Pequenas Histórias (252) - Ano - 1972
Jornada Sentimental
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Fonte: do Autor |
Já escrevi sobre os meus times de botão, os comprados com a fotinho dos jogadores e os puxadores, aqueles que geralmente eram feitos de duas camadas de cores diferentes. Os primeiros, os da minha infância, os outros, do início da minha adolescência.
O combinado na turma era não ter Grêmio ou Inter, então, havia Flamengo (João Henrique), Botafogo (Marcelo), Ponte Preta (Kydo), Coritiba/Peñarol (Marcos Rolim) e eu, América RJ/Ceará. O América, opção por haver muitos gaúchos nele, mas principalmente, pela minha admiração por Tadeu, que depois veio comandar dentro do campo, o título de 77 do Grêmio de Telê Santana (virou Tadeu Ricci) e o Ceará, que após muito tempo, eu esqueci o porquê da escolha.
Há alguns anos, revirando guardados, encontrei um caderno fininho com a capa amarela (sua cor original, nada a ver com a ação do tempo) contendo dados dos meus times e na parte interna da própria capa, duas datas: América - 28/08/72; Ceará - 23/09/72. Era a chave do mistério de minha escolha pelo "Vozão" como é carinhosamente chamado o clube cearense.
Explico: Talvez influenciado pela Mini Copa do Mundo realizada no Brasil para festejar os 150 anos da Independência, a nossa turma dos jogos de botão (e de tudo mais) conseguiu permissão do Colégio para fazer um campeonato Sábado à tarde, naquele 23 de Setembro numa das salas de aula.
Foram 4 "sedes" com 4 participantes em cada uma, os estádios eram de madeira (compensado), bem acabados, bonitos, também um de fábrica industrial (o Estrelão), o que resultava em certas características como: a definição da bola, chata ou redonda (de feltro), campo com dimensões diferentes, encerado ou "natural", outro, o da Estrela, que era pintado, isso, na imaginação da gente, implicava dúvidas nas escolhas de escalação dos atletas, na variação dos esquemas e até, na troca dos goleiros, se a partida se encaminhasse para a decisão por penalidades, sem falar na eleição da Bola de Prata no final do torneio, posição por posição.
Pois, eu tive a sorte de conquistar o primeiro lugar e o prêmio maior, logicamente. Foram 10 botões puxadores grandes.
Muitos anos passados, pesquisando, descobri (o que esquecera), que naquele mesmo final de semana (Domingo) do nosso torneio, o Grêmio foi ao Nordeste, enfrentar o Ceará e ficou no 0 a 0.
Olhando a escalação que o técnico Ivonísio Mosca mandou a campo: Hélio; Arthur, Mauro Calixto, Nagel e Paulo Tavares; Joãozinho e Edmar; Jorge Costa, Erandir, Samuel e Da Costa; vi que ela batia com a nominata dos botões do meu time. Apenas não havia Hélcio e Belo, os reservas que entraram durante a partida.
O Grêmio de Daltro Menezes utilizou: Jair; Espinosa, Ancheta, Beto Bacamarte e Everaldo; Jadir e Negreiros; Carlinhos, Oberti (Mazinho), Lairton (Paulo Sérgio) e Loivo.
Mesmo com o placar fechado, os jornais falaram em grande espetáculo, que foi acompanhado por quase 20 mil pessoas no acanhado estádio Presidente Vargas.
Desse jeito, o Ceará pela coincidência de eventos daquele final de semana, entrou na minha rotina dos jogos de botão, lá atrás, há quase meio século (o que assusta!!!).
Quero dedicar esta postagem ao amigo João Henrique, que além de fazer aniversário neste Domingo (30 de Maio), naquele distante Sábado, 23 de Setembro de 1972, com o seu pai ao volante, me deu carona para levar um dos "estádios" do torneio até o Colégio. Levou e trouxe de volta. Feliz Aniversário.
Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
* Título do post foi inspirado no primeiro álbum solo de Ringo Starr, Sentimental Journey