Pequenas Histórias (50) - Ano 1983
Descobrimento ou Conquista da América?
Essa questão do título é uma discussão interminável
entre os historiadores. O que ocorreu aqui em nosso continente? A chegada da
civilização evoluída ou um grande genocídio? Bom, eu tenho meu posicionamento,
mas aqui o assunto é mais leve e com final feliz.
Há 30 anos, mais exatamente no dia 28 de Julho numa noite gelada tal qual foram
as desta semana no RS, o Imortal Tricolor descobriu e conquistou a América. Foi
um divisor de águas na rivalidade Grenal. Nunca mais o Grêmio ficou aquém em
termos de títulos na comparação com o seu tradicional rival.
Sob a batuta de Hélio Dourado, o Tricolor quebrou a hegemonia vermelha no
âmbito regional e buscou a conquista do seu primeiro campeonato brasileiro.
Grandes e inesquecíveis feitos, porém o Coirmão possuía vários Gauchões e três
Brasileiros. Havia necessidade de superar essas conquistas.
Em nossa Guerra Fria Gaudéria, a corrida não era espacial, mas especial; nós,
gremistas precisávamos chegar a “Lua” antes deles. A “Lua” também respondia
pelo nome de Libertadores da América. Nessa ambição, os vermelhos largaram na
frente, se aproximaram centímetros da Taça em 1980, entretanto, para eles
sobrou o ditado hermano:- La Copa se mira, pero no si toca.
Naquela época, a Libertadores era hiper difícil de ser conquistada, primeiro
porque apenas dois clubes de cada país se habilitavam a disputá-la, o campeão e
o vice, nada do quinto ou sexto do Brasileirão; segundo, porque os jogos eram
versões modernizadas das arenas romanas ou dos faroestes americanos. No final,
sobrava apenas o mocinho, às vezes com seu cavalo. O resto ficava, muitas vezes
tombado ao longo da estrada sinuosa recheada de La Platas, Bomboneras e
Puertos Sajonias, este último, hoje conhecido como Defensores del Chaco.
Na decisão, o Imortal pegou o Campeão do Mundo e evidentemente, campeão da
Libertadores, o Peñarol do Uruguai. No jogo de ida, estádio Centenário, os
visitantes arrancaram um empate que se mostrou vital para a conquista na semana
seguinte. Lendo o que se disse após este “round”, os uruguaios
desprezaram o Tricolor.
Naquela quinta feira gélida, o Imortal entrou nervoso, mas apoiado por 80.000
pessoas no Olímpico Monumental e isso deu resultado logo aos 10 minutos; o
centro-avante Caio se esticou todo para empurrar para as redes uma bola que
veio da esquerda numa combinação perfeita entre Casemiro e Osvaldo.
O Peñarol, matreiro e envolvente teve o domínio de quase toda a primeira etapa.
No segundo tempo, a toada era a mesma e eu temi pelo resultado. As
chances só se apresentavam para o time jalde negro e isso se materializou
aos 25 minutos, o matador Fernando Morena meteu um balaço de cabeça, empatando
o jogo. Crescem as oportunidades para o time charrua; a maior delas, Morena,
sempre ele, encobre Mazaropi e a pelota sobe e toma o rumo das redes. Em cima
da linha, o capitão Hugo De Léon tirou de cabeça (foto). Consuma-se o primeiro
milagre.
Nervosamente, a decisão se encaminhava para um final igual, tudo indicava que o
time da Azenha não chegaria lá; o tão sonhado salto de qualidade parecia que
seria adiado.
Espinosa dá a César o que era de Caio, ou seja, o comando do ataque. Começa a
se desenhar um novo roteiro para aquele drama.
Aos 31 minutos, o jovem Renato, 21 anos incompletos, como um mágico que retira
da cartola sua maior surpresa, da manga, a sua melhor carta; num canto do
campo, de onde nada se espera, ele levanta a bola, rapidamente, dá um balão
para a área. A bola viaja pela parte principal da zona do agrião e quando tudo
parecia perdido, um voo meteórico e certeiro, projeta o corpo de Cesar na
horizontal e uma cabeçada mortal estufa as redes de Fernandez. Goooool!
Depois disso, não há jogo. Venâncio Ramos e Renato são expulsos aos 42 minutos.
Estava conquistado um patamar inédito por um clube sulino. A província jamais
seria a mesma. O Grêmio descobriu a América, não apenas no sentido de novidade,
de algo estranho, mas igualmente de desvelar; chegar ao coração dela e ver que
a sintonia entre ambos, parceria que se inaugurava naquele momento seria para
sempre. O Imortal conquistou a América e ela conquistou os gremistas. A Copa
finalmente fora tocada por um gaúcho. Depois disso, restava confirmar as
palavras de Yuri Gagarin, isto é, que a Terra era Azul. Era apenas
questão de meses.
Abaixo,
o jogo completo:
Legal Bruxo.
ResponderExcluirAbaixo outro bom texto sobre a conquista:
http://impedimento.org/a-maior-de-todas-as-noites/
Não tinha visto esse jogo, ainda.
ResponderExcluirQue dedicação e entrega dos jogadores, não tinha esse toque-toque que vemos no time atual.
O time, de 1983, sabia o que fazer dentro campo, era pegar a bola e ir pro ataque, nada de administrar resultado.
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Dos jogadores:
Como joga o tal de Paulo Roberto o melhor em campo, disparado.
De Leon que baita zagueiro, que baita capitão, mas, no gol do Peñarol a falha foi dele.
Baidek, joga simples, pois sabia das suas limitações.
Achei limitado o jogador Osvaldo.
