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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Pequenas Histórias





Pequenas Histórias (200) – Ano – 1950


Aos Olhos do Ourives



Esta é uma  “Pequenas Histórias” especial, ela fecha duas centenas de crônicas sobre o Imortal Tricolor, muitas delas produzidas a partir de informações e  documentos cedidos pelo Alvirubro.

Portanto, a “200” é uma homenagem que faço ao amigo de longa data. São mais de 50 anos de amizade, comprovando que podemos torcer para times diferentes, adversários ferrenhos e não deixar que isso afete o sentimento de respeito mútuo.

O Alvirubro tal qual um lapidador ou um ourives, profissões milenares, pega a descoberta em estado bruto e vai dando forma, encaixando a peça, conformando a joia no mosaico da história da dupla Grenal. A de hoje é consequência desta busca obstinada pela recuperação da memória do futebol gaúcho.

Em Junho de 1950, a Seleção Brasileira fazia amistosos visando acertar o passo para disputar a IV Copa do Mundo, que como se sabe, realizou-se em nossa pátria.

No dia 3, lá no estádio São Januário, ela encarou um combinado Grenal, uma Seleção Gaúcha e aí entra a curiosidade, este combinado atuou com o fardamento gremista na primeira etapa; no segundo tempo, usou o encarnado do Internacional.

Realmente, fica estranho ver esta foto com lendas coloradas do Rolo Compressor, como o goleiro Ivo, o zagueiro Nena (terceiro em pé) e o avante  Adãozinho (terceiro agachado) vestindo o manto Tricolor ou Hermes, Joni e Ariovaldo, o Detefon, envergando o vermelho do rival. Outros tempos. Dá para imaginar Grohe, Geromel e Luan com a camisa do Inter? Aliás, dois destes atletas do Inter, recém citados, estiveram entre os 22 selecionados para a Copa do Mundo daquele ano; Nena e Adãozinho.

Os gaúchos perderam por 6 a 4, mas deram um sufoco nos brasileiros, Hermes, “insider” gremista, marcou todos os tentos sulinos. O primeiro, aos 14 minutos, quando chutou forte, Barbosa defendeu o petardo, porém, a pelota se ofereceu novamente para o atacante que não perdoou.

O Brasil virou com dois gols de Ademir, o Queixada, futuro artilheiro daquela edição de Mundiais, um aos 16, outro aos 30 minutos.

Aos 32, Ballejo serviu passe para Hermes empatar novamente. 2 a 2.

O duelo dos goleadores ficou mais interessante ainda, quando aos 43, Ademir desferiu potente chute de fora da área. 3 a 2. Hermes repetiu a dose aos 44. Um chute magnífico não possibilitou defesa para Moacir Barbosa. 3 a 3. Final da primeira etapa.

Flavio Costa, treinador brasileiro, mexeu bastante para o segundo tempo. Trocou toda a linha média, no entanto, quem saltou à frente no marcador foram os sulinos, isso, logo aos 5 minutos, Hermes, sempre ele. 4 a 3.

Aos 19 minutos, Zizinho deixou tudo igual. 4 a 4.

Aos 31 e 41 minutos, Jair da Rosa Pinto que entrara na etapa final, definiu o marcador. 6 a 4.

O Brasil jogou com: Barbosa; Augusto e Mauro; Ely (Bauer), Danilo Alvim (Ruy) e Alfredo (Noronha); Maneca, Zizinho (Jair), Baltazar, Ademir e Chico.

Os Gaúchos utilizaram: Ivo Winck; Joni e Nena; Hugo, Ruarinho e Heitor; Ballejo, Hermes, Adãozinho, Mugica e Ariovaldo (Ápis).

Mário Vianna, nosso árbitro na Copa do Mundo, apitou o prélio. Houve lotação completa no estádio do Vasco da Gama.

Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro, inclusive a foto.



23 comentários:

  1. Bah, que bela história.
    Quanto ao Alvirubro, pelo que vejo só tem o defeito de ser colorado. Kķkkkkkkk

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    1. "Bão", Carlos, a gente tinha que ter alguém para zoar nesta boa fase, hehehe.

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    2. Gurizada,
      eu digo sempre que o futebol é apenas a coisa mais importante dentre aquelas que a gente escolhe como as menos importantes da nossa vida.
      Nunca perdi um amigo por motivo de corneta ou por não aceitar a flauta. E ainda "sacaneio" o torcedor tricolor, dizendo que sei mais do time dele do que ele. Claro que no fim de tudo vira risos e abraços.
      Tudo ao seu tempo e lugar. A vida é boa demais para ser levada a sério.
      Não dá para perder uma amizade, somente pela diferença da cor da camiseta. A gangorra existe. Um dia ela volta ao padrão normal, eheheheheh...

