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quarta-feira, 12 de março de 2014

Opinião



Ridícula e Inaceitável

Quase em sua totalidade, as minhas postagens são a impressão, o olhar que tenho sobre os acontecimentos que envolvem o Tricolor; uma ou outra vez, apresento a opinião de outros e quando isso acontece, geralmente é para ser o ponto de partida do que discorro em seguida.

Esta de hoje, mais do que nunca, é um sentimento, um texto personalíssimo sobre os recentes acontecimentos no mundo do futebol relativos ao racismo no futebol.

Esta onda de preconceito racial que emergiu nestes últimos meses é inaceitável e ridícula, porque somos iguais, seja perante credos, seja pela ciência. As características  físicas são adaptações que o ser humano sofreu para enfrentar diferenças climáticas ao longo de milhões de anos. Além disso, essas recentes, ocorreram em regiões onde a miscigenação está presente de forma mais evidente, há pelo menos 5 séculos. É engraçado Peru e Brasil quererem discriminar por etnia qualquer pessoa. Onde está o limite de ser branco, negro, índio nestes países? Aí, associada ao inaceitável, aparece a situação ridícula.

Tratando das punições. Elas devem ser pesadas e exemplares, porém o que se vê, tanto no caso do Peru, quanto de Bento Gonçalves, (pelo menos, é minha sensação), “vamos dar um tempo”, “vamos ver se a coisa esfria”. Pessoas empreendedoras, ativas  e de grande tirocínio para a tomada de decisões, se encolhem neste episódio. Lamentável. Deduzo que a conveniência se sobrepõe à consciência.

Outro fato que me deixa incomodado; o de ver dentro do meu clube, uma parcela (mínima, mas barulhenta) entoar hinos ou expressões preconceituosas. Associar a palavra macaco à adjetivos pejorativos, fica indefensável e para mim, constrangedor nesta grande e na maioria das vezes, saudável rivalidade que temos com o Coirmão. Um serve de estímulo, de desafiador para o outro.
Eu teria uma sugestão para a Direção gremista: Escolher o macaco como um dos símbolos do Grêmio. Imaginem um King Kong com a camiseta Tricolor empunhando uma bandeira no meio da massa. Juntamente com o Mosqueteiro, adotar um mascote Macaco. Faríamos uma reversão de expectativa, tal qual o Boca que foi chamado de “Bosteros”, pois a Bombonera, antes era um estábulo, Newell’s Old Boys que adotou “Los Leprosos” depois das ofensas dos torcedores do Rosário Central, o Palmeiras que trocou o Periquito pelo Porco, que teve origem nos cânticos corinthianos, o Coxa Branca para o Coritiba que abraçou e defendeu seu atleta que era discriminado. Seria um contra-veneno que atingiria os torcedores racistas.

No caso, Macaco usado para ofender os colorados, o Grêmio adotando o Macaco para si, estaria se antecipando e (abortando) uma situação que pode ter consequências pesadas para o clube, e mais; que não é compartilhada pela imensa Nação Tricolor. Também, de certa forma, uma solução inédita; transformar uma prática ofensiva, inaceitável e ridícula, numa novidade mercadológica que ao mesmo tempo, gerará dividendos econômicos e sociais. Teríamos um mascote animal, poderíamos ter uma coreografia bastante original nas arquibancadas e inibiríamos os torcedores racistas.

Eu sei que para a pessoa racista não vai resolver muito, ela achará um outro meio, mas pelo menos, desse xingamento, os torcedores do Inter e nós, a maioria Tricolor que desaprovamos, estaríamos livres.

Macacos poderia ser uma expressão ligada aos torcedores do Imortal; por que não? 

10 comentários:

