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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (187) - Ano - 1940


O Mítico Luiz Carvalho e a virada sobre o Independiente

Fonte: wikipedia.org

 Há quase 80 anos, Independiente e Grêmio se enfrentaram pela primeira vez, mais exatamente numa Terça-feira, 30 de Janeiro de 1940, estádio da Baixada no bairro Moinhos de Vento, oportunidade rara de ver um clube portenho excursionando pelo país e encerrando a série aqui no Rio Grande.

Os “Rojos de Avellaneda”, bicampeões de Buenos Aires, donos de um futebol técnico e “esmerado padrão de jogo” (expressão do Correio do Povo) encontraram pela frente, os bicampeões de Porto Alegre, o Tricolor dos Pampas, desta forma, encerrando o giro pelo Brasil, que incluía uma goleada estrondosa sobre o Botafogo, 8 a 1.

Os anfitriões treinados por Telêmaco Frazão de Lima utilizaram: Edmundo; Dario e Luiz Luz; André, Noronha e Laxixa; Casaca (Lacy), Salvador, Alemãozinho (Luiz Carvalho), Foguinho e Malachias.

O Independiente usou: Carlés; Sanguinetti e Colleta; Franzolino, Sastre e Celestino Martinez; Villariño, De La Mata, Coll, Reuben e Maril. O grande destaque era Antonio Sastre, craque que na metade daquela década iria brilhar no São Paulo F.C.

O árbitro foi Alfredo Cesaro e a renda chegou aos 21 contos de réis.

Com grande atuação da linha média gremista, André, Noronha e Laxixa, o Tricolor conseguiu fazer um bom enfrentamento diante da superioridade técnica e tática do poderoso adversário. Mesmo assim, os visitantes conseguiram fazer valer as suas individualidades e Coll abriu o marcador, que permaneceu até o final da primeira fase. 1 a 0.

Duas substituições determinaram a mudança de ventos rumo à vitória; Telêmaco fez entrar o veterano e lendário center-foward Luiz Carvalho, o “Rei da Virada” em lugar de Alemãozinho. Carvalho estava nas arquibancadas assistindo a partida; sua entrada foi uma exigência da massa torcedora. Também ingressou outro veterano e lendário atacante: Lacy, um dos heróis do Grenal Farroupilha de 1935. Assumiu a ponta direita.

Com o visível cansaço abatendo os meias Salvador e Foguinho, sobrou para o trio final a incumbência de empatar a partida, missão que parecia muito difícil, porque os argentinos detiveram o balão de couro mais tempo do que os seus oponentes numa sucessão de acerto de passes. Esse, o panorama dos primeiros 15 minutos do segundo tempo.

Aos 18, o menos ilustre do trio ofensivo, Malachias, dá excelente arrancada pela ponta esquerda, vislumbra o matador pelo meio, cruza e Luiz Carvalho confirma a sua fama, desferindo forte petardo para empatar a disputa. 1 a 1.

A torcida vibrou muito e não arredou o pé da Baixada, encarando a chuva que teimava em castigar o gramado, incentivando o Tricolor, que mesmo após a igualdade no marcador, não conseguia equilibrar as ações na luta pela posse de bola, amplamente favorável aos portenhos.

Faltando 2 minutos para a marca final de 40 (as partidas eram de 80 minutos), o Imortal conquistou a virada, quando Luiz Carvalho encontrou Malachias, ingressando na área, o passe foi perfeito e o ponta chutou enviesado, matando o arqueiro Carlet. 2 a 1, placar final.

Findo o prélio, a torcida invadiu o gramado para saudar vencedores e vencidos, satisfeita pelo belo espetáculo que presenciou e principalmente, pela vitória azul.

Luiz Carvalho escreveu mais uma bela página em sua brilhante carreira, que se encaminhava para o ocaso. Depois de superar os craques do Independiente, conhecidos como Maestros, o Rei da Virada adicionaria um complemento ao seu nome: El Maestro.

