Ilusão
Há 40 anos perdi meu pai; ele segue sendo meu maior herói, o cara que entre outras coisas, me fez gremista. Ele tinha seus ídolos, nomes peso-pesados da história Tricolor; teve sorte; viu Lara, Luiz Carvalho, Foguinho e Telêmaco, entre tantos. A "Era dos Jogadores-Torcedores".
Pois em 1976, quando o Grêmio sofria anos a fio diante do principal rival, o presidente Hélio Dourado resgatou o mitológico Foguinho (Oswaldo Rolla), o inventor do "estilo gaúcho" baseado no futebol-força, na supremacia da preparação física, para ser o ruptor daquela triste sequência de "vices campeonatos", um treinador com biografia, sem dúvida. Para minha surpresa, meu pai vaticinou: - Não vai durar muito.
Ele tinha razão, Foguinho utilizou um discurso anacrônico, onde reza a lenda querer submeter antes de cada treino, o elenco a cantar uníssono, o hino do clube. Claro que não ia dar certo num grupo heterogêneo, formado por atletas vindos do interior paulista, da vizinha Argentina e até de Belém do Pará. Foguinho não durou 100 dias. O contexto era outro.
Quase meio século passado, li e ouvi que para tirar o Grêmio do Z-4, dirigentes lembraram no vestiário que o grupo deveria fazer nestes 6 últimos jogos, 6 "Batalhas dos Aflitos". Ora! mais da metade do elenco está "andando" para o que ocorreu há mais de uma década, possivelmente, desconhecido ou desinteressante episódio para a vida de cada um deles. Novamente, um discurso defasado, que se revelou ineficaz, indiferente aos ouvidos dos jogadores, ´principalmente, pelo que se observou no desempenho constrangedor na Bahia, ironicamente, dia do evento decantado em prosa e verso nos dias que antecederam o encontro na Fonte Nova.
Para reforçar meu sentimento, minha conclusão; eu vi o primeiro tempo de Juventude e Bragantino e, mesmo respeitando a história da instituição caxiense, não conheço algum fato semelhante às agruras vividas pelo Imortal naquele Novembro de 2005, mesmo assim, o time esmeraldino jogou como se quisesse salvar o clube do rebaixamento. Atuou com garra, gana e determinação, saindo do sufoco do Z-4.
Antes de exemplos épicos retirados das páginas da vida do Tricolor, o que funciona mesmo para superar adversidades é o caráter, personalidade, envolvimento e profissionalismo de cada atleta.
O resto é História.