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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Pequenas Histórias

Pequenas Histórias (281) - Ano - 1954 - 2013

O Quereres da Infância 

Fonte: https://www.tripadvisor.com.br/

Na segunda metade da década de 60, eu, em plena infância, via o meu time ganhar sempre o campeonato gaúcho, 66, 67, 68; penta, hexa, hepta, com isso, aumentou a minha admiração pelos ídolos tricolores e pela casa onde davam memoráveis espetáculos.

 Uma hora, eu queria ser o goleiro Alberto; seleção brasileira, emérito pegador de penalidades, que brigava por uma vaga à Copa de 1970; noutra, queria ser o capitão Áureo, grande líder, têmpera de campeão, exemplo de vencedor. Também, queria ser Everaldo, o mais qualificado do time, mais que passista, ele era o mestre-sala que desfilava a sua exuberância técnica nas laterais e no meio de campo; aliás, neste setor, queria ser Sérgio Lopes, o camisa 10, o “Fita Métrica”, apelidado assim pelos lançamentos certeiros para os atacantes. O engenheiro do Expresso da Vitória.

 Otimista e presunçoso, eu queria ser de todos eles, aquele que ocupava o lugar de luxo: o comando do ataque. Queria ser o Bugre, camisa 9, Alcindo, um centroavante, cujo suor, suas gotas, transpiravam gols, muitos gols; tantos que disputou a Copa do Mundo de 1966, fazendo parceria com Pelé, porém, a bagunça administrativa do Selecionado impediu o tri campeonato naquela edição.

 Com a vocação irrefreável para balançar as redes das mais variadas formas (pé esquerdo, direito, de cabeça, batendo faltas, cobrando pênaltis), Alcindo virou o maior goleador da história Tricolor.

 Vieram os vacilos das gestões seguintes, aí, o Tricolor foi cedendo terreno para o Coirmão; jogadores envelheceram, perderam o viço, outros, o brilho; e vi, com tristeza, a saída de Alcindo para o Santos nos primeiros anos de 70. Do Peixe para o México, o retorno às origens, no ano da graça de 1977, ele, pensando em parar, voltou a Porto Alegre, começando a treinar no Olímpico, sem compromisso, apenas para manter a forma. A notícia correu e a massa exigiu uma chance para o veterano ídolo, já próximo dos 32 anos.

 Telê acolheu o pedido dos torcedores e deu oportunidade para o Bugre. Sua reestreia se deu diante do San Lorenzo de Almagro no dia 23 de Março, amistoso acordado para quitar a negociação que trouxe Ortiz para o Imortal no ano anterior. Alcindo fez o que sabia, gol, aliás, gol de falta em La Volpe, que assim como Ortiz, na Copa da Argentina (1978), levantaria a taça para os Hermanos. 1 a 0.

No mês seguinte, o primeiro clássico e adivinhem? 3 a 0, dois de Tadeu e um do Bugre; de cabeça.

Na quebra da hegemonia vermelha, o famoso 1 a 0, de 25 de Setembro, quem substituiu André, o centroavante do voo dramático do mal sucedido salto mortal? Ele mesmo, Alcindo. Botou faixa e deu volta olímpica como nos velhos tempos.

O Bugre, ele, o que eu queria ser, mas pensando bem, o verdadeiro quereres daqueles tenros anos era pisar no sagrado gramado do Olímpico ao lado deles; de Alberto, de Áureo, de Everaldo, de Sérgio Lopes e de Alcindo. Lá, em fila indiana, esperando para ser o último no túnel; me agachar e tocar levemente a grama, fazer o sinal da cruz, acenar para a massa, ouvir meu nome gritado, olhar e quase cegar pela potência dos refletores e me perfilar para acompanhar o hino riograndense executado pela banda da Brigada Militar, quem sabe, posar para a tradicional foto em pé, com os braços cruzados ou, talvez, agachado com a mão na bola, olhando para os flashes da ação dos fotógrafos ou vislumbrar no alto da marquise, ao fundo do monumental casarão da Azenha, a frase: nada pode ser maior.

Hoje, 17 de Fevereiro de 2023, 10 anos do último encontro feérico com o nosso Olímpico Monumental. Uma saudade imensa.

O verdadeiro Imortal no coração e mente da Nação Tricolor.

