Pequenas Histórias (57) - Ano 1953
Até a pé nós iremos (Felicidade)
"Esse garoto é bom. Esse garoto vai longe". Em 29 de Abril de 1932, numa sexta-feira, naturalmente à noite, num barzinho da Cidade Baixa, o poeta da Vila Isabel, Noel Rosa profetizou com esta frase o futuro daquele menino de 17 anos que se apresentava com o Grupo Catão. O compositor carioca, após se exibir no Cine e Teatro Imperial acompanhado pelos Ases do Samba, resolveu dar uma esticada na noite porto-alegrense e lá encontrou o menino Lupi.
Lupicínio nasceu em 16 de Setembro de 1914 na Ilhota, Cidade Baixa. Foi o primeiro filho homem de Francisco e Abigail. Passou por vários colégios, principalmente porque sua atenção estava voltada para a música e o futebol. Com 14 anos já vencia concursos com marchinhas para Carnaval.
Seu Francisco resolveu "dar um jeito" no filho e o alistou voluntariamente no Exército com 16 anos incompletos, tendo participado da frustrada Revolução Constitucionalista de 1932, situação que lhe permitiu "esparramar' seus sambas para o centro do país.
Em 1933 é transferido para Santa Maria. Aqui, frequentando o clube União Familiar na rua Barão do Triunfo, conhece Iná, sua grande e avassaladora musa que rendeu clássicos da música brasileira com Felicidade e Nervos de Aço. Seu lado boêmio bateu de frente com os familiares da moça; o retorno a capital foi inevitável. Em 1935 deixa a caserna.
Gremista dos quatro costados, frequentador da Baixada, em 1953, Lupicínio compõem a música que se tornaria o hino do clube de seu coração. Aproveitou a greve dos bondes em Porto Alegre para abrir os primeiros versos; aliás, li no blog Grêmio Copeiro, uma frase que achei sensacional: - o hino de Lupicínio é a Marselhesa para os gremistas. Feliz observação. Eu sinto isso. Lupi aproveitou e inseriu fatos e termos marcantes na história do Tricolor como Lara, o craque Imortal, 50 anos de glórias tens Imortal Tricolor e com o Grêmio, onde o Grêmio estiver.
É um dos mais belos hinos de clubes, especialmente porque foi escrito por um apaixonado torcedor, ilustre mestre das letras.
Lupicínio teve suas obras gravadas por Mário Reis, Ciro Monteiro, Jamelão, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Elis Regina, Baby Consuelo, Zizi Possi, Vitor Ramil, Bebeto Alves, Gal Costa e Arnaldo Antunes, entre outros.
Lupi faleceu em 27 de Agosto de 1974, mas sua obra ficou imortalizada. Noel tinha razão.
Seguem vídeos para ilustrar esta crônica e uma homenagem ao primeiro hino que é pouco conhecido: