Pequenas Histórias (145) - Ano - 1935
A Lenda de Arthur e
Eurico
Era uma vez no Brasil
Meridional, extremo Sul, uma rivalidade futebolística sem igual. Os oponentes
desde a primeira década do Século XX brigavam palmo a palmo pela hegemonia
deste esporte no seu rincão.
No ano do centenário da
data magna do estado, 1935, eles decidiram o torneio comemorativo. Vencê-lo era
ponto de honra.
Além dos clubes, também havia um choque
fraternal dentro de campo, Eurico, o Craque Imortal era o arqueiro do locatário,
Arthur, maior artilheiro do Brasil, mais de 1.200 gols na carreira, o
centroavante dos visitantes.
Na decisão, um pênalti
alterou as suas vidas; Arthur, que jamais errara um, avisou seu irmão e rival,
que não tentasse defender, pois corria risco de vida; Eurico disse que
morreria, mas pegaria a cobrança.
Arthur mandou a bomba, que
explodiu no peito de Eurico; caído e imóvel, este ainda mantinha o couro entre
os seus braços. Jazia sem vida. O gol, ele evitara.
Saíram ambos, um sem
vida, carregado pelos companheiros, o outro, transtornado, sem a camiseta, pois
a jogara ao solo. Ali, abandonou para sempre as quatro linhas.
Essa lenda ultrapassou
as fronteiras sulinas e ganhou versões pelo resto do território nacional. Numa
delas, Eurico virou goleiro do Fluminense, Arthur, o 9 do Flamengo.
Por que a Lenda? Os
sete fatores estão nas próximas linhas.
Realmente naquele ano,
houve um confronto entre Eurico Lara e Arthur Friedenreich na Baixada, mais
exatamente, no dia 19 de Maio. (I)
O Santos fez uma excursão ao Rio Grande, empatara em 1
a 1 com Internacional uma semana antes, apresentando um futebol
vistoso e empolgante; depois do Grêmio, encerraria o giro diante de um
combinado Grenal.
A principal atração era
o veterano atacante, Friedenreich, El Tigre, de quem se dizia ter marcado mais
de mil gols e raramente perdia penalidades máximas.
Naquele Domingo, depois
da preliminar, os esquadrões ingressaram em campo; o Tricolor com Lara; Dario e
Luiz Luz; Jorge, Mascarenhas e Sardinha II; Lacy, Russinho, Veronese, Foguinho e Castillo.
O Santos de Cyro; Neves
e Iracino; Marteletti, Ferreira e Jango; Sacy, Roran, Friedenreich, Mário
Seixas e Junqueira.
Entrariam Chico e Adão
(Grêmio), saindo Lara e o capitão da equipe, Sardinha II, mais Raul no lugar de
Friedenreich.
Ao contrário do que se
esperava, a partida se desenvolveu com muitos lances ríspidos de parte a parte,
especialmente dos setores defensivos com muitas reclamações do público e
atletas.
O juiz Carlos Ribeiro
da Silva começou a se complicar, quando não deu um toque de mão intencional de
Marteletti dentro da área, pênalti não assinalado para os Tricolores; aumentam
as reclamações e a deslealdade nas jogadas. Eram 10 minutos.
Aos 15 minutos e meio,
Veronese acerta um potente tiro de fora da área, Cyro defende, mas dá rebote,
Castillo empurra para a meta. 1 a 0.
Aos 33, Fogo faz
cruzamento, que não é interceptado pelo zagueiro Neves, Veronese aproveita e
marca o segundo. 2 a 0 para o Imortal.
Faltando 2 minutos para
o fim da etapa inicial, isto é, aos 38, Dario derruba Mário Seixas, o árbitro
marca penalidade máxima. Há muitas reclamações, o juiz “se auto expulsa” e é
substituído.
Arthur Friedenreich vai
para a cobrança.(II).