  1. Paulo Juliano12/03/2014, 12:49

    Pois olha bruxo, em sua maioria a discriminação está implicita. Dificilmente se verá um torcedor afirmar de forma peremptoria que é racista, contra negros nos clubes, ainda mais no ambiente intermático. Desta forma você analisa as atitudes, é o torcedor que releva, que acha o tema de menor importancia, que tem um perseguição ímpar com jogadores "de cor", que utiliza de aspectos inatos ao fenótipo do negro como se fossem demonstração de incapacidade, arguindo, com menoscabo, sobre o cabelo, o jeito, a boca, o biotipo, enfim, sobre o que caracteriza a raça. Me é caro aceitar, mas a torcida tricolor tem sim - e, por vezes, mais do que outras - uma parcela racista e segregadora. Uma parcela que prefere ver desfilar em campo somente brancos ou negros "de alma branca". É uma parcela que achincalha o jogador não pelo que ele demonstra em campo, por sua dedicação ou seu caráter, mas sim pela sua origem étnica, por ser de outros pagos, por não ter a "gana gremista" (conceito fluído e extremamente subjetivo). Enfim, antes de rebatermos a todo custo as acusações, por vezes infundadas, é necessário uma reflexão profunda, é necessário expurgar o mal que nos acomete internamente. Que existem falácias, não há dúvida, mas negar e rejeitar - a toda evidencia - a existencia do racismo nas hostes tricolores é descabido. Uma mudança de postura passa, necessariamente, pela revisão de nossos próprios conceitos e poderia ter como marco, por que não? A adoção do Rei dos Macacos como mascote, um gesto simbólico e cheio de significado.

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    1. PJ!
      Utilizar usualmente adjetivos pejorativos é "a ponta do iceberg" para se identificar um racista/preconceituoso.
      Eventualmente, nós, como seres humanos, falíveis portanto, erramos em "qualificar" alguém; agora como prática frequente, bom aí, é convicção e modo de encarar com segregação tudo que lhes parecem diferentes.

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  2. Paulo Juliano12/03/2014, 12:54

    E outra coisa que esqueci de pontuar, o recrusdecimento das reprimendas é imperioso. Por muito tempo eu defendi que aplicar penas aos clubes por atos racistas de sua torcida é desmensurado, posto que estes não teriam culpa na conduta destes marginais. Todavia, passa o tempo e vejo clubes financiando torcedores que entoam canticos segregacionais, vejo uma completa inatividade, não há um cadastro dos criminosos, não há proibição de ingresso nas dependencias do clube, não há identificação por imagem, não há colaboração com a polícia. Os clubes precisam ir muito além, não basta apresentar um bode expiatório é preciso travar uma guerra contra o racismo com ações concretas contra aqueles que perpetuam o preconceito e não só através de campanhas que, quando confrontamos com as benesses ofertadas aos marginais, soam demagógicas. Enquanto os clubes não lutarem contra essa realidade com afinco mudo meu posicionamento e sou a favor de severidade contra aqueles que abrigam marginais no seio de sua torcida.

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  3. Eu discordo. Acredito que o termo macaco, nos moldes como é usado atualmente pela torcida tricolor, em nada tem relação com racismo, preconceito racial ou coisa do gênero. Além disso o termo foi incorporado pelo Inter, que tem um de seus mascotes um macaco. Isto justifica as coisas? Apenas isto não, mas há outros fatores. É preciso diferenciar as coisas.

    Sou da opinião que racismo, seja ele de onde vier, deve ser punido, assim como qualquer tipo de preconceito (não só racial). Mas, neste caso específico, vejo que é mais por folclore do futebol, tanto que a torcida do Grêmio é composta por todas as raças e etnias, ao menos das com grande presença no Brasil e negros, pardos e brancos convivem normalmente lá. Será que se a torcida fosse racista (como algumas facções de times europeus) veríamos esta 'paz'?

    Se chamar colorado de macaco é racismo, colorado chamar gremista de gazela é homofobia. E teremos tantos outros exemplos.

    Talvez a origem do termo, por meados do século, tenha conotação racial (não tenho convicção disso, pois há fontes diversar que retratam diferentes formas), mas seu uso atual não é racismo. Vejo uma onda do "politicamente correto" no foco errado; racismo, preconceito é crime sim, mas vamos combater onde isto é implícito (exemplos não faltam). Porque daqui a pouco estaremos achando errado chamar juiz de qualquer adjetivo pejorativo e por aí vai...

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    1. Grande Guilherme!

      Vou discordar veementemente de você. Mas na paz, sempre.

