Pequenas Histórias (244) - Ano - 1970
Flecha, um nome inesquecível
Quando eu tinha 8 para 9 anos, à família, foi acrescida um filhote da raça pequinês; meu pai fez uma placa de cimento, embaixo da parreira com a data de sua chegada. Cresceu, jogando bola conosco, era "goleiro". Voava e pegava a bola com a boca, amadureceu sem nunca ter superado o trauma de foguetório.
Dizem que os animais ficam parecidos com os humanos e ele teve um ataque cardíaco fatal no dia 03 de Maio de 1981, no momento em que o Imortal comemorava o primeiro título brasileiro no Morumbi, três** meses antes do meu pai ter o seu, igualmente fatal em Agosto. Eu tinha 22 anos, portanto, o pequinês me acompanhou no final da infância, toda a minha adolescência e início da fase adulta. Chamava-se Flecha, o mesmo de um ponta direita notável do Grêmio. Nunca soube se o nosso cachorrinho recebeu o nome influenciado pelo rápido, agudo e mortal ponteiro direito gremista; nem nunca saberei. Foram 14 anos de intensa parceria.
De qualquer maneira, restou uma certeza: ficamos todos fãs de Gilberto Alves de Souza, o Flecha. O fato é que ele era bom, chegou à Seleção com Zico, Rivellino, Roberto Dinamite e Leão, entre outras feras. Era um dos fortes candidatos à Copa da Argentina, mas ficou no meio do caminho pelo que fazia fora das quatro linhas. Uma pena.
Parece mentira que já se passou meio século que Flecha zunia pelo ataque gremista.
Uma tarde dessas foi contra o Vasco da Gama, mais exatamente no dia 29 de Novembro de 1970 no estádio Olímpico pelo Brasileiro daquele ano, o último a ser chamado de Robertão (Roberto Gomes Pedrosa).
Carlos Froner, o técnico azul mandou a campo os onze da foto acima; pela ordem: Arlindo, Espinosa, Di, Jadir, Beto Bacamarte e Jamir, agachados: Flecha, Caio Cabeça, Volmir, Gaspar e Loivo ao lado do saudoso massagista Banha (Alvaci Almeida). Ainda entraram Joãozinho (João Severiano) e Paíca.
Elba de Pádua Lima, o Tim, notável craque da Copa do Mundo de 1938 escalou o Vasco assim: Élcio, Fidélis, Altivo, Renê e Eberval; Alcir e Buglê; Jaílson, Silva, Dé e Gilson Nunes. Também participaram os atacantes Kosilek e Zé Dias.
O Tricolor entrou avassalador, aproveitando o cansaço do time carioca que fizera dois amistosos caça-niqueis durante a semana, no entanto, o gol teimava em não sair. A velocidade de Flecha, Volmir e Loivo botava em polvorosa a lenta defesa carioca, mas o 0 a 0 resistia.
Aos poucos, o Vasco foi equilibrando as ações e o Grêmio foi perdendo terreno. Ironicamente, nesse período saiu o gol único da partida. Aos 32 minutos, Flecha foi derrubado pelo lateral Eberval. Espinosa executou a cobrança fechada demais, Élcio deu um tapa na bola que caiu no lado oposto, onde Loivo aproveitou e como era característico, deu um "balaço" que encontrou a trave direita, a bola voltou para o centro da área; Flecha chegou rapidamente e bateu para o fundo das redes.
Na segunda etapa, Froner recuou o seu time, após a vantagem no placar. Esperava pelos contra ataques; resultado: o Tricolor passou a tomar um sufoco e Arlindo saiu como um dos destaques do confronto, garantindo a vitória de seu time. 1 a 0.
Mantinha assim, as esperanças para alcançar o líder do grupo A, o Palmeiras.
O árbitro foi Oscar Scolfaro que deixou de marcar uma penalidade máxima em Flecha aos 18 minutos da primeira etapa.
Flecha saiu do Imortal em 1972 com uma trajetória marcante, vide Álbum Tricolor.
Para mim, além da idolatria natural de gremista, o nome de Flecha deixou uma marca familiar inesquecível.
Fontes: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro, inclusive a foto
Revista Placar
**: corrigido