Pequenas Histórias
(117)
A Obra-Prima de Vicente
Fonte: Zero Hora |
Conheci Vicente numa
tarde na Baixada Melancólica, estádio do Inter-SM, mas quem enfrentava o Guarany
de Bagé, clube dele, era o meu Riograndense. Vicente servia ao Exército brasileiro, usava o tradicional corte de cabelo de quem era cadete.
A partida terminou 1 a
0, gol justamente de Vicente, cobrando penalidade máxima na goleira que fica
para o cemitério (daí, decorre o apelido do estádio Presidente Vargas), a mesma
que Chamaco Rodriguez fez o gol de calcanhar, uma bicicleta ao contrário. Agora
estão chamando de gol “Escorpião”. Sobre o gol de Chamaco, tratamos em nossa primeira Pequenas Histórias.
Era um quarto-zagueiro
técnico, mas muito raçudo, aliás, por ser irresignado, sua técnica parecia
ficar em segundo plano. Um erro de quem observava o atleta sem a devida atenção.
Jogando no time e
posição onde surgiu o lendário Calvet, ex-Grêmio e bicampeão mundial pelo
Santos, era natural que o velho mestre o indicasse para o Santos.
Assim, Vicente foi
atuar ao lado de Cejas, Oberdan, Carlos Alberto, Clodoaldo, Pelé e Edu, entre
outros.
No final de 77,
Oberdan, cuja passagem pelo Grêmio fora marcante, avisou a Telê Santana que
agora, realmente iria pendurar as chuteiras e indicou Vicente, cuja trajetória
era parecida com a dele, Santos e Coritiba em seus currículos, como seu
sucessor no Imortal. Sugestão aceita prontamente.
Vicente chegou no
início do ano seguinte, mas, Oberdan foi convencido a ficar mais um semestre pelo menos e assim o bageense "gramou" um banco em seu novo clube.
Aliás, em 1996 algo
parecido ocorreu, quando Adilson, o Capitão América foi vendido para o Benfica
e o negócio melou, antes disso, o Imortal já acertara a vinda de Mauro Galvão,
que também aguentou a reserva naquele ano.
Vicente botou faixa em
79 e 80 no Imortal. Um destaque na zaga tricolor.
Faleceu de câncer na véspera do Natal de 2011; tinha 62 anos.
A mais bonita lembrança
que tenho dele, decorre de um Grêmio 5 a 2 no Flamengo no ano de 1978, mais
exatamente em 09 de Julho, pelo campeonato Brasileiro, tendo como local o eterno
Olímpico Monumental.
O time de Telê Santana
não tomou conhecimento do “mais querido do Brasil” e o goleou espetacularmente.
O mestre mineiro
utilizou Corbo; Vilson Cereja, Ancheta, Vicente e Ladinho; Vitor Hugo, Tadeu
Ricci e Yúra (Valderez); Botelho (Éder), Tarciso e Renato Sá.
O Flamengo treinado por
Joubert lançou mão de: Cantarelli; Ramirez, Adriano, Nélson e Júnior; Merica,
Adílio e Paulo Cesar Carpegianni; Júnior Brasília (Evilásio), Cláudio Adão e
Valdo (Santos).
Aos 31 minutos da fase
inicial, Yúra abriu o placar, quando Botelho aproveitou vacilo da zaga
rubro-negra e serviu o camisa 10 gremista, que colocou o Tricolor em vantagem.
Nos acréscimos, 46
minutos, apareceu uma das maiores características do time de Telê, isto é,
defensores marcando gols. Numa cobrança de falta ensaiada, Tarciso acertou o
travessão e o lateral esquerdo Ladinho empurrou com o corpo, já em cima da
risca fatal. 2 a 0.
Éder que estava castigado por Telê, entrou mordido na segunda etapa e logo aos 4 minutos apanhou um
rebote, driblou para dentro, na altura da meia direita, chutou forte, rasteiro
e contou com a falha de Cantarelli.
O Flamengo que fizera
entrar o nordestino Santos, descontou através dele, tento resultante de ótima
jogada de Evilásio, que passou fácil por Vicente, cruzou, Cláudio Adão se
atrapalhou, mas, Santos não. 3 a 1.
Aos 20 minutos, o
grande lance da partida; o gol de Vicente; ele apanhou a bola na divisória da cancha, após
desarmar um avante carioca. Avançou solitário e foi desbravando a zaga
adversária. Foi passando por quem se apresentasse à sua frente, de repente,
estava diante de Cantarelli, com leve toque de pé direito deslocou o arqueiro
e fez um golaço. 4 a 1.
Na foto acima, Vicente
(des)aparece, abraçado por Yúra (de frente), Vilson (camisa 4) e Vitor Hugo
(meias arriadas) no momento da comemoração de seu gol.
Aos 38 minutos, Renato
Sá, eleito o melhor jogador da partida, ampliou para 5, batendo de pé esquerdo
e contando com o desvio da zaga rubro-negra. 5 a 1.
O placar definitivo
deste clássico nacional foi alcançado nos minutos derradeiros, quando Vilson
Cereja cometeu pênalti em Júnior.
O próprio cracaço bateu com
maestria, convertendo a penalidade. Resultado final, 5 a 2.
Esta é a maior e melhor
recordação que tenho daquele beque lutador, líder natural, leal, que nunca se
entregava em campo.
Fonte: Jornal Zero Hora
Abaixo, vídeo de lances do jogo:
VICENTE em campo (1978 a 1981), no Tricolor, teve:
ResponderExcluir146 jogos
91 VITÓRIAS
39 EMPATES
16 DERROTAS
Marcou 7 gols pelo Grêmio.
16 derrotas em 146 jogos, isto significa que em 89% das vezes, Vicente não perdeu.
ExcluirQuem substituiu o Vicente no Guarany de Bagé foi meu tio Cláudio em 1974, ele jogava no Riograndense de Santa Maria e formou com o Vicente a dupla de zaga da seleção do III Exército, bi campeã brasileira em Minas Gerais em 1971!
ExcluirAlexandre
ExcluirSe não me engano, o Cláudio formou zaga com o Bira no Riograndense.
Quando ele vai para o Guarany, o Riograndense trouxe o Neca, zagueiro do Sá Viana, de Uruguaiana para o lugar dele.
Alvirubro
ResponderExcluirEle estava na campanha do título do Brasileirão de 81?
Participou de 4 jogos, Bruxo:
Excluir18.01.1981 - Grêmio 0 x 0 Goiás EC
28.01.1981 - Grêmio 1 x 1 EC Pinheiros
21.02.1981 - Grêmio 1 x 2 Operário FC
08.03.1981 - Grêmio 0 x 3 São Paulo FC
Os quatro, jogos fora de Porto Alegre.
ExcluirEste último, que foi um divisor de águas. Ênio manteve apenas Leão e De Leon e rejuvenesceu a defesa; Paulo Roberto, Newmar e Casemiro; e pensar que hoje, o Raul "não está pronto ainda".
ResponderExcluirExato! E foi a última partida do Vicente no Grêmio.
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