Neste momento, Eurico
Lara já estava fora da partida, lesionado num choque com Mário Seixas (vide
foto). Saiu carregado pelos companheiros. O estreante Chico o substituiu e
acabou sofrendo o gol santista. 2 a 1. (III)
Quase na metade da
etapa derradeira, Friedenreich sai, em seu lugar aparece Raul. (IV)
O segundo tempo teve o
placar movimentado quase ao final; falta de Dario, a bola é levantada na área,
Raul escora para Mário Seixas empatar. 2 a 2. Decorriam 28 minutos.
Com os refletores já
acesos, o Grêmio conquistou a vitória no último minuto num pênalti anotado pelo
beque Dario.
Imediatamente ao apito
final, os torcedores invadiram o campo saudando os “players” azuis, pois, após
23 anos de confrontos com os paulistas, esta era a primeira vitória dos gaúchos, além de
garantir o troféu entregue pelo governador Flores da Cunha.
Naquele ano, em Julho,
Arthur Friedenreich penduraria as chuteiras definitivamente. (V)
Em Setembro, o Grêmio
conquistou o campeonato Farroupilha, ganhando o Grenal por 2 a 0. Lara jogou
apenas o primeiro tempo, indo direto para o hospital. Chico, novamente, seria o
seu substituto. (VI)
Em Novembro, dia 6,
cedo da manhã, Eurico Lara faleceu vitimado pela tuberculose. (VII)
Fontes: Correio do Povo
A Federação
Revista do Grêmio (material cedido
pelo amigo Alvirubro)
Fotos: Correio do Povo
paixaocanarinha.com.br
alchetron.com
Grande história, Bruxo!
ResponderExcluirOutra lenda que atravessou o século passado é a dos mais de 1200 gols marcados por Arthur Friedenreich.
Pelo menos dois grandes jornalistas e pesquisadores encontraram números muito aquém dos lendários 1.200 gols.
E isso não diminui em nada as qualidades de Friedenreich.
Entre 1909 e 1935:
- 554 gols em 561 partidas, média de 0,99 gols por partida, de acordo com Alexandre da Costa, no livro "O Tigre do Futebol".
- 558 gols em 562 partidas - Orlando Duarte e Severino Filho, no livro "Fried versus Pelé".
Dois gênios da literatura esportiva brasileira, que dissecaram a história do "Tigre".
Outra história não confirmada é de jamais ter perdido pênaltis, um levantamento mostrou que, pelo menos, uns 10 não resultaram em gols.
ResponderExcluirNa internet dá para encontrar a foto de Fried, Leônidas e Pelé juntos. Três gênios da bola.
ResponderExcluirPara os mais curiosos, aqui uma lista de jogos e gols de Arthur Friedenreich
ResponderExcluirhttp://www.rsssfbrasil.com/miscellaneous/fried.htm
Uma curiosidade: Estava programado para Fried ser o juiz no jogo seguinte, Santos versus Combinado Grenal.
ExcluirPois é! Nessa época era comum os clubes indicarem jogadores árbitros, antes de começar os campeonatos ou torneios. No caso do Citadino de Porto Alegre, anualmente havia uma reunião para indicação dos jogadores que serviriam de árbitros futebolísticos. Eurico Lara apitou vários jogos.
ExcluirSobre o árbitro: Carlos Ribeiro da Silva foi um grande jogador do Internacional. Atuava na linha média, pelo lado direito. Foi titular entre 1920 e 1932 no Colorado e na Seleção Gaúcha. Era o cobrador oficial de pênaltis do time rubro.
ResponderExcluirNo jogo que citaste, o árbitro Carlos Ribeiro, devido a protestos dos jogadores gremistas pela marcação de uma penalidade máxima, abandonou o campo e foi substituído por Pery Azambuja, que apitou até o final do primeiro tempo. No segundo tempo, assumiu o apito o árbitro Pedro Notari.
Pery Azambuja, jornalista, apitou apenas os 2 minutos restantes, já que os tempos eram de 40.
