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domingo, 23 de janeiro de 2022

Pequenas Histórias

Dando prosseguimento; abaixo vai  a segunda e última postagem sobre Gauchão, memória afetiva que envolve uma passagem do meu tio Adalberto Albo por Santa Maria com destaque para o zagueiro Donga, do Inter de Santa Maria.

Pequenas Histórias (263) - Ano - 1973

Meu Tio Adalberto

Fonte: Jornal A Razão

No Inverno de 1973, minha família recebeu a visita dos tios Adalberto e Ruth que moravam na capital. Ele, fisicamente era parecido com o ator Mário Lago; participou do processo que levou a Refinaria Ipiranga de Uruguaiana para Rio Grande, de onde decolou para ser essa potência que se mantém até os dias de hoje. Fez carreira até a aposentadoria. É também avô do músico gaúcho Luciano Albo, ex integrante da memorável banda Cascavelettes; além disso, junto com Frank Jorge, abriu o show de Paul McCartney em Porto Alegre no ano de 2017.

Naquela época (73), eu achava que ser torcedor fanático de futebol era coisa de adolescente apenas. Adulto era mais comedido, o meu pai, se era fanático, sabia disfarçar, não demonstrava euforia ou profunda depressão, conforme o resultado. Pois nessa visita de meus tios, esse conceito foi por água abaixo. Justamente, naquele final de semana, o Grêmio estava na terrinha para encarar o Inter SM na Baixada Melancólica, confronto programado para o Domingo, dia que se mostrou carrancudo, por ser frio e chuvoso, o que desencorajou o pessoal a assistir no estádio. Foi uma atitude sensata, porque, possivelmente já não haveria mais ingressos e o barro seria uma presença certeira nos arredores do estádio e no gramado com características de clube de interior, ralo e irregular, sem drenagem. Programa indigesto, com certeza.

Lembro que ficamos (eu e meu tio) na sala de entrada, que possuía uma mesinha de centro, onde jazia, geralmente sem função, um cinzeiro, ninguém fumava lá em casa; ele recebeu a companhia do rádio Philips de pilha e ali, eu vi um homem maduro fumar um cigarro atrás do outro; levantar, se movimentar nervoso em sua torcida que se mostrou infrutífera no final do prélio.

O Inter SM do técnico André Heinz atuou com: Nadir; Tadeu Menezes, Ademir, Donga e Humberto; Paulinho, Figueiró e Valdo (Maurinho); Edson, Sílvio (Nelsinho) e Marcos Cavaquinho.

Milton Kuelle escalou o Imortal com: Picasso; Cláudio Radar, Ancheta, Beto Bacamarte e Jorge Tabajara; Carlos Alberto Rodrigues e Humberto Ramos (Laírton); Carlinhos, Mazinho, Obertti e Loivo (Bolívar).

O campo enlameado foi muito mais adversário  da equipe da capital, ainda assim, ela teve as maiores chances e mais posse de bola, transformando o arqueiro Nadir na maior figura em campo. O Grêmio exerceu seu maior poderio, porém, no final da etapa inicial, Jorge Tabajara cometeu em Edson, falta  no lado direito de ataque. Tadeu Menezes, demoradamente, se ajeitou para cobrar, aguardando até que o zagueiro Donga com seu passo de Pantera Cor de Rosa, atravessasse o barro de área a área. Decorriam 37 minutos do primeiro tempo. Tadeu deu um efeito na batida da bola que primeiro passou por Beto, depois por Ancheta, mas não pelo beque colorado. Mesmo desequilibrado, Donga conseguiu dar um toque de perna direita na pelota que entrou mansamente no lado esquerdo da meta do goleiro Picasso. 1 a 0. Vibração da massa vermelha, que reverberou também nas arquibancadas do Beira-Rio, onde o Coirmão recebia o Aimoré.

No intervalo, meu tio mantinha as esperanças: - Vamos virar, sentenciava. Eu não tinha dúvidas: - Vamos virar, o Grêmio está muito melhor; concordava com muito entusiasmo.

Milton, o eterno Formiguinha, lendário ex meio-campista que no ano anterior deu uma pausa no seu consultório para assumir a batuta do vestiário gremista, mexeu no time, tirou Humberto Ramos, recuou Mazinho, trouxe Obertti para a ponta de lança e fez entrar, Laírton no comando do ataque. Renovaram-se as esperanças, o time ficou mais ofensivo. No lado dos locatários, o ex-zagueiro André Heinz, igualmente, mexeu nos seus onze, visando segurar o resultado.

A zaga colorada, "na dúvida, jogava para fora", conforme texto do jornal A Razão; resumindo, um segundo tempo de muita fumaceira, muita lance enrolado, onde a sorte e a grande atuação do arqueiro Nadir foram essenciais para a manutenção do placar de 1 a 0.

Final de jogo, o cinzeiro da sala lotado, meu tio se conformou com o insucesso sem mostrar grande decepção daquilo que considerei uma tragédia. O penta do Inter estava se consolidando.

Acompanhar aquela partida com o tio Adalberto me apresentou algo novo, isto é; que a agitação e envolvimento entusiasmado com um jogo de futebol, não era propriedade exclusiva dos jovens. No futuro, que à época julgava distante, na minha maturidade, eu poderia seguir torcendo fervorosamente, sem o constrangimento do passar dos anos. Era um sentimento natural, constatei naquela tarde.

O casal Ruth e Adalberto teve dois filhos, a Alba, mãe do Luciano e outro mais velho, que o destino antecipou a homenagem; chama-se Renato.

Fonte:   Arquivo Histórico de Santa Maria
              Arquivo Pessoal do amigo Alvirubro
              Jornal A Razão
              Jornal Correio do Povo  









 

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