A Lenda
Quinta-feira, 14 de
Dezembro, 17 h e 03 min, saí de meu serviço há pouco. Percorro a Travessa
Leopoldo Fróes, contorno a Concha
Acústica; entro no Vale do Itaimbé, um
lugar lindo, porém, mal cuidado.
Ele é repleto
de árvores, vários bancos, num deles percebo “cheiros peculiares ao redor” como
já cantara o poeta; noutros, vários casais de namorados; um bom movimento de
bicicletas nas pistas; pedestres a passos apressados fazem caminhadas; vou em
direção à minha casa, um trajeto de apenas 8 minutos a pé.
Num dos bancos,
talvez o último, próximo do alcance a uma
das ruas laterais do parque, vejo um menino dos seus 12, 13 anos, sentado. Segura
um boné junto aos joelhos. Quando o ultrapasso, ainda estou na sua mira. Ele
fala alto: - “Seu” Bruxo. Antes de uma provocação, é apenas um chamado, porque
noto um sorriso. Achei estranho, pois só sou “Bruxo” aqui no blog.
Aceno para ele que me
devolve o gesto, indicando que me aproxime: - E aí, como vai? pergunto.- Tudo
bem, eu reconheci o senhor, afirma.
- Mesmo? De onde? - Prossegui.
- Do blog. Queria
muito lhe conhecer pessoalmente.
- Legal. (Um ar de surpresa).
A minha curiosidade
me incentivou a ampliar o bate-papo. Descubro que se chama João e afirma em sua
imaginação criativa que veio do futuro. Por dentro, rio desta última frase.
O garoto me atualiza, informa que o
Imortal viveu grande fase entre os anos 10 e 20 do Século XXI.
É gremista e diz conhecer quase tudo sobre o
maior ídolo daquele período: Pedro Geromel. Para presenciar a época em que ele
comandava a defesa Tricolor, navegou nessa aventura, desembarcando em 2017.
Interrompo e digo: -
Geromito, Geromonstro; ele rebate; o nome que entrou para a história é
Gêniomel.
Começo a gostar do
menino. Decido incentivar a brincadeira. – Gêniomel, então? Conte-me mais. O
que consta dele no seu “arquivo implacável” aí? Acenei com a cabeça para um
envelope que lhe fazia companhia.
João se alegra e
dispara: É o maior zagueiro tricolor de todos os tempos, uma lenda do tamanho
de Eurico Lara, Gessy Lima e Renato Portaluppi. Jogou a Copa da Rússia, ele
revela. – O Kannemann também participou do torneio mundial. – Essa é boa, que
imaginação! Caçoo mentalmente.
Aos poucos, o piá desfila a biografia do mito:
Sua estreia diante do Novo Hamburgo, segue com a segunda apresentação; as
suspeitas que o gol contra atrapalhado, em Ijuí, aos 43 minutos do segundo
tempo que retirou a vitória do time, encetou nos torcedores azuis.
Falou mais: As
eleições de melhor zagueiro do Brasil várias vezes por diversos órgãos
esportivos, o título da Copa do Brasil, depois, o ano iluminado de 2017.
O relato chega ao título da Libertadores. Neste
instante, ele imita o movimento de Geromel, ergue os braços que seguram uma
taça invisível, tal qual o gesto do camisa 3 Tricolor em La Fortaleza, reduto
do Lanús.
O garoto é só
entusiasmo, porém, eu o interrompo, dizendo que o meu pai igualmente se chamava
João e era muito gremista como ele.
O menino sorriu: -
Minha mãe me deu o nome do meu bisavô a pedido do pai dela, meu avô, lógico!
Respondeu meio sem jeito.
Ele levantou, diz que
precisa voltar ao futuro (De Volta para o Futuro, quantas vezes vi esse filme,
penso). Um aparelho minúsculo no seu braço, menor que um relógio de pulso emite
um bip, bip incomodativo para ele e estranho para mim.
- Minha mãe é muito
possessiva, reclamou indignado, já se pondo de pé. -Tenho que regressar; ainda
mais que a energia concentrada para viajar no tempo é de pequena duração. Num
muxoxo, se queixa, apontando para outro aparelho que eu imaginava ser um anel
apenas, mas que naquele momento piscava intermitentemente, indicando um
“Alerta”.
Como ela (a mãe) se
chama? - Indago. Ao ouvir sua resposta, espanto-me com nova coincidência: -
Engraçado! Tenho uma filha que também se chama Clara. Fez 15 anos em Setembro.
Encabulado pela minha “lerdeza mental”, ele abaixou a cabeça e quase me
fulminou com um olhar de decepção.
Quando caiu a ficha
para mim, o menino já sumia, entrando
em um dos muitos túneis daquele vale, envolvido por uma bruma surpreendente
para aquela estação do ano.
Com o coração
acelerado, desconfiei que tudo aquilo “era de verdade” realmente.
Emocionado, corri em
sua direção. Agora, o jovem era apenas uma imagem pálida que ia perdendo a forma. Quando
quase desaparecia por completo, gritei: Me conta, a gente ganhou do Real?
Uma voz quase
inaudível, que ia diminuindo progressivamente, sugeriu: - Veja sobre o banco.
Girei a cabeça e avistei
o envelope.
Atordoado, fui
abrindo. Ele guardava um almanaque do Grêmio. A capa ilustrada pelo distintivo
do clube recebia o seguinte título: Todos os jogos do Imortal Tricolor. Em
letras menores, anunciava: “Atualizado”, seguido pelo ano da edição; 2045.
Parabéns, Bruxo! Lindo texto!
ResponderExcluirObrigado, Luis!
ResponderExcluirPena que não levantamos o caneco. Vida que segue.
Que baita texto Bruxo.
ResponderExcluirParabéns.
Grande Marcelo Flavio
ResponderExcluirObrigado, ainda mais o agradecimento vindo de um "cara" de muita sensibilidade.