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terça-feira, 30 de novembro de 2021

Opinião



Ilusão 

Há 40 anos perdi meu pai; ele segue sendo meu maior herói, o cara que entre outras coisas, me fez gremista. Ele tinha seus ídolos, nomes peso-pesados da história Tricolor; teve sorte; viu Lara, Luiz Carvalho, Foguinho e Telêmaco, entre tantos. A "Era dos Jogadores-Torcedores".

Pois em 1976, quando o Grêmio sofria anos a fio diante do principal rival, o presidente Hélio Dourado resgatou o mitológico Foguinho (Oswaldo Rolla), o inventor do "estilo gaúcho" baseado no futebol-força, na supremacia da preparação física, para ser o ruptor daquela triste sequência de "vices campeonatos", um treinador com biografia, sem dúvida. Para minha surpresa, meu pai vaticinou: - Não vai durar muito. 

Ele tinha razão, Foguinho utilizou um discurso anacrônico, onde reza a lenda querer submeter antes de cada treino, o elenco a cantar uníssono, o hino do clube. Claro que não ia dar certo num grupo heterogêneo, formado por atletas vindos do interior paulista, da vizinha Argentina e até de Belém do Pará. Foguinho não durou 100 dias. O contexto era outro.

Quase meio século passado, li e ouvi que para tirar o Grêmio do Z-4, dirigentes lembraram no vestiário que o grupo deveria fazer nestes 6 últimos jogos, 6 "Batalhas dos Aflitos". Ora! mais da metade do elenco está "andando" para o que ocorreu há mais de uma década, possivelmente, desconhecido ou desinteressante episódio para a vida de cada um deles. Novamente, um discurso defasado, que se revelou ineficaz, indiferente aos ouvidos dos jogadores, ´principalmente, pelo que se observou no desempenho constrangedor na Bahia, ironicamente, dia do evento decantado em prosa e verso nos dias que antecederam o encontro na Fonte Nova.

Para reforçar meu sentimento, minha conclusão; eu vi o primeiro tempo de Juventude e Bragantino e, mesmo respeitando a história da instituição caxiense, não conheço algum fato semelhante às agruras vividas pelo Imortal naquele Novembro de 2005, mesmo assim, o time esmeraldino jogou como se quisesse salvar o clube do rebaixamento. Atuou com garra, gana e determinação, saindo do sufoco do Z-4.

Antes de exemplos épicos retirados das páginas da vida do Tricolor, o que funciona mesmo para superar adversidades é o caráter, personalidade, envolvimento e profissionalismo de cada atleta. 

O resto é História.


17 comentários:

  1. Marcelo Lopez01/12/2021, 09:00

    Expôs a ferida!!
    E é o que venho defendendo a tempos: Nao temos jogadores-cidadãos.
    Homens engajados, capitães em campo.

    E não precisa muitos...2 ou 3 titulares que façam o resto seguir uma "cartilha".

    Nao via muito isso no time de 2017. A qualidade do mesmo mascarau um pouco isso. Tirou algumas peças e a partir de 2018 não andou mais.

    Dinho, o capitão-bagaceira, que todo time precisa ter.
    Adilson Batista e Goiano, os mais diplomáticos.

    "É os guri" nossos...preocupados com as baladinhas da noite.
    Os Cascudos, cada um por si, pensando no próximo contrato...ou a enrolar o Grêmio e fazer mais um maravilhoso contrato de 2 anos com polpudos salários.

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  2. Exatamente,Marcelo. E a Direção omissa.

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  3. Tem uma palavra no teu texto, Bruxo, que resume bem esse terceiro rebaixamento do Grêmio: CARÁTER. Nesse elenco do Grêmio, dá para contar nos dedos de uma mão os atletas que possuem caráter. Jean Pyerre e Diego Souza precisariam de um dicionário para ao menos saber o significado deste substantivo.

    Caráter é algo que Romildo e seus pulhas desconhecem. Se passar uma composição férrea distribuindo caráter, eles correm da mesma forma que o diabo corre da cruz.

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    1. Concordo com tudo e digo mais: lembro sempre de um jogador que pegou um período negro, de pobreza, zero capacidade de investimentos, não ganhou nenhum título de expressão mas era um cara que realmente honrou nossa camisa, um profissional na mais perfeita acepção da palavra e um homem íntegro que se chama Tcheco! Tivesse ele a sorte de ter pego um periodo melhor faria história no Gremio!! Nada a ver com estes bagaceiras que vieram e ainda estão aqui.

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    2. Concordo. São dois:Tcheco, cuja foto ilustra o blog aí em cima e Victor que depois deu uma Libertadores para o Galo.