Fonte: Jornal Correio do Povo
             Revista do Grêmio
             Arquivo pessoal do amigo Alvirubro

                 

27 comentários:

  1. Minha surpresa nesta escalação é ver Noronha no meio. Sempre, ou normalmente, ao que eu saiba, jogou como lateral esquerdo no Grêmio, aliás, um dos maiores laterais esquerdos que o Grêmio já teve, segundo a história. Já no São Paulo jogou de lateral e principalmente na zaga. Curiosidade: ídolo no Grêmio e no São Paulo. Temos aí: Luiz Luz, Noronha, Luiz Carvalho e Foguinho. Todos eles entre os maiores nomes que já tivemos, em todos os tempos. No entanto, creio que em 1940 já deveriam estar em final de carreira. Se não me engano, foi o período que tinha início o Rolo Compressor do rival. Complementando: esse Sanguinetti jogou no Grêmio?

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    1. Na verdade, Arih, tu tens razão, embora o texto esteja correto. Veja: Antigamente, a escalação começava pelo trio final, goal-keeper e backs, depois vinha os que chamamos de laterais, no caso, Noronha e Laxixa, o center-half, André, posição que depois virou o 4º zagueiro, os médios, Salvador e Foguinho e o trio de atacantes, portanto, Noronha seria o médio que jogava por uma das laterais.

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    2. Não jogou, Arih. O Sanguinetti que jogou no Gremio era outro: Estebán Sanguinetti Vásquez.

      Exatamente como comentaste. O Rolo Compressor estava iniciando.

      Esse mesmo adversário jogou contra o Internacional dia 27.01.1940 e empatou em 3x3, no estádio dos Eucaliptos.

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    3. Outro jogador que serviu aos dois da Dupla GRENAL: Salvador Arisio. Contam os periódicos da época que jogava demais.

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    4. Arih
      Acho que esta situação de "quarto zagueiro" merece uma pesquisa, porque se já existiam 2 backs, há um "furo" na minha explicação. Quanto aos laterais, tudo ok?
      Lembra desta escalação:Barbosa; Augusto e Juvenal; aí vinha a linha de médios que seriam lateral- centro médio e lateral (Bauer, Danilo Alvim e Bigode).

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    5. Foguinho era atacante. Noronha por essa época deve ter ido para o São Paulo que também montou um timaço com ele. Luiz Luz deve ter aposentado já que, se não me engano, já jogava antes da década de trinta e foi da seleção de trinta (primeiro mundial).

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    6. Por favor, não sou dessa época, como vou me lembrar (rsrsrsrs). Mas, pelos nomes, foi a seleção de 50?

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    7. Exato:Eram 5 atacantes, ponta direita, meia direita, centroavante, meia esquerda e ponta esquerda.Foguinho era meia esquerda; era canhoto de nascença.
      Retomando duas linhas ótimas: Tesourinha, Zizinho, Heleno, Jair da Rosa Pinto e Ademir Menezes (1950).Com os afastamentos de Tesourinha e Heleno, o time ficou com Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.
      A outra linha: Durval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe (Santos) do início dos anos 60.

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    8. Corrigindo: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

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    9. Mengálvio jogou no Grêmio. Infelizmente parece que foram só seis meses. Se não me engano, tanto Mengálvio como Durval eram do sul.

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    10. Mengálvio era irmão do defensor Figueiró, que atuou no Imortal. Assim, só pela memória, acho que o Mengálvio jogou no Aimoré, também.
      Dorval, olhei agora no google, era gaúcho e começou no Força e Luz.

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  2. Bruxo, um ajuste no nome do goleiro e do médio do CA Independiente, publicados com grafia errada nos nossos periódicos:

    José Carlés - goleiro
    Luís Franzolini - médio

    Por curiosidade, os demais atletas são:

    Manoel Sanghinetti
    Sabino Coletta
    Antonio Sastre
    Celestino Martínez
    José Vilariño
    Vicente de la Matta
    Andrés Coll
    Emilio Reuben
    Juan Maril

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    1. Obrigado, Alvirubro. Realmente, retirei as escalações do Correio do Povo e no caso do Franzolini, até pesquisei mais, já no caso do goleiro, nem desconfiei do erro da grafia.
      Vou corrigir.

