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sábado, 10 de fevereiro de 2018

Pequenas Histórias





As próximas postagens são duas Pequenas Histórias envolvendo o grande Everaldo Marques da Silva que possuía entre as suas paixões, o Futebol e o Carnaval. 

Pequenas Histórias (185) - Ano - 1970


Um Tricampeão Mundial na Baixada Melancólica

Em pé: Breno, Beto Bacamarte, Espinosa, Ari Hercílio, Jadir e Jamir. Agachados: Flecha, Joãozinho, Alcindo, Everaldo e Loivo.


Os olhos de um Mundo dividido em duas partes pela Guerra Fria, naquela primeira semana de Setembro de 1970 miravam com incredulidade para o Chile, porque Salvador Allende, um marxista estava eleito democraticamente e isso era impensável naquela América do Sul tutelada pela Águia do hemisfério norte, um presidente socialista.

Já para mim, um menino de 11 anos, aqueles dias estavam divididos também para o “bem” e para o “mal”; eu iria pela primeira vez até a  Baixada Melancólica assistir um jogo de Gauchão, na verdade, para ver o tricampeão mundial Everaldo Marques da Silva, principal atração nos estádios rio-grandenses, pois em Junho no México, ele ajudou a conquistar a Copa do Mundo disputada ao lado de Pelé, Tostão e cia.

O jornal A Razão definiu o encontro dominical do dia 06 como “A Baixada em tarde de Gala” e se referiu ao craque com as seguintes expressões: Everaldo, herói nacional e ídolo do bravo povo sulino.

O “mal” que me angustiava era a obrigação escolar de desfilar no Sete de Setembro naquele feriadão.

Everaldo era um craque; possuía uma técnica invejável que o fez muitas vezes, mudar de posição, virando meia armador do Tricolor, ainda que sem jogar com a camisa 10, destinada ao seu substituto na lateral esquerda, nesta ocasião, Jamir, um bom marcador que veio do Gaúcho de Passo Fundo.

Com a Baixada hiper lotada, o que exigiu um aumento do contingente policial que totalizou 200 homens para garantir a segurança e bloqueio de trânsito de carros nas ruas que circundavam o estádio, Everaldo foi alvo de várias homenagens com direito a placa de prata entregue antes do confronto e a reverência da multidão.

A delegação azul com Carlos Froner trouxe os seguintes atletas: goleiros Breno e Jair; os defensores Espinosa, Di, Ari Hercílio, Beto Bacamarte e Jamir; os meios de campo Jadir, Paíca, Everaldo e os atacantes Flecha, Joãozinho (João Severiano), Caio, Alcindo, Bebeto, Wolmir e Loivo.

O Internacional de Santa Maria do técnico e ex-capitão do time, Daudt, usou: Nílson; Tadeu Menezes, Santo, Paulinho e Carlinhos; Paré e Jara; Marcos Cavaquinho, Paulo Reni (Valdo), Plein e Caio.

Logo aos 10 minutos do primeiro tempo, o Tricolor abriu o marcador, quando Loivo cruzou da esquerda, a pelota passou por toda a área; Flecha aproveitou e fez novo cruzamento que encontrou Alcindo bem colocado, o Bugre bateu forte e venceu o arco vermelho. 1 a 0.

Na etapa final, logo aos seis minutos ocorreu o lance mais polêmico da partida, quando Marcos cabeceou, vencendo o goleiro Breno, a bola foi defendida (com a mão direita ???) por Everaldo, esse toque elevou a pelota que se chocou no travessão, na volta, o tricampeão ajeitou com a mão esquerda (???) e despachou o balão para frente, evitando, assim, o gol de empate.

José Luiz Barreto não marcou nada; o Grêmio contra-atacou rápido e marcou seu segundo tento através de Flecha, que aproveitou lançamento de Loivo. Com uma manobra de cabeça, o camisa 7 tirou Santo da jogada e com um leve toque encobriu Nílson. 2 x 0.

 Quem pagou o pato foi o bandeira João Carlos Ferrari que foi “à lona” (expressão do jornal), nocauteado por uma pedrada arremessada pela torcida local, fato que interrompeu o espetáculo poucos minutos após o gol de Flecha.

Serenados os ânimos, a partida seguiu sem maiores sobressaltos. A vitória manteve o Grêmio na liderança do campeonato.

Assim foi a minha estreia no Presidente Vargas (Baixada Melancólica), pois até então, eu apenas acompanhava os jogos nos Eucaliptos, casa do Riograndense.