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  2. Obrigado pela lembrança, Bruxo! Tu sabes que a amizade, a admiração e o respeito são recíprocos. Isso surgiu com nossos pais e continuou ao longo da vida, com os demais familiares: teu querido irmão, tua estimada irmã, meu irmão e também minhas irmãs. Todos temos provas da grande afeição e do grande apreço entre nós.

    Quanto à minha contribuição para com tuas publicações, ela serve apenas como “isca”, que faz brotar da tua privilegiada memória as histórias dos tempos românticos do futebol. Não temos tantos torcedores que fazem esse trabalho. Quem acompanha tua página pode desfrutar de bons parágrafos, que reúnem fatos pitorescos do Tricolor e de seus adversários.

    Muito grato pelas tuas bondosas palavras. Aproveito para te parabenizar pelo número de publicações alcançado. Textos que servem de base para pesquisadores e leitores interessados nas belas páginas construídas ao longo de mais de 100 anos do teu Grêmio.

    Um abraço!

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  3. Uma pena não ter encontrado uma boa foto desse jogo, com o time usando a camiseta vermelha. Certamente, nos arquivos da CBF deve existir alguma fotografia desse jogo. Em algum momento vai aparecer.

    Na foto, aparece Mugica, centroavante de Internacional e de Grêmio. De memória, se não estou enganado, Mugica havia deixado o Cruzeiro-PoA, em Março de 1950, e integrava o Internacional, assim como Ruarinho também fazia parte do time rubro.

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  4. Ainda havia Noronha e Tesourinha que estavam fora do Rio Grande, convocados por Flávio Costa.
    Pena a segunda guerra mundial (além de todo o estrago) impedir os mundiais de 42 e 46, quando os argentinos e brasileiros estavam "voando".

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  5. Outros jogos da Seleção Gaúcha, frente ao Brasil:

    01.05.1966 - BRASIL 2x0 SELEÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL - Maracanã
    Gols: Servilio; e Gerson.

    17.06.1972 - BRASIL 3x3 SELEÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL - Beira-Rio
    Gols: Tovar; Jairzinho; Carbone; Paulo Cezar Caju; Claudiomiro; e Rivellino.

    25.05.1978 - BRASIL 2x2 SELEÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL - Beira-Rio
    Gols: Toninho; Nelinho; Lucio; e Eder.

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  6. As escalações dos jogos acima:

    01.05.1966 - BRASIL 2x0 SELEÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL
    BRASIL: Manga (Gilmar), Murilo (Carlos Alberto Torres), Bellini (Britto), Fontana (Orlando Peçanha), Oldair (Rildo), Roberto Dias (Dino Sani), Fefeu (Gerson), Jairzinho (Garrincha), Alcindo (Servilio), Silva (Pelé) (Silva), Rinaldo (Paraná)
    RGS: Arlindo, Altemir, Ary Ercilio, Aureo, Sadi, Cleo, Sergio Lopes, Babá, João Severiano, David, Vieira (Volmir)

    17.06.1972 - BRASIL 3x3 SELEÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL
    BRASIL: Leão (Sérgio), Zé Maria, Britto, Vantuir, Marco Antonio, Clodoaldo, Piazza, Rivellino, Jairzinho, Leivinha, Paulo Cézar Caju
    RGS: Schneider, Espinosa, Ancheta, Figueroa, Everaldo, Carbone, Tovar, Torino, Valdomiro, Claudiomiro, Obberti (Mazinho)

    25.05.1978 - BRASIL 2x2 SELEÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL
    BRASIL: Leão (Carlos), Nelinho (Zé Sergio), Abel, Polozzi, Rodrigues Neto, Chicão, Batista, Toninho Cerezo (Dirceu), Toninho, Reinaldo (Roberto Dinamite), Jorge Mendonça
    RGS: Walter Corbo, Lucio, Salomon, Oberdan, Jorge Tabajara (Ladinho), Caçapava (Jair), Falcão, Tadeu Ricci, Tarciso, Andre Catimba, Eder


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  7. Rafael Tonon29/09/2018, 00:28

    Parabéns a ambos, Bruxo e Alvirubro, pelo texto nº 200 e pelo consequente resgate histórico do passado gremista e gaúcho. A sintonia irretocável é escancarada pela qualidade do material disponibilizado nas postagens.

    Histórias "batidas" são encontradas a rodo pela internet no velho CTRL+C, CTRL+V, principalmente pelos "especialistas" da imprensa. Causos desconhecidos, interessantes e peculiares... esses dependem do esforço de pesquisa, a busca do detalhe, a descoberta de uma palavra vital cuja tinta foi apagada pelo tempo. Obstáculos intransponíveis frente à preguiça da modernidade.

