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sábado, 3 de outubro de 2015

Pequenas Histórias

Pequenas Histórias (100) – Ano – 1977

A Última Vez

Fonte: impedimento.org

Em 1974, dez anos passados do golpe civil-militar,  a oposição e os cidadãos brasileiros deram uma resposta arrasadora nas urnas; como não podiam eleger seus governadores, muito menos o presidente, transformaram a eleição para o Senado numa vitória estrondosa sobre a ditadura. 

Em 22 estados, 16 senadores contrários ao regime se elegeram, restando para a Arena, o partido situacionista, apenas 6. Além disso, os centros onde ela ganhou, tinham menor densidade populacional e importância econômica. Perdeu feio em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e no extinto Guanabara (atual cidade do Rio de Janeiro), por exemplo.

Isso não poderia “ficar assim”. Os usurpadores do poder deveriam se preparar para o próximo pleito para o Senado, lá em 1978. O governo então, em 13 de Abril de 1977, fechou o Congresso Nacional, com base no AI-5, que fora engendrado lá em 1968 e estabeleceu, que parte do Senado teria seus integrantes escolhidos por  via indireta, aí surgiram os “senadores biônicos”, nome recebido em alusão à uma série de televisão, onde o personagem principal estava enxertado de órgãos artificiais, que lhe faziam  ver à grandes distâncias, entre outras novidades da tecnologia. Valia 6 milhões de dólares e  foi o inspirador do futuro Robocop.

Pois, naquele mesmo dia, 13 de Abril, o Tricolor de Telê Santana, entrou em campo à noite nos Eucaliptos (foto acima), para encarar pelo Gauchão, o Riograndense de Santa Maria. Era a rodada que antecedia o clássico Grenal do primeiro turno.

O estádio dos Eucaliptos possuía duas entradas, pela Floriano, a das arquibancadas, onde ficava a torcida dos visitantes e a da  travessa Pedro Gauer, que levava ao pavilhão social e demais arquibancadas.

Mesmo sendo sócio, meu pai, eu e meu colega de escola, Marcelo, resolvemos ficar num barranco de grama, que ficava próximo do pavilhão, na linha da grande área para quem atacava para à direita das sociais e cabines de rádio.

Meu pai se recuperava de um infarto ocorrido no final de 76 e sei que a ida ao jogo era um grande esforço que fazia. Eu tinha noção disso.

O Grêmio de Telê ainda não estava pronto, faltavam alguns nomes que fariam parte da história do Imortal (Walter Corbo e André). Em campo entraram: Remi; Eurico, Ancheta, Oberdan e Ladinho; Vitor Hugo, Tadeu e Yúra, Tarciso, Alcindo e Éder.

O clube da casa, treinado por Wily Brandão se fez representar por: Ubirajara; Mauro, Bira, Adaílton e Dirceu; Neca, Da Silva e Tijuca; Danilo, Guinga e Chicota. Usaria ainda, o meia Joacir.

Havia mais de 5 mil pessoas e o juiz foi o famoso Agomar Martins.

Lembro que a zaga gremista teve trabalho com o habilidoso trio ofensivo verdoengo, mas, duas entradas fortes trouxeram a tranquilidade defensiva. A primeira, Oberdan numa disputa aérea, cabeceou a bola com violência, mas, entre a bola e o becão, havia a cabeça de Chicota. 

Foi um lance de propósito e de muito risco. A pelota impulsionada involuntariamente pelo atacante, mudou de direção, retornando ao meio de campo, enquanto ele (Chicota) rolava pelo chão, vendo estrelas, consequência do atropelamento. Sequer anotou a placa.

A segunda, uma disputa bem à nossa frente, Guinga deu uma esticada pela direita; Ancheta pegou o camisa 9 com tanta energia, que ele voou, saindo de campo, batendo no alambrado. Outro vítima de "acidente de trabalho".

Depois disso, o Verdão teve seus atacantes, praticamente, só armando jogo na zona morta do gramado.

Aos 26 minutos da fase inicial, Alcindo abriu o placar; o 1  x 0 se manteve até quase o final da partida, quando nos acréscimos, Éder deu números definitivos, fechando em 2 x 0.

No domingo, o time de Telê golearia o Coirmão, 3 a 0 no Olímpico com gols de Tadeu (2) e Alcindo.

Este 2 a 0 seria a última vez que fui aos estádios com o meu pai; (ele) ainda viveu para ver o Grêmio campeão brasileiro no ano de sua morte, 1981.

Ironicamente, do trio que assistiu ao jogo, apenas eu estou vivo; meu grande amigo e colega Marcelo, infelizmente, morreu em 2007, em Santos, SP, antes de completar 48 anos.

Algumas referências nortearam esta crônica: a de levar o número 100; também por ser publicada hoje, 03 de Outubro, aniversário do meu “velho” e, especialmente, porque dois amigos daquela época (e de agora), Luizinho e João Henrique, perderam recentemente seus pais e (eles) tinham a mesma relação afetuosa que tive com o meu.

A eles, dedico esta Pequenas Histórias.


Fonte: Arquivo pessoal do Alvirubro

3 comentários:

  1. Essa foi a penúltima participação do Riograndense no Campeonato Gaúcha da 1ª Divisão. A última foi em 1979.
    Infelizmente, nossa cidade ficou órfã de futebol de 1º nível.

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  2. E o que muitos não sabem é que em 1979, dois eram os rebaixados; os que desceram foram Cachoeira e Avenida. O Riograndense encerrou suas atividades mantido na Primeira Divisão.

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