ExcluirEurides Guasque de Mesquita (SARDINHA I) - Zagueiro
ResponderExcluirEunildes Guasque de Mesquita (SARDINHA II) - Lateral Esquerdo (na época, médio esquerdo)
O jornal A Federação chamou Sardinha II de Peixinho.
ResponderExcluirIsso mesmo! Era o outro apelido dele. Para não confundir com o irmão, Sardinha II era, também, conhecido por "Peixinho".
ExcluirNa escalação do Tricolor vejo o nome de Fabio Castillo, um uruguaio, que trocou o Grêmio pelo Inter, em 1936, e que jogou no Colorado até 1942. Um dos grandes artilheiros colorados da história.
ResponderExcluirCastillo, jogador famoso pelo Gol do Avião em um Grenal de 1935 e que sumiu do mapa na sequência. Teorias da conspiração diziam à época que fora raptado por colorados indignados pela falta de "fair play" do atleta ao chutar para o gol desguarnecido no momento em que as atenções estavam voltadas a acrobacias aéreas acima dos Eucaliptos, demonstração técnica rara naqueles idos na capital. Curiosamente apareceu vestindo a jaqueta do Inter meses depois.
ExcluirCaraca!
ExcluirOutra boa história que renderia essa do Gol do Avião.
Beleza, Rafael.
Seria esse "AVIÃOZINHO" o precursor do avião da faixa "ELES ESTÃO FORA"? Eheheheheheh...
ExcluirBrincadeiras à parte, o goleiro Penha e os dois zagueiros do Inter, Natal e Risada, ficaram olhando as acrobacias sobre o Eucaliptos, temerosos de que o piloto pudesse perder o controle do avião.
Faltando dois minutos para encerrar o clássico, o avião passa baixo demais sobre o campo de jogo, fazendo um barulho inesperado.
O jogo correu normalmente e Foguinho em passe longo achou Castillo, que não era bobo, deu alguns passos e chutou rasteiro rumo à rede colorada.
Sobre o "sumiço" de Castillo, logo após o GRENAL de 28 de Julho de 1935: jogou ainda no mês de Agosto de 1935, pelo Grêmio.
ExcluirEm Novembro de 1935, estreia pelo Internacional, em um amistoso frente ao Força e Luz.
A briga "GRENAL" não é atual. Já em 1935 havia "plantonistas", "palpiteiros" e "boateiros" na nossa capital Porto Alegre. Vários temas ligados a subornos e assinaturas de contratos surgiram, após o famoso GRENAL DO AVIÃO.
ExcluirAlguns exemplos:
1) Poroto, centromédio, que jogara no Grêmio, de 1929 até 1933, e em 1941, e que nos anos de 1934 e 1935 vestira a jaqueta vermelha, desgostoso com as alusões à sua atuação no GRENAL, abandonou o Inter. Fez o último jogo, exatamente em 28 de julho de 1935.
2) Tupan, atacante colorado, conseguiu provar que nada havia de suborno ou venda de resultado, da sua parte, e que naquela jornada do dia 28 de Julho apenas jogara mal.
3) O goleiro Moeller, que em 1927 e em 1929 atuara pelo Internacional, e que em 1928 jogara pelo Grêmio, devido à saída de Lara para o Porto Alegre, foi outro acusado de vender-se, no jogo Inter 8x0 Porto Alegre, realizado em Agosto de 1935.
4) Penha, goleiro colorado no GRENAL, teria assinado contrato com o Grêmio, e Castillo e Lací, já estariam acertados com o Internacional.
Esses boatos geraram uma nota do Clube Tricolor da Baixada, justamente para esclarecer e repudiar algumas declarações muito utilizadas nas rodas de cafezinho da capital gaúcha.
De todas as ilações, apenas uma acabou confirmada. Fabio Castillo assinou com o Inter em Novembro de 1935.
David Russowsky(RUSSINHO foi outro jogador Tricolor, que a partir de 1939 integrou o elenco Colorado. Ficou no Eucaliptos até 1942 e formou o ataque do Rolo Compressor, junto com Tesourinha, Castillo, Ruy Motorzinho e Carlitos.