Quereres: "o querer é um impulso vivenciado emocionalmente. Nossas necessidades são apenas humanas, mas nossos quereres são essencialmente nossos." 

Fonte:  Arquivo pessoal do amigo Alvirubro

             Zero Hora

             https://gremio1983.wordpress.com

             










17 comentários:

  1. Um texto primoroso para as novas gerações de gremistas que acompanharam o time nesta última década, Bruxo.
    Dez anos são tantos, mas ao mesmo tempo são tão pouco, se analisarmos a história de um clube centenário.
    Nossa infância já longe vai, mas deixou marcas indeléveis na nossa caminhada como torcedores.

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  2. Gracias, Alvirubro.

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  3. Vocês me remetem a um tempo de ótimas recordações.
    Comecei a ser torcedor gremista em meados dos anos sessenta. Três coisas foram determinantes.
    A primeira, meu pai. Não dizia que deveria ser torcedor desse time tricolor, mas de vez em quando “buzinava” nos meus ouvidos: este time é bom. Por outro lado, me contou a história de que foi convidado a realizar testes no tricolor no inicio dos anos cinquenta. Bah, que orgulho. Para completar sua decisiva contribuição, ele também “batia suas peladas”, o que irá influenciar no segundo motivo.
    Em segundo, foi um período que comecei a jogar bola com mais frequência, ser requisitado para fazer parte dos “timezinhos” dos garotos, mais frequentemente. Com não tinha material, usava os do meu pai. Gorro tricolor, meião tricolor e suas chuteiras que me faziam colocar jornal picado na ponta para se acomodarem nos meus pés. Bem, o material tricolor usado acabava tendo suas influências.
    Em terceiro, foi a época que compraram uma televisão lá em casa. Pronto. Agora deixava de ouvir os jogos pelo rádio e os via em VT, parecendo ao vivo, em preto e branco. Podia, finalmente, ver aqueles ídolos.
    Em meio a isso tudo, nos anos sessenta o Grêmio dominou o futebol no sul. Ainda tinha meu time de botão azul e entrei pela primeira vez no Olímpico levado pelos tios torcedores. Imagina a emoção.
    Será que conseguiria, ou melhor, “quereria” ser torcedor de algum outro clube?

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  4. Baita relato, Arih.

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  5. Boa noite.

    Sou mais conhecedor do arqueiros dos anos 90/00/10.

    Muitos relatos de que Lara, Alberto, Mazaropi e Danrlei são os maiores pegadores de pênaltis da história do Grêmio (superando Victor).

    Alvirubro, em seus escritos, tens o pênaltis defendidos de cada um deles?

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    1. Dados referentes ao período de 90 minutos de jogo. Não constam decisões em pênaltis.

      Lara - 49 pênaltis marcados contra o Grêmio - 39 gols - 9 defesas e 1 batida na trave.

      Alberto - 14 pênaltis marcados contra o Grêmio - 8 gols - 4 defesas e 2 batida na trave.
      ** Alberto defendeu outras penalidades, quando jogava por outros clubes.

      Mazaropi - 34 pênaltis marcados contra o Grêmio - 23 gols - 8 defesas, 2 para fora e 1 batida na trave.

      Danrlei - 79 pênaltis marcados contra o Grêmio - 62 gols - 9 defesas, 3 para fora e 5 batidas na trave.

      Todos os dados ainda estão sendo pesquisados.

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    2. Tenho alguns anotados (achei na Gremiopédia)

      Lara
      21/04/1921, defesa contra o Americano, batedor Pavani
      01/05/1921, defesa contra São José, cobrador Natal
      24/06/1921, defesa contra o Riograndense SM
      31/07/1921, (2) defesa contra o São José, (2) cobrador Deodato
      04/06/1922, trave contra o Ruy Barbosa, batedor Roque
      15/11/1923, defesa contra o São José, batedor Telêmaco
      10/07/1927, fora contra o Cruzeiro
      20/04/1930, (2) foras contra o Americano, batedores João e Zezé
      10/07/1932, defesa contra o Internacional, batedor Honório
      13/08/1933, defesa contra o Internacional, batedor Risada


      Alberto eu não tenho nenhuma


      Mazaropi
      26/04/1988, defesa contra o Internacional, batedor Luiz Carlos Winck
      28/05/1989, defesa contra o Internacional, batedor Norton
      07/09/1989, fora contra o Coritiba, batedor Osvaldo

      Danrlei
      30/10/1993, fora contra o Palmeiras, batedor Evair
      2001, contra o Atlético Mineiro
      2003, contra o Penarol

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    3. Alvirubro, tens quais os jogos das defesas destes goleiros?