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  3. Um pouco da origem do quarto-zagueiro está na página 169 deste trabalho:
    https://books.google.com.br/books?id=6LTDNXCGX4kC&pg=PA169&lpg=PA169&dq=qual+a+origem+do+quarto+zagueiro&source=bl&ots=ZShg3pmwL9&sig=w2i6p0pFOkpPDWiYK2eTKlsMggA&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwig-qDH8bXZAhWnmeAKHb_zCXIQ6AEIRDAC#v=onepage&q=qual%20a%20origem%20do%20quarto%20zagueiro&f=false

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    1. Caramba, encaixa certinho nas características do Kannemann

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  4. Nós somos da mesma geração, Arih; não pegamos aquela formação;é a de 50. Aliás, desconfio que só perde em talentos para a de 70 e 58.

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  5. Por que chamam um dos zagueiros centrais de quarto zagueiro?

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  6. Achei algo aqui:

    http://julioconte.blogspot.com.br/2013/03/o-quarto-zagueiro.html

    Do pouco que entendi, o sistema era um 3-4-3, e certa feita um dos do meio foi recuado pro centro da defesa, criando um 4-3-3.

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    1. Muito legal,Glaucio
      O jornalista citado como professor é daqui da terrinha, depois foi para Porto Alegre e se envolveu com a política.

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  7. Exatamente, Glaucio
    Daquela formação anterior (a do texto da PH), o esquema passou para um trio defensivo; mais tarde "recuaram" o centro-médio para a defesa e virou o 4º zagueiro.

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  8. Alvirubro, o André, o Casaca e o Malachias jogaram bastante tempo no Grêmio. Tens os números deles pelo Tricolor? O Malachias também conhecido por Duarte? Michel-SC.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. ANDRÉ
      71 jogos
      41 vitórias
      09 empates
      21 derrotas
      ..................

      CASACA
      74 jogos
      49 vitórias
      16 empates
      09 derrotas
      ..................

      MALACHIAS (Algumas fontes citam Duarte)
      65 jogos
      36 vitórias
      08 empates
      21 derrotas

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  10. Alvirubro
    Para se chegar a 74 jogos àquela época; isso deve dar quase 5 anos. Estou enganado?

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    1. Bruxo, não estás enganado! Considerando apenas os jogos pelo time principal (1ºs Quadros):

      - CASACA, jogou do início de 1936 até o início de 1940, ou seja, os cinco anos que citaste;

      - MALACHIAS, jogou da metade de 1939 até o final de 1942.

      - ANDRÉ, jogou do final de 1939 até o início de 1944. Outros cinco anos.

      ANDRÉ tem uma passagem bem interessante: na metade do ano de 1940, ele acertou-se com o Internacional, para a temporada de 1941. O técnico tricolor e a torcida não gostaram muito da atitude. Tanto que Telêmaco Frazão expulsou o jogador do clube, por um pequeno período. O negócio não evoluiu, porque havia regra que um jogador não poderia assinar contrato com outro clube em meio à temporada. ANDRÉ acabou "ganhando perdão" e ficou no Grêmio. A torcida "ficou de olho" no jogador. Entretanto, aos poucos foi reconquistando a confiança e permaneceu um bom período no Grêmio.

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  11. Para ver o quanto o futebol era amador. Não é crítica.

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    1. Perfeito! Era amador, mesmo!

      Inclusive, eram permitidas participações de atletas de um clube, em jogos amistosos de outros clubes, mesmo com contratos em vigência. Havia um regramento para participações em jogos oficiais, apenas.

      Somente com o DECRETO-LEI Nº 3.199, DE 14 DE ABRIL DE 1941, do Presidente Getúlio Vargas, é que começaram a aparecer as regras definidas com relação aos desportos, no Brasil.

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