Pequenas Histórias (226) - Ano - 1959 - 2019
Ídolos
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Fonte: Arquivo Pessoal do Autor |
No início havia o trio: Alberto, Áureo e Alcindo. Naquele "mar de As" que era a escalação do Grêmio nos anos 60, Alberto, Altemir, Airton, Áureo ... esses três tiveram a minha idolatria na infância.
Alberto, o fantástico, mitológico goleiro que tinha a santa mania de pegar penalidades e de botar faixas. - Pai, será que Lara era melhor do que Alberto? Claro que sim, filho. - Capaz! Pai, ninguém é melhor do que Alberto.
Áureo, o capitão, o quarto zagueiro, o comandante. Eu ficava impressionado com a sua liderança calma, indicando com a mão o que cada um deveria fazer em campo. Como os craques do time, Alcindo, Joãozinho e Sérgio Lopes, o obedeciam sem contestação, como pode? - Mãe, a senhora pode bordar o número 6 na camiseta que ganhei. É a que Áureo usa. Pode? Puxa! Obrigado, a senhora é a melhor mãe do mundo.
Áureo era um "general" num período em que essa designação estava virando palavrão no Brasil.
Chegou a década seguinte, os 70, e a idolatria bateu em outro trio: Atílio Ancheta, Tadeu Ricci e Telê Santana.
O uruguaio atravessou toda a minha adolescência, isso mesmo, exatamente entre os 12 e 21 anos; de 71 a 80. Também era o capitão do time, um torcedor dentro de campo, chorava quando perdia Grenal, primeira Bola de Ouro da Placar em 73. Acima da minha cama, lá estava um poster dele. Coisa de guri.
Tadeu foi paixão antes de vir para o Imortal; era o meu craque no jogo de botão, América do Rio de Janeiro. Gênio, Mago, Maestro, Líder silencioso e técnico, condutor do antológico título de 77 que nos libertou da escravidão que sofríamos do eterno rival.
E Telê? Simplesmente sublime. Como era inteligente! Todo mundo jogava com ele, veteranos, guris, rebeldes, cordatos, bandidos e anjinhos. Telê era o cara.
E os 80? Bom, aí apareceram Paulo Isidoro, De León e um pouco mais tarde, Renato. Quem diria que aquele júnior que vi na Baixada Melancólica fazendo a preliminar, provocando os torcedores adversários, seria o maior de todos os tempos a vestir o manto sagrado de três cores?
As alegrias prosseguiram na década de 90 e ali, os ídolos não calçavam chuteiras, Fábio Koff e Luiz Felipe, o primeiro enfrentou o coro dos "entendidos" que queriam tirar o treinador: - Luiz Felipe só sai no último dia do meu mandato. - Esse é galo, eu pensava.
E assim, chegamos aos anos de escassez. Depois de 2001, a aridez de conquistas se somou a da carência de ídolos. - Deve ser porque estou mais velho, racionalizo.
Pois não é que a inauguração do novo estádio, nos deu um novo ídolo? isto numa época em os jogadores passam fugaz pelos clubes. Um menino que estreou em 2014, acabou sendo o craque que recolocou o clube nos trilhos das conquistas, resgatou o orgulho azul, permitiu a Nação Tricolor acreditar que gremismo combinava com levantamento de taças.
Luan, um moleque que tinha um jeito de Toninho Cerezzo, um parentesco com Ademir da Guia nas passadas, possuidor de faíscas da genialidade de Tadeu Ricci, que herdou a camisa 7 do maior ídolo gremista, reacendeu a chama do veterano torcedor e de seus filhos, mostrando que idolatria não tem idade.
- Pai, o Grêmio vendeu Luan? é a mensagem de minha filha no what's app. - Sim, é verdade. Veio a resposta da Clara, encerrando o papo:
Assim como Alberto, Alcindo, Renato, De Leon e Luiz Felipe, Luan não ficou eternamente no clube, mas escreveu uma página brilhante na história do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Obs: A carteira que ilustra a postagem é de 1976, quando elas (as carteiras) eram válidas por três anos.
PS: Tive que fazer um ajuste no emoji