    Infelizmente ainda são poucos - dentro do público em geral - que valorizam essa luta, interessando-se por ela. O pai, de quem herdei o gosto pelo texto bem redigido, pela estatística e pelo resgate dos fatos no tempo, sempre dizia que o objetivo de suas pesquisas era o de "deixar a história contar suas histórias".

    Espero que o blog continue trilhando esse caminho. Sem dúvidas, o melhor no gênero. Que venham mais 200 Pequenas Grandes Histórias!

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    1. Que baita texto, Rafael!
      Obrigado pelo carinho e incentivo.
      Fico pensando:Se o Alvirubro traz importantes informações sobre o Grêmio, o que ele não faz pelo time dele? Devem haver arquivos fantásticos sobre o Coirmão.

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    2. Grande Rafael Tonon!

      Obrigado, amigo! O que teu pai publicou, serviu e serve como alvo para as minhas pesquisas.

      Ao ler a tua afirmação “...dependem do esforço de pesquisa, a busca do detalhe, a descoberta de uma palavra vital, cuja tinta foi apagada pelo tempo.”, lembrei-me de uma frase curta, que li em um jornal, e acabei guardando na memória pela imagem que ela trouxe ao texto.

      Um jogo de um dos dois grandes da capital, não lembro se Internacional ou Grêmio envolvidos, cujo placar foi 0x0, teve como título da matéria “PLACAR MUDO!”.

      Veja a sutileza do jornalista esportivo em definir o empate. Isso demonstra bem que já vai longe o tempo dos bons redatores e cronistas, capazes de prender o leitor com fatos bem contados sobre a partida.

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    3. Bruxo,
      como comecei um pouco antes a descobrir fatos do colorado, tenho alguma informação a mais. Não muitas! Porém, isso não torna os arquivos muito diferentes. Não sei se escrevi alguma vez o motivo que me levou a também pesquisar o Tricolor. De qualquer forma, se alguma vez fiz referência, vou repetir: comecei a buscar informações dos jogos do Internacional, que na verdade eram listas que eu fazia, naqueles cadernos do antigo MEC (Ministério da Educação e Cultura), lá pelos idos de 1976, 1977, anotando apenas a data, o placar e o adversário.
      Um dia, incentivado pelos TABELÕES da PLACAR, resolvi encher os jogos com mais informações. Fui acrescentado dados que as fichas traziam. Tudo sem muito critério, pois ainda não tinha definido o que valia à pena anotar e o que não valia à pena guardar.
      No início dos anos 80, vendo a boa campanha do Grêmio no Brasileiro de 1981, imaginei que ter anotações do Internacional e não ter do Grêmio, deixaria a história meio "capenga". E passei a anotar os jogos do Tricolor, também. Pegando gosto pelo trabalho, cada vez que eu sentava diante do rádio ou da TV, para assistir uma partida de futebol, colocava sobre a mesa o “caderninho” para anotar “on line”, ouvindo o rádio, os detalhes daquilo que se passava no jogo. E tudo se avolumou!
      Com a chegada do computador, foi mais fácil agregar tudo aquilo que anotei. Colocar em “planilhas” todos os jogos foi cansativo. Eu fazia isso normalmente à noite e gastei algum tempo para organizar tanta informação. O trabalho de busca em jornais antigos, revistas, arquivos históricos e bibliotecas teve algum custo monetário. Sempre se “gasta um troco” atrás dessas informações. Quem pesquisa, atualmente, não tem ideia do que seja “fuçar” em jornal velho, cheio de pó e ácaro, haja vista que existe uma organização e mais espaço para pesquisa. Enfim, a modernidade nos beneficiou, pois quase tudo está escancarado nos milhões de páginas da internet.

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  8. Alvirubro
    Beneficiou muito.
    Antes, o instinto de preservação era menor; para exemplificar, minha turma de "ginásio", último ano, 1974, foi até às ruínas de São Miguel, lá nas Missões e a gente subia os muros,mexia nas pedras da velha construção, tudo sem uma preocupação de manter o local intacto. Que loucura!

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    1. Tu imaginas esse cuidado que temos hoje, com a "Sotéia", que tu conheces muito bem?

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  9. Sotéia que foi "tombada" em 1972. Piada total.

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    1. Imagina!
      Isso que faz parte das "origens" da nossa cidade.
      Talvez se não tivesse esse "currículo", hoje não existiria resquício algum da construção.
      Bruxo, meu amigo, falta muito para sermos um país que dá valor à cultura.

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  10. Mais uma historia bacana.

    Obrigado por compartilharem.

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  11. Obrigado a você pelo reconhecimento, Glaucio.Abraços.

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    1. Apesar de não comentar muito seguidamente, tô sempre acompanhando as histórias.

      Não fosse vocês eu nunca ficaria sabendo de muita coisa.

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