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sábado, 4 de março de 2023

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (282) - Ano - 1977


Vamos "caciar", Telê? 

Fonte: Revista Placar

Existem eventos cujas análises parecem nunca se esgotar: as Copas de 50, 70 e 82, a Batalha dos Aflitos em 2005 e o inesquecível título gremista de 1977. São muitas histórias que vem à tona ao longo dos anos. Esta é mais uma delas.

Já escrevi que Telê Santana não foi o maior treinador do Imortal, mas, com certeza, o melhor. Seu trabalho de garimpeiro e ourives realizado em sua curta passagem pelo Tricolor encontra raros exemplos com tanta visibilidade, repletos de ousadia e sucesso, atitudes como liberar o excelente ponta esquerda Ortiz, um expoente do drible e da ofensividade, que seria campeão mundial titular pela Argentina no ano seguinte, para trazer um menino do América Mineiro, jovem rebelde de 19 anos, de personalidade forte com um canhão na perna esquerda; Éder. Ele veio para inscrever seu nome nos anais do clube. Ou ainda, "desaposentar" o beque Oberdan, que passou boa parte da carreira no banco do Santos. Chegou para acabar com os gols aéreos do principal rival; mais ainda, deslocar o hesitante Tarciso para a ponta direita, fato que o levou à Seleção. 

Telê buscou gente não apenas para titular; segurou o ponta Zequinha, aceitou Alcindo, trouxe o experiente lateral direito Paulo Cesar Martins, indicação de Tadeu (Ricci), testou meninos da base, Leandro e Tia Joana, e pinçou outros do interior gaúcho, como o zagueiro Cassiá. 

 Jorge Antônio Dornelles Carpes ganhou esse apelido na infância. Piá e caçula de seis irmãos, pedia a eles que o levassem: - vamos caciar? referia-se a pardais e juritis. Assim, virou Cassiá até para a vida pública, depois da bola, quando se tornou vereador, deputado estadual e candidato a vice-prefeito de Porto Alegre.

Pois bem, ele era beque do Internacional de São Borja, tinha a braçadeira de capitão e o mesmo porte de Figueroa. Se algum  desavisado visse o alvirrubro de São Borja atuando, poderia confundir com o da capital, pois veria à distância, Figueroa (Cassiá) e Caçapava (o zagueiro Aguiar) pela tremenda semelhança entre eles. Depois da fusão entre o Inter e o Cruzeiro (Associação São Borja), o time fronteiriço veio encarar o Grêmio no Olímpico no dia 04 de Maio. Levou um vareio: 5 a 0, gols de Oberdan (2), Eurico, Alcindo e Tarciso. Para complicar, Cassiá se envolveu em uma confusão com Oberdan e recebeu o cartão vermelho. Era a primeira vez que Telê via o defensor. Tinha tudo para ser uma jornada ruim para o camisa 3 do São Borja. Goleado e expulso.

Telê pensou diferente ante à superficialidade dos fatos, porque passado um mês, 05 de Junho, Cassiá estreava em seu novo clube, o Grêmio Porto-Alegrense, diante do Atlético em Carazinho; desta vez, uma goleada a seu favor (4 a 0).

Nos dois últimos Grenais (18 e 25/09) do Gauchão, com a lesão de Ancheta, cirurgia de menisco, o são-borjense atuou com naturalidade, venceu os dois clássicos e saiu no poster do campeão estadual.

Perguntado se não teve medo daqueles enfrentamentos, respondeu:- Não sei o que é isso. Sou de uma terra, onde as pessoas, se tem que fazer alguma coisa, vão e fazem.

Cassiá foi mais um dos muitos acertos de Telê Santana numa época em que as informações chegavam escassas e cheias de incertezas. Mas o olhar clínico do Mestre se fez presente e mudou o destino do zagueiro.

Fontes:  Revista Placar

               Arquivo pessoal do amigo Alvirubro

               Arquivo Histórico de Santa Maria

               Correio do Povo


4 comentários:

  1. O futebol é mesmo uma caixinha de surpresas.
    Em 1976, o Grêmio formou uma grande equipe e entre janeiro e final de julho só havia perdido dois jogos: Flamengo e Internacional.
    Sob o comando de Foguinho e depois Paulo Lumumba foi acumulando vitórias. Chegou a expressivo número de jogos invicto (29).
    Entretanto, na parte final do Gauchão daquele ano, frente ao Internacional, Paulo Lumumba, o bom técnico gremista, não alcançou o desejo da torcida e da direção: evitar o octacampeonato dos colorados.
    Apesar da derrota, Lumumba permaneceu à frente do time, para iniciar o Brasileiro.
    Teria a chance de refazer o seu trajeto. Começado o campeonato, duas vitórias seguidas e o terceiro jogo do campeonato apareceu na tabela: um GRENAL, no Beira-Rio.
    7 de setembro de 1976, Lumumba x Minelli. Alexandre "Tubarão" colocou o Grêmio em vantagem, mas dez minutos depois do gol, o Grêmio de Lumumba desandou e em 20 minutos sofreu três gols.
    A derrota no clássico serviu para sacar Lumumba do comando técnico do time e trouxe Telê Santana.
    Não há torcedor gremista e colorado que não lembre de Telê Santana. Soube montar, peça a peça, o time que em 1977 destruiu o Internacional.

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  2. Alvi
    Foi uma cirurgia e tanto de 76 para 77; muitos saltaram da "barca" como diria o filósofo D'Alessandro.

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  3. Só um Gênio de verdade pra trazer um zagueiro de um time que foi goleado pelo seu e ainda expulso...

    Acho que o Lúcio, inter e Seleção teve algo parecido pelo Gama, né?

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    1. Isso, Glaucio! Depois de um 7x0 contra o Guará, pela Copa do Brasil de 1997, o Internacional contratou o zagueiro Lucimar, que virou Lúcio, em POA.

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