Pequenas Histórias
(165) – Ano – 1981
Um Filme de Terror
Quem nunca assistiu pelo menos uma vez a um filme de terror? Experimentou
intensa sensação de pavor, calafrios, desejo que aquelas cenas mais intensas de
medo passassem logo e, lógico, o alívio no desfecho favorável, seguido de risadas
nervosas e o relaxamento natural depois da tensão sofrida diante da tela?
Pois em 26 de Abril de 1981, o maior público registrado na história do
Olímpico (oficialmente, quase 99 mil gremistas), viveu um “clássico filme de
terror” com todas as emoções a que tinha direito. Um roer incessante de unhas;
olhares incrédulos, corações palpitantes, palavrões à ponta da língua estiveram
presentes. Ingredientes essenciais para um bom “thriller”.
A partida de volta das
semifinais do Brasileirão diante da Ponte Preta conteve todos os elementos
deste gênero literário e cinematográfico. Um roteiro perfeito; uma sucessão de
sustos e o indefectível final feliz para a Nação Tricolor.
Três dias antes, lá no Moisés Lucarelli na bela Campinas, o Grêmio
garantiu uma vantagem importante, que se mostrou decisiva para a ida à final
contra o São Paulo; bateu a Macaca por 3 a 2. Isso determinou que ele pudesse
até perder pelo escore mínimo na volta em Porto Alegre.
Embora a qualidade da Ponte, na passava pela cabeça dos torcedores
azuis um enredo que não privilegiasse apenas uma segunda vitória. Ledo e
inquieto engano.
Maurílio José Santiago foi o árbitro e o mestre Ênio Andrade utilizou
naquela tarde: Émerson Leão; Uchoa, Newmar, Hugo De Leon e Casemiro; China,
Paulo Isidoro e Vilson Taddei; Tarciso, Baltazar e Renato Sá (Jurandir).
A Ponte Preta veio com: Carlos; Édson, Juninho, Nenê e Odirlei; Zé
Mário, Osvaldo e Humberto; Celso, Lola e Serginho. Um grande time recheado de
jogadores da Seleção Brasileira.
A proposta de jogo de Ênio Andrade se revelou perigosa, isto é, esperar
a Ponte para contra-atacar; resultado: Submetido a um sufoco em plena casa, só
deu o clube campineiro na ofensiva.
Aos 13 minutos, Osvaldo subiu e
cabeceou rente ao poste; aos 22, ele não perdoaria. Novamente, o camisa 8 subiu
e testou livre no canto esquerdo de Leão. 0 a 1 e um silêncio terrificante nas
arquibancadas.
Somente aos 34, o Grêmio ameaçaria a cidadela ponte-pretana num
cruzamento de Uchoa que achou Newmar na área, o zagueiro testou para ótima
defesa de Carlos; o primeiro tempo ficou nisso. 0 a 1, Ponte Preta.
Voltando mais ousado, o Tricolor criou uma série de chances com Paulo
Isidoro e Baltazar, mas Carlos estava em grande dia e fez defesas
espetaculares.
Como num bom filme do gênero, houve também o instante de maior tensão:
Hugo De Leon tentou atrasar uma bola para o seu arqueiro, mas errou a jogada e
a pelota “enforcada” quase encobriu Émerson Leão, que fez antológica defesa
(vide foto) e livrou o Tricolor de uma possível desclassificação. Ali, a hora
do grande goleiro. Leão recebeu de imediato, o abraço do uruguaio De Leon,
reconhecendo a sua falha e a correção providencial do Camisa 1.
À partir dos 35 minutos, as equipes caíram de rendimento, extenuadas,
foram se submetendo à escravidão do relógio, do tempo, que conforme a ótica dos
contendores, possuía velocidade de coelho ou de tartaruga.
Até o derradeiro apito do árbitro, o grito de desafogo ficou retido na
garganta em todo o Rio Grande, em especial, naquele gigante de cimento e ferro,
mas cheio de vida, que pulsava tanto que as arquibancadas se mexiam.
A derrota em campo nesta película de terror foi exorcizada pela classificação inédita do
Tricolor para participar da Libertadores da América e, lógico, a passagem para
a final diante do São Paulo, outro capítulo à parte na história vencedora do
Imortal.
Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
Segue vídeo com o gol e depoimentos dos atores dessa grande jornada:
No ano de 1981 o Grêmio, em jogos oficiais, teve o seguinte desempenho:
ResponderExcluirAproveitamento 68,93% (*)
59 jogos
36 vitórias do Grêmio 61,02%
14 empates 23,73%
09 derrotas 15,25%
95 gols marcados pelo Grêmio 1,61 por jogo
38 gols marcados pelos adversários 0,64 por jogo
(*) Considerados 3 pontos por vitória e 1 ponto por empate.
