, estava no banco e era reclamado pela torcida e mídia.

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    2. Scala, baita zagueiro que deveria estar na seleção.

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    3. Aliás, Alberto do Grêmio e Scala do Inter deveriam ter estado na Copa de 70. Sem falar em outro injustiçado pelo bairrismo centrista: o mineiro Dirceu Lopes.

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    4. Scala esteve na lista do João Saldanha nas eliminatórias, juntamente com o lateral Sadi, ambos do Coirmão.

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  3. Ademir Vicente, implacável marcador de Zico, uma espécie de Jurandir para Falcão.
    Esteve um tempo casado com a cantora Vanusa.

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