ResponderExcluirO Rolo seria "cria" do Grêmio? (he,he)
ExcluirProvavelmente, eheheheh, porque houve um período que o Grêmio não perdia jogos. Inclusive a maior invencibilidade da história gremista é justamente a dos anos 30.
ExcluirEsse Russinho era irmão do Gildo Russowski, grande dirigente colorado. Imagino que eram adversários cordiais, também. Um jogou no Grêmio, outro no Coirmão.
ResponderExcluirBruxo, eram irmãos.
ExcluirO David Russowsky jogou nos dois clubes.
O Gildo, desconheço que tenha sido jogador.
O zagueiro Luís Luz jogou no Inter, em 1932. Seu filho, Luís Luz, foi zagueiro colorado em 1959, até início de 1960.
ResponderExcluirLaone era filho dele, também e jogou no Inter e Cruzeiro de Poa.
ExcluirIsso aí.
ExcluirQual o numeros de Luiz Luz, Moeller e Castillo no Grêmio e no Inter?
ExcluirNo tempo do Russinho, no Grêmio, havia outro jogador de apelido RUSSO (João Koswadowsky), que era lateral direito (ou médio direito, na época).
ResponderExcluirQuantos jogos e gols pelo Grêmio fizeram Russo e Russinho? E os irmãos Sardinha quantos jogos pelo Grêmio cada um fez?
ResponderExcluirDavid Russowsky
ExcluirRUSSINHO (DADOS NÃO OFICIAIS)
45 JOGOS PELO GRÊMIO
28 VITÓRIAS
8 EMPATES
9 DERROTAS
28 GOLS MARCADOS
Carreira: Grêmio (RS) (1933 a 1936), Americano (RS) (1937 a 1939), Internacional (RS) (1939 a 1942), Vasco da Gama (RJ) (1942).
João Koswadowsky
RUSSO (DADOS NÃO OFICIAIS)
116 JOGOS PELO GRÊMIO
82 VITÓRIAS
18 EMPATES
16 DERROTAS
3 GOLS MARCADOS
Carreira: Grêmio (RS) (1927 a 1938).
SARDINHA (DADOS NÃO OFICIAIS)
ExcluirEurides Guasque de Mesquita
Carreira: Grêmio (RS) (1922 a 1936).
195 JOGOS PELO GRÊMIO
148 VITÓRIAS
21 EMPATES
26 DERROTAS
2 GOLS MARCADOS
SARDINHA II (DADOS NÃO OFICIAIS)
Eunildes Guasque de Mesquita
Carreira: Grêmio (RS) (1928 a 1936), São José (RS) (1938 E 1939).
82 JOGOS PELO GRÊMIO
61 VITÓRIAS
8 EMPATES
13 DERROTAS
8 GOLS MARCADOS
Lendo sobre futebol, houve tantos goleiros que jogaram por bastante tempo em alguns clubes, e Lara é um desses. Quantos jogos ele fez pelo Grêmio? E na carreira?
ResponderExcluirDifícil saber quantos jogos LARA fez na carreira, considerando que não temos informações do período pré-Grêmio.
ExcluirEntre 1920 e 1935, LARA não jogou pelo Tricolor da Fortim da Baixada apenas em 1928. Ano em que o Grêmio tirou do Internacional o goleiro Moeller, campeão gaúcho de 1927.
Nesse ano de 1928, LARA foi defender a meta do FBC Porto Alegre.
Pelo Grêmio, tenho o seguinte registro das atuações de EURICO LARA, embora não sejam números oficiais:
221 JOGOS
162 VITÓRIAS
31 EMPATES
28 DERROTAS
LARA não dava chance para os goleiros reservas.
Poucas vezes foi substituído em campo (apenas seis vezes teve que dar lugar ao reserva durante o jogo, segundo meus registros).
Micheiev
ResponderExcluirVou passar a bola a quem de direito; é missão para o Alvirubro.