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Em amistosos e torneios de caráter não oficial, o desempenho Tricolor foi muito bom:
Aproveitamento 85,71%
14 jogos
11 vitórias do Grêmio 78,57%
03 empates 21,43%
37 gols marcados pelo Grêmio 2,64 por jogo
09 gols marcados pelos adversários 0,64 por jogo
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No Brasileiro de 1981, o Grêmio teve o seguinte desempenho:
Aproveitamento 63,77% (*)
23 jogos
14 vitórias do Grêmio 60,87%
02 empates 8,70%
07 derrotas 30,43%
32 gols marcados pelo Grêmio 1,39 por jogo
21 gols marcados pelos adversários 0,91 por jogo
(*) Considerados 3 pontos por vitória e 1 ponto por empate.
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Seleção da Bola de Prata de 1981:
Goleiro: Benitez (Internacional)
Lateral-direito: Perivaldo (Botafogo)
Zagueiros: Moisés (Bangu) e Darío Pereyra (São Paulo)
Lateral-esquerdo: Marinho Chagas (São Paulo)
Volante: Zé Mário (Ponte Preta)
Meias: Elói (Inter de Limeira) e Paulo Isidoro (Grêmio)
Atacantes: Paulo César (São Paulo), Roberto Dinamite (Vasco) e Mário Sérgio (Internacional)
Bola de Ouro: Paulo Isidoro (Grêmio)
Alvirubro
ExcluirPaulo Isidoro desequilibrou este campeonato; se formos ver os gols nas etapas finais, ele foi decisivo, o passe de calcanhar para o Héber em Fortaleza, os gols contra a Ponte em Campinas, a (verdadeira) decisão em 30/04, quinta-feira com os gols da virada. O início da jogada para o gol do Baltazar no Morumbi.
Nunes era o centro-avante para a Copa do Mundo de 82, infelizmente, lesionou-se.
Excluir9 derrotas em uma ano? É isso?
ExcluirSim, Bruxo, apenas 9 derrotas ano de 1981
Excluir73 jogos
47 vitórias do Grêmio 64,38%
17 empates 23,29%
09 derrotas 12,33%
132 gols marcados pelo Grêmio 1,81 por jogo
47 gols marcados pelos adversários 0,64 por jogo
Curiosamente, onde ele perdeu 7, ganhou o título, sobraram 2 derrotas para os outros campeonatos e ele não levou o caneco.
ExcluirFaltou o Nunes, Bola de Prata de Artilheiro.
ResponderExcluirAlvirubro
ResponderExcluirCertas derrotas são emblemáticas para a mudança de curso; um jogo fundamental para o Tricolor corrigir o rumo foi a goleada 0 a 3 no Morumbi, 3 gols de Serginho. Ali, o Grêmio começou a ganhar o Brasileirão. Depois dessa pegou o clube do Morumbi mais três vezes, três vitórias.
Houve mudança de fotografia do time à partir daquela derrota.
Não consegui o vídeo da defesa monstruosa do Leão (da foto). Alguém tem?
ResponderExcluirAlvirubro, certa vez num post sobre treinadores, destes estes números:
ResponderExcluirLuiz Felipe Scolari 373
Oswaldo Rolla 371
Telêmaco Frazão de Lima 360
Carlos Frôner 317
Sérgio Moacyr 247.
Alvirubro, tens os números deles (dias e anos no cargo) do Carlos Frôner e do Sérgio Moacyr? Gracias. Carlos.
Alvirubro, tem também os números do Daltro Menezes, Milton Kuelle e Cláudio Garcia? Gracias. Carlos.
ResponderExcluirQuais foram os 6 jogos do Roger em 2013? 2 foram na Libertadores e os outros? Gracias. Carlos.
ResponderExcluirEnquanto Ênio Andrade e Leão minimizaram a derrota, De León, que teve alguns momentos de instabilidade na partida, disse aos jornais o seguinte (conforme Jornal do Brasil):
ResponderExcluir"Não fiquei contente com a nossa produção em campo. Sofremos grande pressão da Ponte em pleno (sic) Olímpico e o Grêmio é muito grande para sofrer esse tipo de pressão de qualquer equipe do país".
Como era o líder do time, provavelmente a derrota e a pressão impostas pela Ponte foram usadas internamente por De León e por outros para cobrar atitude diferente nas finais. Deu certo.
Rafael
ResponderExcluirO Grêmio a exemplo do Inter de 2006, possuía vários líderes: Vantuir (banco), Leão, China, Vilson Tadei, mas especialmente, Hugo De León, que era "um velho" com 23 anos.