27 - Batendo às Portas do Céu - Ano 1977
Qual será meu jogo inesquecível?
Muitos. Eles vão variando de acordo com a memória, o humor, a saudade ou a
descontração da ocasião; mas aquele que mais está presente é o do sagrado dia
25 de Setembro de 1977.
Havia uma frustração armazenada
no peito desde 1969, quando o Coirmão se mudou para o Pinheiro Borda e emendou
uma sequência (interminável) de humilhações, gozações e sentimento de
inferioridade. Pudera! Minha turma era de 10, talvez 15 amigos, onde apenas 2,
eu disse dois, eram colorados e a flauta corria solta. Naquela época, o Grêmio
já era o time de maior torcida nos pagos e em 1976, o título bateu na trave, o
apito maldito tirou nossa possibilidade de gritar: É Campeão! Porém, 1977
tínhamos Telê Santana e isso não era pouco; ele já era o grande estrategista e
visionário que formou várias academias ao longo dos anos.
Como um grande arquiteto foi
montando aquele time dos sonhos, onde a zaga simplesmente fez 20 gols, Eurico e
Anchetta, cinco cada, Oberdan, seis e Ladinho, quatro; apenas para citar a
defesa titular. Um centro-médio das antigas no seu posicionamento, mas um
líder, o jornalista Vitor Hugo; seguindo, Iúra, o guerreiro e o mago da bola,
Tadeu Ricci; na frente; três matadores: Tarciso, André e Éder. No gol, o
"tupamaro" Walter Corbo. Ithon Fritzen comandava a preparação física
e não dá para esquecer do massagista Banha, do presidente Hélio Dourado e o
diretor Nelson Olmedo, autor da fantástica frase: "A Taça tá no armário, o
bicho tá no bolso, a faixa tá no peito e a torcida está comemorando",
quando o Coirmão quis "melar" o campeonato no Tapetão.
O Imortal chegou neste jogo precisando vencer
para evitar mais um jogo, que seria na casa do adversário. O Olímpico estava
superlotado e a confiança azul era a maior dos últimos anos. Mesmo a defecção
do capitão Anchetta, não preocupava. No domingo anterior, Cassiá, o substituto
fez uma bela dupla com Oberdan no 2 a 0 do Beira-Rio (Pequenas Histórias 26). O
Inter ficou sem Cláudio, Beliato e Falcão à última hora, mas tinha Benitez,
Vacaria, Marinho, Batista, Caçapava, Valdomiro, Jair, Escurinho, Dario,
Luisinho, entre outros. Logo aos 8 minutos, o atacante Santos derruba André na
área; penalti sonegado pela arbitragem. O Grêmio segue pressionando, Eurico
perde gol num cruzamento de Tadeu, desta forma, o gol sairia logo (era o que se
imaginava). Aos 25 minutos, o zagueiro Gardel impede a conclusão de André,
botando a mão na bola. Não tinha como não assinalar. Penalidade Máxima.
Tarciso, o que nunca errara uma cobrança, se encarrega de bater. Bate forte
...Para fora! Lado direito de ataque. Meu mundo parecia desmoronar. Tarciso
ficou tão abalado que na quarta-feira, jogo das faixas contra o Palmeiras, fez
cobrança idêntica e logo nos primeiros jogos do Brasileirão, mais uma vez
errou; no caso, contra o Joinville em Santa Catarina. Tadeu virou o cobrador
oficial.
Aos 42 minutos, Eurico rouba a
bola, passa para Iúra que mete entre o lateral direito e o beque central para
André Catimba, o baiano avança e a lógica indicava bater de pé esquerdo, forte,
rasteiro, cruzado no canto oposto do goleiro. André "inventou":
chutou de pé direito, colocado, no ângulo superior, linha reta, portanto, no
mesmo canto do goleiro. Voou para a cambalhota (foto) e se machucou. Saiu e
entrou o predestinado Alcindo Martha de Freitas, maior goleador do Imortal em
todos os tempos. André, incrivelmente, estava marcando apenas o seu terceiro
gol no campeonato. Para que mais? O segundo tempo foi de alternâncias de
ataques.
Aos 42 minutos a torcida invadiu o campo.
Loucura Total. O juiz esperou o tempo regulamentar e deu por encerrado. Grêmio
Campeão. Oberdan comandou a volta olímpica de um jogo que teve muitas histórias
subterrâneas como por exemplo a de Vilson Cavalo, reserva que sempre entrava,
que ficou atento, ouvindo o vestiário colorado, descobrindo a escalação que era
um mistério; a de Cassiá que jogou a maior parte do tempo com o nariz quebrado
ou a de Dario, o Peito-de-Aço que fugiu do exame anti-doping no final da
partida. A Folha da Manhã, jornal da Caldas Junior escolheu, para variar,
Tadeu, o melhor em campo. Reproduzo parte do que está à página 30
(Central):"Mesmo sofrendo forte marcação de Batista durante quase toda a
partida, Tadeu Ricci foi o melhor jogador do Grenal de ontem, principalmente
pela sua aplicação tática... mostrou muita personalidade e uma experiência
muito grande que colaborou para esta vitória..." Zero Hora, também
escolheu o camisa 8 tricolor o craque do clássico.
A Nação Azul passou meses
comemorando; lembro que fui a um show dos Almôndegas que lançava o LP
"Alhos com Bugalhos", ali no ginásio do Corinthians e só puderam
abrir o espetáculo, depois que resolveram acompanhar a massa que cantava o hino
do Lupicínio Rodrigues. Loucura igual, só a de Tóquio. Foi o momento mais
marcante da minha adolescência esportiva. Sem dúvidas, bati às portas do Céu.
Meu momento inesquecível estaria para chegar, seria a demissão do treineiro vadio! Mas nem isso terei, o indemitível vai pedir demissão depois de perder tudo no ano - e sairá fanfarroneando o "trabalho", o "melhor futebol", enfim as coisas que a casualidade deu a ele e ele jogou fora porque é burro, porque é incompetente, um amador!
ResponderExcluirPois meu será o tri da Libertadores em 2017.
ExcluirQuanta amargura da tua parte, réu time está na série B ou torces pelas tuas teses, não pelo Grêmio?