China joga direitinho, estilo do Baidek, sabe das suas capacidades e defeitos.
O Renato, tem estrela, apesar de muito individualista.
O Tita, nada de especial no meio de campo.
Mazzaropi, entende das coisas de libertadores, malandro que só vendo.
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Da transmissão do jogo:
TV Gaucha é a atual RBS?
E o tal de Galvão, hein, desde aquele tempo tentando adivinhar o que os jogadores falam, ou tentando dar voz aos jogadores durante algum lance, credo, que mania estranha tem esse cara.
E o Ceará como repórter, nem sabia que tinha trabalhado na Globo, o cara tem uma voz inconfundível, assim como o Léo Batista, admiro que possui uma voz que pode ser lembrada para sempre.
Mas, é ruim o tal de Marcio, que comentarista meia-tigela, é o típico que só comenta resultado, parece alguns torcedores. Se o time faz gol tudo está perfeito, mas com resultado adverso tudo vira uma tragédia.
""Julho ação e alegria, férias em tempo global, hehehe.""
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Do campo e das regras:
Não lembrava que naquele tempo o goleiro podia pegar com as mãos uma bola recuada por um companheiro.
Observei que as traves do Olímpico tinham dimensões diferentes, digo o travessão tem um diâmetro maior que as traves laterais.
O campo tava ruinzinho umas horas, hein, era pedaço de grama pra todo lado. Mas, isso tem uma explicação, naqueles tempos o jogador ralava no chão mesmo.
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De forma geral:
Torcida incentivando, tem feito falta nos tempos atuais, o tempo todo (coisa linda de se ver).
O time entregando-se o tempo todo, havia um sentimento de equipe, de comprometimento admirável.
Tinha tanta coisa pra falar durante o jogo, que ao final acabei esquecendo.
Mas me deixo um saudosismo gigante por ser gremista.
Amigos!
ExcluirObrigado pela dica, Guilherme
Marcelo, que baita apanhado. Muito legal ver a análise de alguém que não assistiu o jogo na época.
Na História se costuma dividir a interpretação do fatos em 3: mediata, quando acontece, conjuntural, 10 anos passados e estrutural, 30 anos após. Os olhares são outros. O Osvaldo e o Tita jogavam muita bola, se não estou enganado, o primeiro foi o goleador do Imortal naquela LA e o segundo era o cérebro do time. Só não ficou porque o Flamengo tinha uma cláusula que exigia a sua volta; quando vendeu o Zico, a volta dele se tornou imperiosa. Seria titular fácil, fácil no lugar do Caju em Tóquio. Neste jogo contra o Peñarol, eles não repetiram os bons momentos.
Muito legal o teu comentário, especialmente com relação a turma da imprensa.
Hoje também pela primeira vez vi o jogo completo, sem interrupçao. Já tinha visto os melhores momentos, alguns trechos e etc., mas é a primeira vez que parei para ver todo.
ResponderExcluirSeguindo a linha proposta pelo Marcelo F., algumas consideraçãos:
Dos jogadores:
- Para mim os destaques foram Paulo Roberto, China, De Leon e Tita.
- Achei o Tita um baita jogador, um verdadeiro camisa 10. Pra mim fez um ótimo primeiro tempo, caindo um pouco no segundo.
- No geral dá pra ver que mesmo nos times campeões, há sim alguns jogadores medianos. O Baidek é um exemplo... É por isto que acho que atualmente nos falta UM zagueiro (De Leon da vida) e não dois... Com um acima da média por ali, o companheiro pode ser qualquer um dos nossos. O mesmo vale pro Casemiro..
- Sobre o Renato, apesar de individualista, sabia passar quando necessário... E, se formos pensar friamente, não fosse o individualismo dele talvez o resultado de Tóquio fosse diferente.
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Da transmissão:
Me chamou atenção os repórteres entrevistando os treinadores no meio do jogo e, principalmente, o Mazaroppi em meio ao jogo... E ainda reclamaram dos seguranças... hehe
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Das regras:
- A possibilidade de recuar para o goleiro mudava totalmente o ritmo da partida. Me parece que ninguém dava combate lá perto da área.. E a possibilidade de recuo era um aliado dos zagueiros, já que no "pavor" sabiam que o goleiro poderia pegar com as mãos atrás. Isto provavelmente diminuia e muito alguns erros defensivos..
- Quase não houve impedimentos. Me lembro só de um marcado, no final do jogo.
- Atendimento de jogadores em campo praticamente não existia...
No mais, com relação a torcida, acho que atualmente até ela é mais atuante, por causa da Geral. Mas ali deu pra ver que o estádio inteiro estava "unido". Claro que a favor contava o fato que era uma final de LA e não um jogo qualquer...
Guilherme!
ExcluirHá algumas condicionantes que são específica dos jogos decisivos. Exemplo: Djalma Santos só jogou a final em 58, antes, De Sordi. Aconteceu do Djalma rebentar e ser eleito o melhor da partida.
Em 70, jogo final, o Gérson rebentou.
Nesta decisão de 83, o Paulo Roberto foi um dos melhores, senão o melhor. Já o De León, sempre crescia em decisões.
- O Mazaropi dando entrevista foi uma coisa deste jogo e esperteza do repórter. Não era comum
- Você tem razão; a torcida deu um show, mesmo quando o Peñarol empatou
Pra quem não viu, belos relatos do Koff sobre o ano de 1983.
ResponderExcluirhttp://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/esporte/gremio/noticia/2013/07/fabio-koff-relembra-a-primeira-conquista-da-libertadores-da-america-4214734.html