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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Prosseguindo na republicação das minhas Pequenas Histórias, seguem mais três, de 4 a 6.


4. ... e El Mono silenciou o Pacaembu - Ano 1972


No último fim-de-semana o Tricolor foi a Vila Belmiro e ganhou do Santos pela primeira vez em campeonatos brasileiros. Uma façanha, sem dúvida. Mesmo com o Santos desmobilizado e desfalcado, há de se reconhecer o mérito da conquista.

Esta vitória me remeteu a outra, quase quarenta anos atrás, dezembro de 1972, quando no Pacaembu com aproximadamente 70.000 pagantes, o Grêmio fez um dos seus jogos memoráveis. Ganhou do Peixe por 1 x 0.


 E não era qualquer Santos não! Havia o goleiro Cláudio que participou das eliminatórias para a Copa do México, o capitão do Tri Carlos Alberto, Clodoaldo, Edu, Afonsinho, o veterano bi-campeão do mundo em 62, Jair da Costa, repatriado da Itália e claro, havia Pelé. Além deles, duas lendas gremistas vestiam a camisa santista, Alcindo e Oberdan, o primeiro o maior goleador da história tricolor, o segundo viria para barrar os anos de conquistas vermelhas em 1977.

O Grêmio tinha poucos craques como Anchetta e Oberti, mas possuía uma equipe guerreira  com Beto Bacamarte, Valdir Espinosa, Paulo Sérgio, Loivo, Mazinho, etc...

O Santos era franco favorito; favoritismo que aumentou quando Arnaldo César Coelho apontou pênalti de Espinosa em Clodoaldo, ainda na primeira fase. Destacado para a cobrança, Carlos Alberto Torres colocou no canto direito da meta onde o estupendo arqueiro Picasso voou e espalmou a pelota, evitando a abertura do placar. Picasso era um dos maiores goleiros brasileiros. Gaúcho de Canela, chegou a Seleção Brasileira em 1968. Foi um dos cogitados para ir a Copa de 70. Não foi, mas na mesma temporada ganhou a primeira edição da Bola de Prata da Revista Placar como o melhor de sua posição.

O empate era um grande resultado, mas no Grêmio jogava (Alfredo Domingo) Oberti, apelidado de “El Mono”, argentino vindo do Newell’s Old Boys, canhoto que se transformou no maior goleador estrangeiro da história do Imortal.

 Aos 38 minutos do segundo tempo, na meia direita, quase meia-lua da área, ele ajeitou para a perna esquerda e fuzilou, fazendo o gol no arco do Tobogã, antiga Concha Acústica, à direita das cabines de televisão. Oberti que na foto é o do meio entre os agachados, deixou o Grêmio dois anos depois, porém a sua técnica e o faro de gol se perpetuaram no imaginário dos torcedores numa época que era bem difícil sair às ruas com o nosso manto sagrado. Oberti ajudou a manter a mística da Imortalidade decretada nos versos de Lupicínio Rodrigues.

5. De uma goleada sofrida, nasceu um herói tricolor - Ano 1971


Esta crônica de hoje é um pouco diferente. Não tem vitória do Imortal, nem o protagonista esteve dentro das quatro linhas no distante 18 de Abril de 1971. Na verdade, um treinador que foi craque, jogou na Seleção Gaúcha que representou o país em 1956 no Pan-americano , também foi campeão com o Renner em 1954; antes integrou o grupo do segundo Rolo Compressor e ainda atuou pelo Palmeiras.
Mas naquela tarde, ele estava no Estádio da Montanha, mais precisamente na casamata do Clube Esportivo Bento Gonçalves,enfrentando o Grêmio Porto-alegrense que vinha invicto há 24 partidas e tinha como comandante Oto Glória, simplesmente o profissional que comandou a melhor seleção portuguesa de todos os tempos, conquistando o 3º lugar no Mundial de 1966 disputado na Inglaterra, tendo inclusive, derrotado a Seleção Canarinho por 3 x 1 em Liverpool.
O Esportivo impôs uma sonora goleada de 5 x 2 com o centro-avante Lairton marcando em 4 oportunidades, Mariotti faria o último gol alvi-azul, descontando para o Grêmio Bebeto, o Canhão da Serra e Caio. O time serrano levou a campo os seguintes atletas: Edgar, Adair, Ademir, José e Marcos, Paulo Araújo, Rui e Neca; Gonha (Vitor), Lairton e Décio (Mariotti).
Utilizando quase o mesmo time dois anos depois, em abril de 73, o Esportivo praticou outra façanha: com um gol de Décio bateu o Internacional no Beira-Rio, tornando-se o primeiro clube do interior gaúcho a vencer no novo estádio vermelho.
O Esportivo era um time harmonioso a partir do seu meio-de-campo, onde se sobressaía o rio-grandino Neca, mais tarde, atleta do Grêmio, Corinthians e São Paulo, além da Seleção Brasileira na metade da década de 70.
Pois bem! Se a foto não foi suficiente para lembrar o nome de quem estou tratando; revelo agora: Ele mesmo! Ênio Vargas de Andrade. Com essa vitória retumbante, ele passou a chamar a atenção da totalidade do meio esportivo gaúcho. Todos sabiam de suas qualidades como atleta, mas esta goleada tornou-se o seu cartão de apresentação como treinador. Em 1975 o Imortal lhe deu a primeira chance num clube de ponta e com material humano bem modesto conseguiu vencer um Grenal histórico (o dos três gols de Zequinha), fazendo frente ao poderoso rival e prosseguiu fazendo trabalhos vencedores por onde passou.
Para mim, um garoto de 12 anos, a goleada sofrida teve pelo menos este consolo. Fui apresentado a um dos meus futuros heróis. Ênio “Cabeça” Andrade, o comandante que levou o tricolor a duas finais consecutivas no Brasileirão, 1981 e 1982 e o lançou a um outro patamar.Ênio, modesto, achou que seu ciclo no tricolor encerrara. No ano seguinte, o Grêmio novamente recorreu ao time da Serra, trazendo de lá Valdir Espinosa.
Hoje no bairro Três Figueiras, Porto Alegre, existe uma rua com o nome de Ênio Andrade; sem dúvida, um justo reconhecimento dos gaúchos. Obrigado, Seu Ênio.

6. Os Imperdoáveis - A Vingança - Ano 2011


Desta vez, a série Pequenas Histórias vai viajar décadas atrás e estacionar os olhos no distante 30 de Outubro de 2011.Distante, é verdade, mas parece que foi ontem. O Imortal vivia dias difíceis, muita desconfiança por parte de sua poderosa torcida, desconfiava-se da direção que se mostrava titubeante, protagonista de vários equívocos naquele primeiro ano de sua gestão. Uma de suas muitas trapalhadas, talvez a maior, dizia respeito a embromação que o astro Ronaldinho Gaúcho, cria do Tricolor, lhe infligiu. Com jeito macio e sorrateiro, cozinhou a pseudo raposa chamada Paulo Odone até o ponto onde a temperatura constrangedora o transformou em troça nacional e a grande Nação Tricolor foi tomada de um misto de revolta e indignação que afetou a relação com a sua equipe. Desconfiava-se de craques como  Mário Fernandes, Fernando, Fábio Rochemback, Douglas, sim! Verdade, desconfiava-se do talentoso camisa 10, do argentino Miralles e incrivelmente, do Victor, o nosso fantástico goleiro.Ele no confronto pelo primeiro turno, tomado de assalto de um gremismo incontrolável quis driblar  o desafeto e se deu mal. Foi ao Inferno, demorou para se recuperar, mas teve a volta. Pois bem, naquele domingo, 30 de Outubro a torcida lotou o Olímpico Monumental para o acerto de contas com o craque rubro-negro e por tabela, com o Flamengo que tinha um senhor elenco: Felipe, Alex Silva, Thomaz, Thiago Neves, Renato Abreu, Léo Moura, Júnior César e Deivid. Na casamata , Wanderley Luxemburgo, um estrategista e malandro conhecedor dos meandros misteriosos que ocupam os vestiários e as 4 linhas do campo.O destino estava selado: O Flamengo iria pagar o pato.
Hoje não temos mais o Olímpico que foi demolido no início de 2013, porém naquele dia (ele) recebeu uma multidão que aplicou a maior vaia individual que se tem notícia por estes pagos. O até então insensível Ronaldinho bambeou, sentiu o golpe. É verdade que antes de ir a lona ainda deu passos de Muhammad Ali, mas tal qual na hora da morte, a melhora foi apenas o estertor típico dos moribundos.O caixão jazia a seu lado, faltava apenas o coveiro, ou melhor, os coveiros, tantos eram os voluntários.
A sua indiscutível arte quase lhe concedeu a glória numa cobrança de falta logo que a bola rolou; aí a mão salvadora de Victor fez o desvio providencial e a bola beijou o travessão, o goleiro tricolor estava fazendo naquele momento, o seu trivial, ou seja, operando mais um milagre.
 Como numa boa peça dramática, o Grêmio sofreu 2 gols acidentais e o espetáculo ganhou contornos de tragédia. Neste momento, Ronaldinho se refestelava, certo que o desenredo seria o mesmo de sua bem-sucedida, ainda que contraditória trajetória, misto de talento e pilantragem.
No entanto, no Imortal havia um grupo pronto para se tornar protagonista, nunca coadjuvante e como num bom faroeste, não teve piedade. André Lima por duas vezes balançou as redes do Urubu, Douglas e Miralles, o preterido de Roth; completaram o Ato com dois golaços.
Naquele longínquo e inesquecível 30 de Outubro, os gremistas exorcizaram o espectro daquele que foi sem nunca ter sido.
Ronaldinho, o maior craque produzido nas bases do Imortal estava definitivamente relegado a uma sombra pálida dentro da história do maior time do Sul do país. Dali em diante continuou a ser comentado, porém mais como uma personagem secundária  que os mais jovens atualmente tem dificuldades de associá-lo com a bela história do nosso eterno Campeão do Mundo.

2 comentários:

  1. Obberti marcou 35 gols pelo Grêmio:

    As vítimas:

    Cotrisal (São Borja)
    Associação Caxias
    Esportivo (Bento Gonçalves)
    Cachoeira
    Santa Cruz
    Gaúcho (Passo Fundo)
    Brasil (Pelotas)
    São José (Porto Alegre)
    São Paulo (SP)
    Sergipe
    Santos (SP)
    Cruzeiro (MG)
    Santa Cruz (PE)
    Boca Júniors (Argentina)
    Avaí
    Riograndense (Santa Maria)
    A.E. Santo Ângelo
    Grêmio Bagé
    Internacional (Santa Maria)
    Internacional (Porto Alegre)
    Pelotas
    CEUB (DF)
    Olaria (RJ)
    Coritiba

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  2. Além de ter feito 2 pela Seleção Gaúcha, 3 a 2 no Uruguai, jogo que antecedeu o famoso Gaúchos 3 a 3 Seleção Brasileira naquele ano.

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