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    4. Os de Lara estão corretos. Complemento: 24.06.1921, defesa contra o Riograndense SM, cobrador Petronilio Silva

      Alberto - Complemento
      02.10.1963 C Atlético Mineiro - Nílson (Trave)
      25.03.1965 Riograndense FC - Liminha (Trave)
      18.06.1967 EC Floriano -Sapiranga (Defesa)
      21.04.1968 EC Pelotas - Joaquinzinho (Defesa)
      08.09.1968 A Portuguesa de Desportos - Augusto (Defesa)
      12.10.1968 Botafogo FR - Carlos Roberto (Defesa)

      Mazaropi - Complemento
      06.07.1983 América de Cali - Ortíz (Defesa)
      03.09.1986 Atlético Paranaense - Mauro (Defesa)
      28.02.1987 Juventude - Cuca (Defesa)
      23.03.1988 Caxias - Gérson Lopes (Defesa)
      11.05.1988 River Plate - Alzamendi (Trave)
      05.07.1989 Brasil - Francisco (Defesa)
      22.02.1990 Lajeadense - Natalino (Defesa)
      05.08.1990 São Paulo - Flávio (Fora)

      Danrlei - Complemento
      22.06.1994 SER Caxias Gilvan (Defesa)
      03.08.1994 CR Vasco da Gama William (Fora)
      21.08.1996 CA Bragantino Esquerdinha (Trave)
      22.02.1997 GFB Santanense Mauro (Trave)
      08.04.1997 A Portuguesa de Desportos Paulinho Maclaren (Defesa)
      23.07.1997 Santos FC Caíco (Trave)
      04.02.1998 Shanghai Greenland Shenhua FC Cláudio (Defesa)
      15.04.1998 C Nacional Rubén Sosa (Defesa)
      30.07.1998 CA River Plate Hernán Díaz (Trave)
      25.02.1999 Tubarão FC Adelmo (Defesa)
      18.04.1999 Paraná C Reginaldo Vital (Defesa)
      27.08.2000 SC Corinthians P Ricardinho (Fora)
      08.02.2001 América FC Alessandro (Defesa)
      14.02.2001 Figueirense FC Aldrovani (Trave)
      13.04.2003 Goiás EC Dimba (Defesa)

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    5. A defesa de pênalti contra o Shanghai Greenland Shenhua foi do Murilo.

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    6. Correto! Foi do Murilo, no final do jogo.

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    7. Aliás Murilo era um dos sem sorte em pênaltis. Só tenho esse registro e mais um de defesa dele (contra o Corinthians na trave em 1997)

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  6. Alvirubro, há muito tempo acompanho o trabalho deste blog, dos textos incríveis do Bruxo, dos comentários dos participantes sempre pontuais e queria neste momento mostrar o apreço pelo teu trabalho, pelos teu incrível trabalho em repassar a história em dados e números de Grêmio e Internacional. Parabéns pelo trabalho.

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  7. Em números totais (mesmo que incompletos e faltando muitos números dos anos iniciais), tem todos os goleiros gremistas que pegaram pênaltis ou tiveram sorte e os jogos?

    Tenho alguns: Hugo Teichmann (2), Kunz, Demétrio, Teixeira (2), Pavim, Möeller (2), Leal, Edmundo (3), Júlio Petersen, Sérgio Moacyr (4), Cláudio Bello (2), Arlindo, Henrique, Germinaro, Silvio Renato, Galatto....

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    1. Sobre esse pedido, quero que entendas: ainda estamos analisando a possibilidade de uma publicação futura. Se eu postar os dados por ti solicitados e outros requeridos, acabará a novidade e a diferença para outras publicações deixa de existir. Espero que compreendas. Dessa forma, deixo de atender ao teu pedido, enquanto estiverem fechados os dados para uma publicação sobre os jogos do clube.
      Abraço!

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  8. Estes são os maiores do Internacional:

    1º Clemer - 8 pênaltis
    2º André - 7 pênaltis
    3º Renan - 5 pênaltis
    3° Ivo Wink - 5 pênaltis
    5º Benítez - 4 pênaltis

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