Este final de semana aponta para o início de mais um Gauchão. Sinceramente, alguém lembra de alguma estreia do Imortal? Difícil, não é? Salvo um fato peculiar, uma experiência pessoal ligada ao primeiro jogo, de resto, ninguém recorda. Eu mesmo, nem daquele inesquecível campeonato de 1977, não lembro contra quem começou a epopeia que culminou com o título em 25 de Setembro daquele ano. Viram? Sei até a data daquela cambalhota de André Catimba, após balançar as redes de Benitez; já da primeira rodada...
Pois, por incrível que possa parecer, eu lembro de uma estreia; foi na edição de 1974, mais exatamente, Agosto, primeira semana; aliás, período em que o mundo inteiro tinha os olhos voltados para Washington DC, pois Richard Nixon já admitia renunciar diante do escândalo Watergate, fato que se concretizou no dia 9.
No 4, o Regional marcava na primeira rodada, uma aparente barbada para o Tricolor; pegar o estreante em primeira divisão, E. C. Encantado da cidade de mesmo nome, pequeno município que hoje, passado quase meio século, está com pouco mais de 22 mil habitantes. Aliás, esta foi a sua única participação na série principal do futebol gaúcho.
O Grêmio vinha de um excelente Brasileirão, onde perdera apenas 4 partidas em 24 disputas, infelizmente, a fórmula do certame o derrubou: Perdeu uma que não poderia, a partida em casa contra o Santos no mesmo final de semana em que se decidiu a Copa do Mundo lá na Alemanha.
O Brasileirão se encerrou num jogo extra, polêmico, três dias antes de Grêmio versus Encantado, o Vasco derrubou o favorito Cruzeiro no Maracanã, apesar da melhor campanha do clube mineiro.
Para a estreia, o treinador Sérgio Moacir viu seu setor defensivo desfalcado de dois craques: Ancheta e Everaldo, o que, à princípio não era problema, afinal, todos estavam preocupados com a melhor forma de "furar a retranca" do pequeno time do interior do Vale do Taquari.
Naquela tarde, o Grêmio entrou em campo com: Picasso; Cláudio Radar, Beto Bacamarte, Beto Fuscão e Jorge Tabajara; Carlos Alberto, Yúra e Torino; Carlinhos, Tarciso e Loivo. Entrariam ainda, o ponta de lança Luiz Freire no lugar do lateral Cláudio e Humberto Ramos, um armador no lugar do volante Carlos Alberto Rodrigues, deixando o time muito ofensivo.
O Encantado do técnico Marcos Garcia mandou a campo: Franck; Coti, Valdir, Ronaldo e Betinho; Rui Bandeira, Nana e Clóvis; Malomar, Ênio Fontana e Soares. Celso entrou no lugar de Nana e João Ferri no de Malomar., substituições notadamente para reforçar a defesa.
Este time era recheado de juvenis do Inter (Nana, Clóvis, irmão de Cláudio Duarte, Soares), também por Rui Bandeira, ex-Esportivo, Celso que jogaria depois no Caxias com Luiz Felipe, repetindo o meio de campo, Clóvis, Celso e Nana.
José Luiz Barreto, juiz com histórico infeliz em jogos do Grêmio, no início da partida deixou de marcar penalidade máxima sobre Loivo. Na segunda etapa acabou expulsando dois atletas dos visitantes mais Humberto Ramos. Gerou reclamações de ambos os lados.
O Encantado surpreendeu o Tricolor fazendo 3 a 0, gol de Nana aos 31 minutos, Soares cobrando falta numa falha do arqueiro Picasso, ampliou para 2 a 0 e o placar da primeira etapa foi fechado aos 47, quando o ponta Malomar entrou pelo meio, batendo os Betos (Bacamarte e Fuscão) e colocando tranquilamente para as redes gremistas, definindo a goleada. 3 a 0.
Sérgio Moacir que em toda a sua longa carreira pelo Grêmio tomara três ou mais gols em apenas 8 vezes, ficou possesso e o vestiário azul foi sacudido.
Voltando, o Tricolor descontou com Tarciso aos 13 minutos, já com uma desorganização tática bem visível como na foto acima onde aparecem na área adversária, o zagueiro Beto Bacamarte tentando o cabeceio e o volante Carlos Alberto observando; Tarciso está encoberto; o juiz aparece ao fundo.
Por volta dos 20 minutos ocorrem as expulsões. O Encantado se fechou por cansaço e inferioridade numérica.
A expressão "aluga-se meio campo" foi materializada no último quartel da partida. Só o Tricolor atacava.
Aos 37 minutos com muito desespero, Yúra num cabeceio, descontou. 3 a 2.
O vexame maior foi evitado nos minutos adicionais, mais exatamente, aos 46, quando Loivo acertou um petardo com seu poderoso pé esquerdo. 3 a 3 e uma comemoração semelhante a conquista de um título.
Esse confronto eletrizante é o único que tenho na memória, assim, de pronto, das muitas estreias do Imortal nos Gauchões da vida.
Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
Jornal Correio do Povo
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