      Primeiro, o termo "macaco" é racista e não interessa a conotação que você dê ao cantar "macaco imundo". Vou usar um exemplo. Digamos que para mim, ou para minha filosofia de vida, religião, família, sei lá, a suástica seja um símbolo de paz e fraternidade, ou de força ou qualquer coisa parecida. Isso me daria o direito de levar uma bandeira enorme com uma suástica para uma partida de futebol e depois reclamar se me chamarem de nazista? Claro que não! Porque a suástica, na nossa sociedade, é um símbolo do nazismo, mesmo que em outras culturas e tempos tenha tido outro significado. Da mesma forma, "macaco" representa um xingamento, uma alcunha racista. Além disso, posso te afirmar que, se não foi criada realmente com a intenção racista (o que eu duvido), ela foi e ainda é usada contra os colorados com essa conotação. Era comum nos anos 80 e até 90, os mesmos torcedores que usavam "macaco", "macacada", chamarem o Beira Rio de "Navio Negreiro". As duas expressões têm a mesma origem.
      Além disso, mesmo que você não tenha a intenção de ser racista (o que não vem ao caso, como disse acima), ao cantar essas músicas você dá guarida aos racistas que estão no meio da torcida. E tem pra caramba, como observei em duas situações recentes:
      1- No jogo Grêmio x Botafogo, ano passado, minha única visita à Arena, tinha um cara algumas cadeiras atrás de mim que ficava gritando para o Seedorf "macaco", "gorila". O Seedorf não é colorado, que eu saiba;
      2- Naquele incidente que os PMs bateram no gaúcho da geral, no vídeo que mostra eles no meio da torcida "recolhendo" o cara, tinha um PM grandão, negro. A torcida começou a gritra "uh-uh-uh", imitando macacos. É aceitável essa atitude.

      Enfim, o termo "macaco" é despresível. Não deixe cauterizar sua mente com racionalizações. Eu, que sou "branco", me sinto sujo e desconfortável quando a torcida usa esse termo. Não desperta nenhum sentimento bom.

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    2. Marcos!
      Isso que (no teu exemplo) tu poderias argumentar que a suástica ao longo da Humanidade,não era apenas símbolo do Nazismo, mas quem iria acreditar em ti?

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    3. Marcos,
      Concordo em parte com o que tu falou. No entanto acho que é preciso diferenciar as situações. A número 1, citado por ti, por exemplo, é crime e deve ser combatida. Mas considero ela diferente da que ocorre na relação (sadia) de rivalidade. Sobre o ponto 2, não me lembro deste detalhe do video, terei que revê-lo.

      Podemos até discutir se o termo macaco é desprezível (e acho que é, em determinadas situações, como a numero 1), só acho que é preciso diferenciar certas coisas. O que é crime deve ser combatido e punido, isto é inegável. No entanto algumas situações, ao menos no meu entender, não tem o objetivo que todos acusam.

      Pra mim que se foque no verdadeiro problema e não em coisas paralelas. Aliás, tenho convicção que se por algum motivo a Geral deixar de usar o termo macaco nas músicas, isso vai alimentar ainda mais os verdadeiros racistas, que usarão isto como "argumento" para algo. Defendo que se dê educação, se ataque a causa do problema, e não a consequência (que talvez nem tenha relação com o que estamos discutindo, neste caso). E quem fizer algo de errado, que seja punido. Não adianta proibir, criar novas regras se as velhas, as que deveriam valer, são ignoradas.

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  4. Guilherme!
    Sempre respeitando o debate, mas veja o que tem de comum ao uso de "macaco" ou o som emitido pelo pessoal de Mogi Mirim para o Arouca, os peruanos para Tinga ou as ofensas de "volta para a selva" de alguns torcedores do Pelotas para o goleiro reserva do São Paulo de Rio Grande? O fato dos ofendidos serem negros. Ninguém chama o D!Alessandro ou Rafael Moura de Macaco; chamar os torcedores do Inter de macacos, invariavelmente a expressão vem acompanhada de um adjetivo pejorativo.
    Há (sempre na minha opinião) uma diferença muito grande entre os adversários chamarem de macacos e a torcida da Ponte Preta "se auto-denominar" de Macaca.

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    1. Não sei, Bruxo. É um assunto complexo e, às vezes, vejo que o verdadeiro foco acaba se perdendo.

      Falando por mim, eu costumo chamas amigos colorados, independente da cor da pele, de macacos. Da mesma forma que me chamam, eventualmente, de gazela.

      Eu acho que banir o termo macaco na nossa torcida não acabaria com o preconceito, tão pouco tornaria quem é racista menos racista.

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  5. Guilherme!
    Amigos, você disse bem. Os amigos da gente mexem com a sexualidade, idoneidade, fidelidade conjugal, etc... alguns são mais do que irmão para nós.
    Agora! um coro chamando de macaco acompanhado de outros termos pejorativos é bem diferente. Assim como existem pessoas que assimilam (e não tem o preconceito) como nós, há muita gente que do discurso para prática, cavam um abismo entre eles.
    Também acho que só banir não resolveria, por isso, a ideia de os Tricolores abraçarem o termo.

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