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  4. Sobre o Foguinho, é a primeira vez que ouço que ele queria que os jogadores cantassem o hino do clube antes do treino (o que, como você mesmo colocou, seria inviável). Quanto ao futebol força, quem sou eu pra mudar uma história contada a tanto tempo, mas tento reparar com o pouco de memoria que ainda me resta, relembrando umas duas ou três entrevistas dele que tive o prazer de ver. Primeiro, ele não era adepto do futebol força, em outras palavras, tosco, brutamontes (arranca toco e quebra canela), “de raça”, a la Argentinos. Tanto é que no time dele havia um Gessy, um Airton Pavilhão que pelo nome e foto parecia um “leão de chácara”, no entanto, era extremamente técnico (dizem que não foi convocado para a Copa justamente por ser técnico demais para um zagueiro). Esta história começou ao final dos anos 50, numa excursão do Grêmio à Europa, onde Foguinho se encantou com a aplicação tática e física dos europeus da época. Bem sabemos que no Brasil se dava, como ainda se dá, a valorização do futebol arte, de toquinhos, jogadas geniais, etc. Ao retornar tentou implantar isso no Grêmio. Foguinho realmente era disciplinador, daqueles que exigiam cumprimento de horário, empenho até nos treinos, nos jogos, entrega. Tudo isso combinava com o estilo dele como jogador: aplicado, produtivo, fisicamente cuidado, cumpridor dos seus deveres. Como dizia, queria trabalhar com homens de caráter. Para o futebol “arte” era uma aberração, ao passo que hoje seria ovacionado como um cara visionário e implantador de ideias novas. Mas a época era outra. Infelizmente para ele.
    Para o Grêmio restou a pecha de representante do futebol força, a la hermanos (devido a proximidade da região).

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  5. Sua finalização é exemplar. Diria que não só dos atletas, mas da agremiação como um todo: torcedores, sócios, dirigentes, comissão técnica, … .

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  6. Ouço que depois que Renato foi despedido do Flamengo, alguns desejam a volta dele. Tenha a paciência. Já coloquei aqui que não sou fã de ninguém, apenas reconheço sua grande contribuição em diversos momentos, mas basta. Já recebeu a estátua. Não sou adepto da tese de “terra arrasada”, mas está na hora de ser mais profissional. Renato é um dos responsáveis por esta situação. Não vai agregar nada mais.

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    1. Arih
      Sigo achando que não vamos encontrar no mercado de brasileiros, um treinador satisfatório. Renato, Roger, tudo é passado.

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    2. E que tal o próprio Tcheco? Afinal, só conseguimos subir em 2005 com Mano Menezes em início de carreira.

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    3. Acho um bom nome, se comparado com as figuras carimbadas, mas, insisto, a hora é de novos e vencedores conceitos.

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  7. Também ouço criticas ao Bolzan. Pois digo que há certa razão já que ele é o presidente em exercício, portanto, aos olhos do mundo é o responsável. Bolzan representa, apenas, o tênue consenso entre os cardeais do clube. Sempre haverá oposição em qualquer coisa. No Grêmio não é diferente. Bolzan foi o nome de consenso para tocar o barco. Por trás dele há vários que estão operando nos bastidores. TODOS responsáveis por esta situação. Tanto que todos aceitaram os caprichos do Renato. Quando falo que o clube deve ser mais profissional, quero me referir ao que fizeram com as finanças. Trouxeram um cara que se preocupou só com a administração e finanças do clube, trouxe resultados. Passou da hora de pôr um profissional como gerente operacional/ futebol. Esse negócio de vice de futebol é só para satisfazer o ego de alguns vices que compõem a cúpula de dirigentes.

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    1. Olha Arih, posso afirmar pra ti, o cara da administração e finanças não se preocupou somente com essas duas áreas, se meteu no futebol e é um dos principais responsáveis pelo rebaixamento do Grêmio.

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    2. Olha Rafael, pelos teus comentários uma coisa é certa: você conhece mais coisas internas do clube que eu, mero torcedor, e devo concordar que o Amodeo (?) se meteu em alguns momentos no futebol. Quando? Cobrindo lacunas existentes. Ao menos foi o que pareceu. Havia a falta do gerente/diretor de futebol. Esta na hora de trazer os Rodrigos Caetanos da vida. Creio que o mercado não deve estar ruim pra esta função.

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    3. Conheço algumas coisas Arih, mas infelizmente o Amodeo não somente se aproveitou da lacuna, como foi mais longe. Por exemplo, o Grêmio estava acertado com um excelente executivo de futebol, porém, quando o nome chegou ao conhecimento do CEO, ele barrou a contratação. Em contrapartida, indicou um nome seu, o atual executivo de futebol, uma marionete sem voz ativa no clube, tanto é que quem foi a Europa contratar jogadores (e acabou vendendo!) foi o CEO, sem sequer a presença do cara responsável por avaliar o mercado e buscar reforços.
      Talvez seja até um exagero da minha parte, mas o CEO do Grêmio está sendo muito bem remunerado, talvez tenha lá seus méritos, porque andar de Porsche não é para qualquer um...

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  8. E acomodações das diversas correntes políticas, aí o futebol é punido.

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    1. É justamente ao contrário. Em clube politicamente em choque é que há a grande possibilidade do futebol ser punido. Claro que se a administração atual acertou em muitas coisas depois de 2004, neste ano, perdidos, não souberam agir na hora que devia. Talvez porque não acreditaram que poderia acontecer embora haviam sinais mais do que claros. Por isso digo que algo muito estranho ocorreu. Veja o Botafogo. Financeiramente quebrado, mas bastou chegar no Z4 deram jeito de arranjar dinheiro sabe-se de onde, colocaram os salários em dia e saíram do Z4 para serem campeões. No Grêmio, o problema não foi, segundo consta, salários.

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