Estreia de luxo, porque Everaldo foi a estrela do encontro, sempre atencioso com todos, um verdadeiro astro cercado por infindáveis admiradores.

Fontes:   Foto: Jornal A Razão
               Jornais Correio do Povo e A Razão
               Arquivo pessoal do amigo Alvirubro       

9 comentários:

  1. Interessante que Everaldo, após o retorno do Mundial do México, voltou à lateral esquerda, participou de seis jogos, e de Agosto até Outubro de 1970 foi jogar de meia esquerda. Só retornou à posição original após a estreia de Gaspar, frente ao Fluminense, em 07.10.1970.

    O caso de Gaspar é também interessante, pois dia 04.10.1970 ele atuou contra o Grêmio, pelo GE Flamengo, vitória dos caxienses por 2x1. Logo após o jogo, o tricolor contratou Gaspar e já incluiu o craque na delegação que foi ao Rio de Janeiro enfrentar o Fluminense.

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  2. Exatamente,Alvirubro.
    A carência de um meia armador e a boa contratação de Jamir fizeram o Grêmio optar pela promoção de Everaldo para o meio; a perda do regional deve ter afetado o objetivo inicial.
    Gaspar jogou pouco no Grêmio, mas era de Seleção; lembro que liderou a Bola de Prata, edição de estreia, por quase todo o campeonato, perdeu para Dirceu Lopes no finalzinho, muito em função das posições na tabela de Grêmio e Cruzeiro.

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    1. Gaspar jogou pouco tempo, quis dizer.

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    2. Em 1970 foi considerado o "Craque do Ano", no Rio Grande do Sul. Fez um Gauchão em alto nível, pelo Flamengo de Caxias.

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  3. Gaspar foi o primeiro jogador do Grêmio a fazer gol em GRENAL no Beira-Rio. Numa vitória por 2x0, em 1971.

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  4. EVERALDO NO GRÊMIO

    374 jogos
    212 vitórias
    108 empates
    54 derrotas
    MARCOU 2 GOLS

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  5. Em 85% das partidas não saiu derrotado.

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  6. Everaldo, nome simples para definir um grande. Não era craque como muitos querem, mas era muito acima da média, muito, como poucos que já se viu (talvez por isso, o escalam entre os craques).
    Em 70, Zagallo queria porque queria pôr Marco Antônio. Marco Antônio era mais apoiador e menos marcador. Pelé e Cia seguraram Everaldo na titularidade. Entendiam que já tinham do outro lado um também mais apoiador do que marcador, Carlos Alberto, e necessitavam de alguém que ajudasse a compor a defesa. E assim foi feito. Mesmo que tenha declarado numa oportunidade: “pra que apoiar o ataque se lá na frente tem Pelé, …”, Everaldo, para a surpresa de muitos críticos (pró Marco Antônio), também subia “na boa” e acabou ajudando nas ofensivas, pela lateral.
    No Grêmio desbancou ninguém menos do que Ortunho, considerado por alguns como melhor do que Everaldo. Claro que Ortunho já estava do meio dia para a tarde, mas Everaldo ainda era um garoto naqueles idos de 65/66/67. Vi os dois jogarem. Prefiro Everaldo. Ortunho era a simpatia em pessoa. Do negão só se via os dentes. Vivia sorrindo, mesmo marcando os adversários mais difíceis (parece que jogava com prazer e alegria). Mas tinha seus defeitos. Da mesma forma com que marcava com classe e elegância (se é que se pode falar em elegância naquele corpanzil meio desengonçado), quando menos se esperava dava um rapa no atacante e iam buscá-lo na arquibancada. Já Everaldo, tirando-se aquele caso do soco no juiz, era a humildade em campo. Talvez por isso alguns torciam o nariz, no início. Era discreto. Marcava e tocava a bola com simplicidade, mas com muita eficiência. Seria como o Arthur hoje. Errava poucos passes. Como marcador, por vezes também marcava “mais firme”, mas não era comum jogadas desleais. Pelo contrário. Tanto é que ganhou o Troféu Belfort Duarte que premia os jogadores leais. Foi o primeiro gremista a vencer a Bola de Prata, já na sua primeira edição.
    Everaldo, simples, discreto, mas eficiente como raros.

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  7. Isso aí,Arih.
    Everaldo não usava da violência ou virilidade; era um lateral de muita técnica, inclusive dando "balãozinho" ou "lençol" nos ponteiros, vi ele fazer isso no Rogério (Botafogo) que foi para a Copa de 70 e foi cortado por lesão, mas permaneceu no grupo e em Cafuringa do Fluminense.

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