Páginas

sábado, 20 de janeiro de 2018

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (184) - Ano - 2007


Meu aluno João Inácio

Fonte: Roberto Vinícius - Correio do Povo

Todos nós em algum momento tivemos a oportunidade de lembrar de acontecimentos através de uma música (que dançamos com a aluna mais bonita da escola), o primeiro filme que assistimos com a companheira, o lugar onde comemoramos alguma decisão importante, etc... Algum detalhe marcante que auxilia sempre a nossa memória.

As próximas linhas relatarão uma decisão que me traz à lembrança um aluno chamado João Inácio; aluno de EJA (Educação de Jovens e Adultos) que lutou muito para concluir o ensino médio, pois se atrasava com frequência em função do seu trabalho; ele descarregava mercadorias nos finais das tardes para as grandes redes regionais do comércio gaúcho.

Há duas semanas o encontrei à frente da Catedral Metropolitana, já com o ensino médio concluído, mas ainda na carga e descarga. Gritou, sorrindo quando me viu: - Tricampeão, Professor, o gesto com os dedos indicando os três títulos.

João é um dos torcedores mais fanáticos do Grêmio e em 20 de Abril de 2007, ele provou isso definitivamente.

Naquela noite, uma Sexta feira, o Imortal jogando no Olímpico precisava fazer uma diferença igual ou superior a quatro gols diante do Caxias, pois levara 3 a 0 na disputa de ida para seguir sonhando com o título daquele ano.

Para a tarefa quase impossível, Mano Menezes utilizou; Saja;Patrício, William, Teco e Lúcio; Nunes, Lucas Leiva (Sandro Goiano), Tcheco e Diego Souza (William Magrão); Tuta e Carlos Eduardo (Ramon).

Edson Gaúcho lançou mão de: Ricardo; Thiago Machado, Michel, Héverton e Jonathas (Endrigo); William, Jorge Luiz (Washington), Juninho e Oliveira; Jajá (Eduardo) e Lima.

Como quase toda a minha vida de professor dei aula às Sextas, já havia me conformado em saber do resultado através de esparsas informações. Aí entra o meu aluno nesta história.

Lembro que tinha duas aulas conjugadas, isto é, dois períodos seguidos com a mesma turma e o João Inácio estava em outra, uma sala ao lado e ele ou outro colega conseguiu um radinho com fones de ouvido.

Há 300 km dali, no campo, empurrado por quase 25 mil torcedores, o Grêmio logo aos 13 minutos marcou com Patrício que recebeu passe de Diego Souza, bateu fraco, a bola desviou na defesa e entrou; Tuta ainda tocou, mas ela já havia transposto a linha fatal (vide foto acima). Gol do lateral. 1 a 0.

Pois nessa hora, o João Inácio passou pela minha sala que estava com a porta aberta e fez com o indicador o tradicional gesto que lembrava uma marca de cerveja, mas naquele momento significava o 1 a 0. Pensei: Beleza, o João sabendo do meu gremismo me atualizou. Faltavam três tentos.

Aos 18 minutos, Tuta errou o chute, porém a bola encontrou Lucas que ajeitou para Tcheco, o camisa 10 bateu e fez 2 a 0. Em seguida, João Inácio passou pela porta novamente, desta vez com o sinal de Paz e Amor do movimento hippie, que eu traduzi para o 2 a 0 para o Tricolor.

O Grêmio seguiu apertando e aos 41 minutos, Diego Souza fez de cabeça o placar que levava para penalidades a decisão da vaga. Nesse instante, o meu informante me atualizou novamente, passando com três dedos da mão esquerda (ele também é canhoto como este que vos escreve) para cima , enquanto o polegar segurava o mínimo. Não havia dúvidas: 3 a 0 e eu desconfiava que ainda era primeiro tempo.

Confesso que foi uma das aulas mais nervosas que ministrei, porque comecei a olhar para a porta com uma frequência constrangedora para mim e, lógico, para os meus pupilos.

Aos 23 minutos da etapa final, o camisa 9 Tuta meteu para o barbante de Ricardo, marcando o quarto e definitivo gol. Neste instante, João Inácio passou tão rápido pela minha porta com quatro dedos apontados para o alto e o polegar recolhido; ultrapassou a entrada da sala como se estivesse surfando; aí acontece a cena fora do script: Com os pés deslizando, ele encontrou um parquê (taco) mal assentado no chão, bateu e "capotou", rolando pelo corredor. Isso não o impediu de sorrir e dizer: - Quatro professor, quatro!! Apesar da gozação dos demais colegas.

Antes do apito final de Leonardo Gaciba, Sandro Goiano quase ampliou, chutando do "meio da rua" e a bola encontrou o travessão do arco do Caxias.

Naquele ano, além de conquistar o bicampeonato gaúcho, o time de Mano Menezes chegou à decisão da Libertadores diante do Boca Juniors. Ultrapassou suas reais potencialidades.

E este confronto diante do Caxias, uma pequena e valiosa decisão é para quase todos, o jogo da virada, mas para mim; o jogo do João Inácio.

Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro

Seguem os melhores lances:















7 comentários:

  1. Esse jogo tem uma particularidade: foi a última vitória de Lucas Leiva pelo Tricolor. Lucas saiu de campo, nesse jogo, ainda no 1º tempo, devido a uma lesão. Só voltaria a jogar no mês de Junho de 2007, quando encerrou seu ciclo no Grêmio. Interessante que os demais seis jogos que Lucas Leiva fez pelo Grêmio naquele mês, tiveram como resultado seis derrotas: três pela Libertadores da América e três pelo Campeonato Brasileiro.

    ResponderExcluir
  2. Alvirubro
    Não deve ter voltado na plenitude de suas condições. Acho até que entrava em meio as partidas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jogou 90' min apenas em dois desses seis jogos: Grêmio 0x2 Cruzeiro EC; e Grêmio 0x2 CA Boca Juniors.
      Nos outros quatro, saiu jogando e foi substituído, ou entrou no decorrer do jogo. Certamente para "pegar" condicionamento, pois não estava 100%.

      Excluir
  3. Lucas vendido por valor abaixo do mercado para um meia de Seleção.

    ResponderExcluir
  4. Vamos ver o que teremos de novidade no time da SER CAXIAS. O técnico faz horas que está prometendo "estourar", pois tem feito bons trabalhos. Eu acho o L.C. Winck um bom técnico e gostaria de vê-lo em clubes com maior estrutura. O primeiro resultado, 3x0 frente ao Novo Hamburgo, foi surpreendente. O RS precisa de mais forças futebolísticas para melhorar o padrão do futebol regional.

    ResponderExcluir
  5. Alvirubro
    Acho que o Winck vai vencer pela insistência; há técnicos mais capazes no interior.

    ResponderExcluir