Pequenas Histórias
(100) – Ano – 1977
A Última Vez
Fonte: impedimento.org |
Em 1974, dez anos passados do golpe civil-militar, a oposição e os cidadãos brasileiros deram uma
resposta arrasadora nas urnas; como não podiam eleger seus governadores, muito
menos o presidente, transformaram a eleição para o Senado numa vitória
estrondosa sobre a ditadura.
Em 22 estados, 16 senadores contrários ao regime
se elegeram, restando para a Arena, o partido situacionista, apenas 6. Além
disso, os centros onde ela ganhou, tinham menor densidade populacional e
importância econômica. Perdeu feio em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Rio Grande do Sul, Paraná e no extinto Guanabara (atual cidade do Rio de
Janeiro), por exemplo.
Isso não poderia “ficar assim”. Os usurpadores do poder deveriam se
preparar para o próximo pleito para o Senado, lá em 1978. O governo então, em
13 de Abril de 1977, fechou o Congresso Nacional, com base no AI-5, que fora engendrado
lá em 1968 e estabeleceu, que parte do Senado teria seus integrantes escolhidos
por via indireta, aí surgiram os
“senadores biônicos”, nome recebido em alusão à uma série de televisão, onde o
personagem principal estava enxertado de órgãos artificiais, que lhe faziam ver à grandes distâncias, entre outras
novidades da tecnologia. Valia 6 milhões de dólares e foi o inspirador do futuro Robocop.
Pois, naquele mesmo dia, 13 de Abril, o Tricolor de Telê Santana,
entrou em campo à noite nos Eucaliptos (foto acima), para encarar pelo Gauchão,
o Riograndense de Santa Maria. Era a rodada que antecedia o clássico Grenal do
primeiro turno.
O estádio dos Eucaliptos possuía duas entradas, pela Floriano, a das
arquibancadas, onde ficava a torcida dos visitantes e a da travessa Pedro Gauer, que levava ao pavilhão social
e demais arquibancadas.
Mesmo sendo sócio, meu pai, eu e meu colega de escola, Marcelo,
resolvemos ficar num barranco de grama, que ficava próximo do pavilhão, na
linha da grande área para quem atacava para à direita das sociais e cabines de rádio.
Meu pai se recuperava de um infarto ocorrido no final de 76 e sei que a
ida ao jogo era um grande esforço que fazia. Eu tinha noção disso.
O Grêmio de Telê ainda não estava pronto, faltavam alguns nomes que
fariam parte da história do Imortal (Walter Corbo e André). Em campo entraram:
Remi; Eurico, Ancheta, Oberdan e Ladinho; Vitor Hugo, Tadeu e Yúra, Tarciso,
Alcindo e Éder.
O clube da casa, treinado por Wily Brandão se fez representar por:
Ubirajara; Mauro, Bira, Adaílton e Dirceu; Neca, Da Silva e Tijuca; Danilo,
Guinga e Chicota. Usaria ainda, o meia Joacir.
Havia mais de 5 mil pessoas e o juiz foi o famoso Agomar Martins.
Lembro que a zaga gremista teve trabalho com o habilidoso trio ofensivo
verdoengo, mas, duas entradas fortes trouxeram a tranquilidade defensiva. A
primeira, Oberdan numa disputa aérea, cabeceou a bola com violência, mas, entre
a bola e o becão, havia a cabeça de Chicota.
Foi um lance de propósito e de
muito risco. A pelota impulsionada involuntariamente pelo atacante, mudou de
direção, retornando ao meio de campo, enquanto ele (Chicota) rolava pelo
chão, vendo estrelas, consequência do atropelamento. Sequer anotou a placa.
A segunda, uma disputa bem à nossa frente, Guinga deu uma esticada pela
direita; Ancheta pegou o camisa 9 com tanta energia, que ele voou, saindo de
campo, batendo no alambrado. Outro vítima de "acidente de trabalho".
Depois disso, o Verdão teve seus atacantes, praticamente, só armando
jogo na zona morta do gramado.
Aos 26 minutos da fase inicial, Alcindo abriu o placar; o 1 x 0 se manteve até quase o final da partida,
quando nos acréscimos, Éder deu números definitivos, fechando em 2 x 0.
No domingo, o time de Telê golearia o Coirmão, 3 a 0 no Olímpico com gols de Tadeu (2) e Alcindo.
Este 2 a 0 seria a última vez que fui aos estádios com o meu pai; (ele)
ainda viveu para ver o Grêmio campeão brasileiro no ano de sua morte, 1981.
Ironicamente, do trio que assistiu ao jogo, apenas eu estou vivo; meu grande
amigo e colega Marcelo, infelizmente, morreu em 2007, em Santos, SP, antes de
completar 48 anos.
Algumas referências nortearam esta crônica: a de levar o número 100;
também por ser publicada hoje, 03 de Outubro, aniversário do meu “velho” e,
especialmente, porque dois amigos daquela época (e de agora), Luizinho e João
Henrique, perderam recentemente seus pais e (eles) tinham a mesma relação
afetuosa que tive com o meu.
A eles, dedico esta Pequenas Histórias.
Fonte: Arquivo pessoal do Alvirubro
Que bela lembrança, Bruxo!
ResponderExcluirEssa foi a penúltima participação do Riograndense no Campeonato Gaúcha da 1ª Divisão. A última foi em 1979.
ResponderExcluirInfelizmente, nossa cidade ficou órfã de futebol de 1º nível.
E o que muitos não sabem é que em 1979, dois eram os rebaixados; os que desceram foram Cachoeira e Avenida. O Riograndense encerrou suas atividades mantido na Primeira Divisão.
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