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quinta-feira, 23 de julho de 2020

Pequenas Histórias

Repostando; hoje; 45 anos deste Grenal inesquecível


22 - Zequinha, o Professor - Ano 1975




José Márcio Pereira da Silva, mineiro, cabelo black power, calça boca de sino, professor de Letras, autor de "O Time do Bagaço", lançado em 1976 pela L & PM Editores, livro precursor nos relatos das histórias da bola e dos boleiros, atualmente reside na América do Norte. Conhecem? Não! Então, quem sabe Zequinha, o dos 3 gols num certo Grenal?  Ah! Melhorou.

 Zequinha é um ser iluminado, pois jogou no Botafogo com a camisa 7 que fora de Garrincha e sucedeu o tri campeão mundial, Rogério no clube da Estrela Solitária. Foi o ponteiro direito nos dois jogos de despedida de Pelé pela Seleção Brasileira, Morumbi e Maracanã, em 1971. Mais! Foi um dos raros jogadores da dupla Grenal a fazer três tentos num único clássico. Único também, era o seu estilo de conduzir a bola em velocidade; utilizava a face externa dos pés.

 Tem lugar certo na galeria de heróis da maior rivalidade esportiva do Brasil. Para os gremistas ele não é só um herói. É um super-herói.

  Bem, apresentei o Santo, agora vou contar o Milagre. Corria o mês de Julho de 1975, nos cinemas da capital filmes como Amarcord (Cine Premier), Satyricon (Marabá), Assassinato no Orient Express (Imperial e Presidente), Loucuras de Verão (ABC) e no Gigantinho, naquela semana, Quico, Gilnei, Peri, Kleiton e Kledir, isto é, Os Almôndegas, subiriam ao palco, juntamente com Sá, Rodrix e Guarabyra mais Morris Albert, o cara do hit "Feelings". Mas o que me importava era o Grenal; ainda mais pelo fato do Tricolor fechar simplesmente, 3 anos e meio sem ganhar um. Eram 17 edições na seca. Eu estava com 16 e a última vitória, eu recém fizera 12 anos.

  Na adolescência, quase 4 anos é uma eternidade. O Grêmio vinha tropeçando no campeonato gaúcho o que o obrigou a ganhar o clássico por diferença de 3 gols, no mínimo, para decidir o turno no fim-de-semana.

 O confronto seria à noite na casa do adversário, o Beira-Rio, o que aumentava a descrença numa vitória. Além disso, o nosso time era bem inferior. Sorte que naquele ano, o presidente Luis Carvalho, ex-craque dos anos 30, trouxera um técnico promissor: Ênio Andrade.

  Com poucos recursos,  os reforços vieram do interior gaúcho e paulista. Craques consagrados, o Tricolor tinha apenas 3: Picasso, o goleiro, Anchetta e Zequinha.

 Havia 3 promessas; Bolívar, Beto Fuscão e Neca. Os outros eram "pura raça". No dia 23, utilizando o uniforme idêntico ao da Celeste Olímpica (Uruguai), o Imortal entrou em campo praticamente com a equipe da foto aí de cima, ou seja, Picasso, Vilson, Anchetta, Beto e Jorge Tabajara; Cacau, Iúra e Neca; Zequinha,Tarciso e Nenê. Entraram ainda Luiz Freire e Bolívar.

  O Inter com Manga, Cláudio, Figueroa, Hermínio e Vacaria; Falcão, Borjão e Paulo César Carpegianni, Valdomiro, Flávio e Lula. Mais o ingresso de Claudiomiro no tempo final. No comando: Rubens Minelli.

 Um primeiro tempo de muito respeito e poucas chances de gol. Os times voltam para a segunda etapa de forma mais ousada. Aos 6 minutos, Nenê arranca pela esquerda, perseguido por Figueroa, este dá um carrinho no momento em que o ponta ia chutar; azar do chileno, pois dá um verdadeiro passe para Zequinha (primeiro, agachado na foto) e este completa para o fundo das redes.

 Não demora muito e em novo erro do capitão colorado que atrasa curto para Manga, permitindo a Zequinha, com leve toque tirar o goleiro da jogada e empurrar para o fundo da meta rubra.

 Loucura total! O impossível estava acontecendo. A sensação era a mesma do mundo quando o exército nazista perdera sua primeira batalha, a de Stalingrado, mostrando que não era invencível. O Grêmio era os russos! Faltava mais um.

 O abafa continuava, mas o baque chegou aos 40 minutos, quando o jovem Falcão descontou. 2 a 1. Pouquíssimos minutos se passam e Zequinha invade a área pela direita e solta a bomba, a bola bate no peito de Vacaria e toma o caminho das redes.

 Terceiro gol dele na abençoada goleira que fica à esquerda das sociais, em frente a galera tricolor. Quase nos acréscimos, o meia Neca invade a área e coloca no canto esquerdo, a pelota caprichosa bate na trave e não entra. Final de jogo.

 Mesmo desclassificado, o Imortal faz a festa. Vê que é possível reverter o quadro. A vitória recupera a confiança, rende dois mil cruzeiros para cada atleta.

 Zequinha é eleito o craque da partida; logo abaixo dele, com grande atuação, o zagueiro Anchetta.

 Em suas entrevistas de final de jogo, o capitão gremista diz que vai pegar a esposa e sair para dançar à noite inteira.

  Já na minha casa, meu pai, meu irmão e eu, sentamos à mesa da cozinha com o rádio Phillips de 4 pilhas grandes ao centro e pela primeira vez bebemos vinho juntos. Agora era esperar pelo video tape completo pela tevê Piratini.

 Naquele Grenal, Zequinha ensinou ao mundo como se ganha um clássico. Havia dado uma aula de futebol.


6 comentários:

  1. Um jogador marcar três gols, ou mais, em um GRENAL é algo muito raro. Tanto é que em 111 anos de clássico isso só correu em 20 deles.

    Nos últimos 60 anos, em apenas 4 clássicos houve jogador que marcou três gols. Zequinha foi o último atleta tricolor a marcar três gols, em 1975. Do lado colorado, Geraldão marcou três, em 1982.

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  2. É uma façanha e tanto. Lembro do Geraldão, ano anterior, jogando pelo Grêmio, ele fez um gol.

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    1. Isso mesmo! Na estreia dele no Grêmio. Em 8 jogos pelo tricolor, marcou 5 gols.

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  3. Pelo Internacional, em 108 jogos marcou 51 gols. Artilheiro nato!

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  4. Incrível! Está aí um goleador pouco lembrado pelos gaúchos. Olha a média dele no Grêmio.
    A do Inter também é ótima.

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  5. 56 gols em 116 partidas pela Dupla.

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