Pequenas Histórias (85) - Ano 1973
Rasgando a Touca Verde
Fonte: www.torcedor.gremista.nom.br
Na crônica que escrevi
sobre o enfrentamento de Sábado, Grêmio versus Palmeiras, afirmei que ele
lembrou o velho Tricolor de Froner ou de Sérgio Moacir, lá de 73 e 74, pois com
esses no comando, 1 x 0 era goleada. Seus times eram construídos sempre da
defesa para o ataque.
Após a vitória, já sem
o friozinho na barriga, que o clube paulistano sempre me provocou, avancei
neste texto, que estava esboçado durante a semana toda, mas que só iria adiante
com uma vitória azul. Era a condição que estipulei.
O Palmeiras há muito
tempo, leva uma grande vantagem nos confrontos contra o Imortal e na minha
cabeça de adolescente nos “Seventies”, ele era imbatível, a tradicional touca,
no caso, uma touca verde e branca muito resistente. Algo que começou nos meus
dez anos e já durava quatro, uma seca interminável numa fase da vida em que o
mundo parece andar a passos de tartaruga (bem diferente de hoje). Que saudade
de curtir cada momento em sua plenitude!
Pois bem, corria o ano
de 73, ano mágico para quem gostava de música; era o meu caso, porque vivíamos a expectativa de, pela
primeira vez, depois de separados, os
ex-Beatles, John, Paul, George e Ringo, lançarem álbuns simultaneamente, algo
que, de fato, ocorreu. Foram 4 obras-primas.
Além disso, aquela temporada nos
deu Dark Side of The Moon do Pink Floyd, Houses of The Holy do Led Zeppelin,
Goodbye Yellow Brick Road de Elton John e no Brasil, o primeiro dos Secos &
Molhados, entre outros lançamentos inesquecíveis como os do Genesis, AC/DC,
Black Sabath e Queen.
No campeonato
brasileiro, o Tricolor fez excelente campanha, mas, pelo formulismo, acabou
alijado da fase final. Perdeu na hora errada. O título ficou com o Palmeiras,
seu bicampeonato. Era um cano de time, 10 de seus 11 titulares já tinham
vestido ou vestiriam a amarelinha da Seleção naquela década.
Quase no final do ano,
mais exatamente em 02 de Dezembro, 30.000 torcedores estiveram no Olímpico e
foram testemunhas oculares da improvável vitória gremista sobre o melhor time
do início dos anos 70. 1 a 0, gol de Yúra, aos 8 minutos da etapa final. Bem ao
estilo de Carlos Froner.
Ao contrário do time
paulista do mestre Osvaldo Brandão, que vinha completíssimo, o Imortal teve que
superar cinco desfalques importantes, meio time: Beto Bacamarte, Everaldo mais
os atacantes Carlinhos, Mazinho e Tarciso. Na frente, apenas Loivo era titular,
isso tornou o Grêmio muito frágil ofensivamente.
Já o Palmeiras tinha
Leivinha e César; quem os viu, sabem o que isso significava para as defesas.
Porém, no arco do Grêmio havia Picasso, e ele brilhou intensamente, em especial, na
primeira fase da partida. Em apenas 10 minutos fez três defesas espetaculares
em arremates de César, o Maluco, como era chamado.
Com dois volantes,
Carlos Alberto e Paulo Sérgio, o Tricolor só se defendeu na primeira etapa.
No entanto, ele voltou
mais decidido do vestiário. Já que os laterais gremistas controlavam bem os
ágeis ponteiros palmeirenses e o meio estava bloqueado, o time resolveu sair
mais para o jogo.
Logo aos 8 minutos,
Loivo avançou pela esquerda e cruzou na cabeça do jovem Yúra; resultado,
Émerson Leão vencido. 1 a 0.
Com estupenda partida
de Ancheta, considerado o melhor do confronto e Picasso em tarde iluminada, o
Grêmio se segurou e quase aumentou o placar com Yúra, novamente, que acertou a
trave dos visitantes.
Se alguém quiser saber
como era o Grêmio de Froner, esta partida é um belo exemplar. Poucos riscos com
raras e mortais estocadas.
O Grêmio foi a campo
com Picasso; Cláudio Radar, Ancheta, Renato Cogo e Jorge Tabajara; Carlos
Alberto, Paulo Sérgio e Humberto Ramos (Orcina); Yúra, Obberti (Lairton) e
Loivo. Sete estão na foto acima.
O Palmeiras de Leão;
Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu (Edson Cegonha) e Ademir da Ghia;
Ronaldo (Fedato), Leivinha, César e Nei.
O juiz foi o carioca
Valquir Pimental.
Naquela tarde, minha
crença de que milagres existem foi reforçada.
Um abraço e
agradecimento ao Alvirubro que me municiou com seus dados sempre confiáveis.