Pequenas Histórias
(163) – Ano – 1969
Touro Indomável
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Fonte: Revista do Grêmio |
1968 levou a fama de ser o ano
que não terminou, pura verdade! Mas, 1969 igualmente foi repleto de acontecimentos
marcantes, diria, revolucionários. 69 não “passou batido”.
Tivemos o homem chegando à Lua, o Festival Woodstock em Bethel, o
lançamento do melhor disco dos Beatles, Abbey Road e no Brasil, o sequestro do
cônsul norte-americano, a troca de governo durante a ditadura que consagrou a
tortura e violações dos direitos humanos, além do milésimo gol de Pelé no
Maracanã diante do Vasco da Gama do arqueiro Andrada no campeonato nacional, o
Robertão.
Pois foi neste certame, em 05 de Outubro no Estádio Olímpico, que o
Tricolor recepcionou o último invicto da competição, o Corinthians Paulista do
técnico Dino Sani.
Armando Marques conduziu o espetáculo que teve 40 mil pagantes.
Sérgio Moacir mandou a campo: Arlindo; Espinosa, Ari Hercílio, Áureo e
Everaldo; Jadir e Júlio Amaral; Davi, João Severiano, o Joãozinho, Alcindo e
Wolmir.
Dino Sani utilizou: Lula; Mendes, Ditão, Luís Carlos e Miranda; Dirceu
Alves e Suingue; Paulo Borges; Ivair, Benê e Lima (Roberto Rivellino).
A contenda se desenvolveu de forma vibrante e bastante guerreada com
boas chances de gol.
Apesar dos nove escanteios nos primeiros trinta minutos para o lado gremista
e em função das grandes defesas do goleiro da Seleção, Lula, o primeiro tempo
terminou empatado em zero.
Pelo lado corintiano a esperança era Paulo Borges, a Gazela do Parque,
mas Everaldo estava em grande forma e controlou bem o ex-ponta do Bangu, agora
vestindo alvinegro.
Na etapa final, os treinadores usaram as suas armas do banco: o craque
Rivellino, que voltava de lesão e pelo lado Tricolor, Davi saiu cansado,
entrando Hélio Pires, o Touro.
O atacante vindo do Floriano (atual Novo Hamburgo) era um jogador
forte, voluntarioso, que nunca desistia do lance. Em sua biografia, em 50 jogos
pelo Imortal, meteu 19 gols; aqui, um dado interessante: Sempre que marcou, o
Grêmio não perdeu. Foram 16 partidas em que ele compareceu no placar. Fez dois numa partida e três noutra, nas demais, alguns tentos decisivos como
contra Benfica e Seleção da Hungria no
festival de inauguração do Beira-Rio.
Sobre sua atuação, extraímos texto do jornal Diário de Notícias que
informa as instruções do técnico gremista que o microfone da televisão Piratini
captou: “Jadir, pede para o Hélio Pires jogar entre os zagueiros, perto do
Miranda” ou ainda; “Alcindo, vamos explorar o Hélio Pires. É lá que está a
chance.” Esta última observação ocorrida aos 28 minutos.
Aos 33, Ivair, o Príncipe, atrasou mal uma bola para Dirceu Alves,
Hélio Pires se antecipou, tomou a pelota e partiu célere para a área
corintiana, driblou Luís Carlos , deu mais três passos e serviu Alcindo. O
Bugre dominou e ante a aproximação de Ditão, alçou a bola para a “fogueira” no
centro da grande área, onde o Touro, veloz, venceu o arqueiro Lula (foto acima)
com um “testaço”. 1 a 0. Caía o último invicto do campeonato. O Grêmio assim
como na semana anterior, quando bateu o Santos, passava por mais um dos
gigantes de São Paulo.
Naquele ano, o Corinthians chegaria ao quadrangular final, juntamente
com Botafogo, Palmeiras e Cruzeiro, ficando em terceiro.
O campeão foi o Palmeiras que terminou o campeonato empatado em pontos
e em número de vitórias com o Cruzeiro. Incrível! O título foi decidido no
saldo de gols. 2 contra 1.
O Grêmio não foi bem. Ficou em quinto na Chave B, onde passaram
Palmeiras e Botafogo.
Neste final de semana, passado quase meio século deste embate, Grêmio e Corinthians brigam pela
ponta da tabela. Não terão obviamente Hélio Pires e Rivellino, mas quem duvida
que algum avante atual incorpore o espírito guerreiro e letal do Touro ou um
meia paulista abusado, o talento do eterno camisa 10 do Parque São Jorge?
Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro