Pequenas Histórias (219) - Ano - 1946
Gaúcho da Fronteira
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A rivalidade entre Argentina e Brasil mais a excelente performance de Éverton me levaram a esta crônica de hoje.
Comecemos pelo cearense Éverton que experimenta a melhor fase de sua carreira, pelo menos, em visibilidade; atualmente é alvo de olhares intercontinentais. Pois ele é o representante oriundo do Grêmio, assim como Arthur nesta edição.
Joga na posição do mineiro Éder, outro ponta esquerda convocado, quando jogava pelo Imortal, depois de ficar de fora da Copa da Argentina em 1978.
Mas o Grêmio revelara antes, anos 40, outro ponta esquerda, Chico, que acabou integrando o melhor Vasco da Gama de todos os tempos, o chamado Expresso da Vitória, onde atuavam Barbosa, Augusto, Eli do Amparo, Danilo Alvim, Tesourinha, entre outros; jogou a Copa de 1950, quando o Brasil foi vice no Maracanã.
Chico era de Uruguaiana, cidade que é separada da Argentina apenas pelo rio Uruguai. Começou no Ferro Carril, de lá, logo passou pelo Imortal em 1941/42, indo para a capital brasileira da época para integral o clube da Cruz de Malta.
Ele era um jogador temperamental, raçudo, valente, ofensivo, vivia expulso. Juntamente com Heleno de Freitas, compunha uma dupla explosiva no ataque da Seleção Brasileira.
Pois em Fevereiro de 1946, houve um campeonato sul americano e a decisão ficou entre brasileiros e argentinos no Monumental de Nuñez, que teve público acima de 80 mil torcedores.
Os ânimos estavam acirrados; o quadro de "revanche" formou-se a partir de Dezembro do ano anterior, quando Ademir Menezes numa dividida, fraturou a perna do zagueiro Batagliero na goleada brasileira de 6 a 2 no estádio São Januário.
Mesmo depois de Ademir (futuro artilheiro do Mundial de 50) ter visitado o defensor na chegada em Buenos Aires, o ambiente permaneceu hostil aos visitantes. Havia cheiro de vingança em cada hermano.
Chico (na foto com Fonda) recebera o aviso: - É melhor não jogar. Nós vamos te matar. O ponta respondeu, então: - Pois vão ter que me matar mesmo.
Para complicar, os locatários fizeram Batagliero desfilar em maca, numa espécie de volta olímpica provocativa.
Assim foram para a decisão do certame. O técnico Flávio Costa escalou: Luiz Borracha; Domingos da Guia e Norival; Zezé Procópio, Danilo Alvim e Jayme de Almeida; Tesourinha, Zizinho, Heleno de Freitas, Jair da Rosa Pinto e Chico. Ainda entraram Lima, Ruy e Ademir Menezes.
A Argentina do treinador Guillermo Stábile (lendário artilheiro da primeira Copa do Mundo, a de 30) foi de: Vacca; Salomon e Sobrero; Fonda, Strembel e Pescia; La Mata, Méndez, Pedernera, Labruna e Lostau. Também atuaram Marante e Ongaro.
As expectativas de confusão se confirmaram, quando Jair esperou de sola um carrinho dado por Salomon que quebrou os dois ossos (tíbia e perônio).
Estourou uma briga que atrasou o reinício da partida em mais de uma hora. Jair tentou escapar para o vestiário, protegido por Chico que foi perseguido por Fonda e Strembel.
Chico e Heleno, praticamente sozinhos, encararam os argentinos e especialmente a polícia e seus cavalos que batia de sabre nos brasileiros.
Mário Vianna, célebre juiz de futebol e mais tarde, comentarista de arbitragem, estava presente e retirou o uruguaianense de campo.
Os brasileiros não quiseram voltar, porém, alertados pelo chefe de polícia local, que se agissem desta forma, a integridade física deles não seria garantida, mudaram de ideia.
A partida recomeçou sem Chico e La Mata, expulsos. Aos 38 minutos, Méndez fez 1 a 0. Placar da primeira etapa.
Logo aos 10 do segundo tempo, Méndez marcou o seu segundo tento. Resultado final: 2 a 0. Argentina campeã.
A delegação brasileira retornou para a capital Rio de Janeiro, no entanto, sem Chico, que machucado, rumou para Uruguaiana, onde foi recebido como herói nacional.
Detalhe: Chico jogou 10 Brasil versus Argentina, foi expulso em 9.
Francisco Aramburu, o Chico, natural da fronteira, certamente é o maior nome desta rivalidade entre argentinos e brasileiros.
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